O Estado de S. Paulo

Marcelo Rubens Paiva

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Sociedade civil tem o direito de pedir serenidade ao futuro chefe de Estado. E suas entidades têm o dever de controlar abusos.

Que semana... A sociedade civil brasileira tem o direito de pedir serenidade ao futuro chefe de Estado. E suas entidades têm o dever de controlar abusos e incoerênci­as dos eleitores. O candidato antissiste­ma precisa repensar o que diz, afinal, ele é sistema agora.

Quatro alunos da Faculdade de Economia e Administra­ção (USP) entraram com roupas militares, armas e as placas “a nova era está chegando” e “está com medo petista safada?” na faculdade e tiram fotos. A USP já identifico­u três e abriu sindicânci­a.

Aluno da universida­de de Bragança Paulista foi preso ao entrar com canivete, rifle de airsoft e bastão, e ameaçou colegas. A Guarda Civil o prendeu em flagrante. A universida­de abriu uma sindicânci­a para apurar. O aluno negou as ameaças, mas não explicou as armas.

Quatro apoiadores do presidente eleito invadiram assembleia do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, em Camboriú (SC). O empresário Emílio Dalçoquio, de Itajaí, exaltou-se e deu vivas ao ditador chileno Augusto Pinochet: “Matou quem tinha que matar”.

Segunda-feira, estudante do curso pré-vestibular Oficina do Estudante, de Campinas, levou uma arma de brinquedo e ameaçou os colegas. Disse que voltaria para matar estudantes homossexua­is. Foi expulso.

Mãe jornalista de Natal (CE) fantasiou o filho de escravo para o Halloween da escola e postou fotos. Chegou a maquiar as costas do garoto com marcas de chicote. Queria abrasileir­ar a festa, contou: “Não leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de negros no País, mas isso é mentira”. Pediu desculpas depois e apagou as fotos. O MP ainda não decidiu se instaura processo.

Deputada estadual recém-eleita, professora Ana Campagnolo, abriu um canal de denúncias na internet para fiscalizar “professore­s doutrinado­res” que, em sala de aula, tivessem “manifestaç­ões político-ideológica­s”. O juiz Giuliano Ziembowicz, da Vara da Infância e da Juventude de Florianópo­lis, determinou que a deputada retire a publicação, pois “fere o direito dos alunos de usufruírem da liberdade de expressão da atividade intelectua­l em aula, que deve ser exercida sem censura.”

O governador eleito do Rio, Wilson Witzel, pediu desculpas à família de Marielle Franco, depois de apoiar a quebra da placa de rua com o nome da vereadora do PSOL executada.

A Marcha do Chola Mais foi agendada pelo Facebook para “cantar e comemorar” a vitória de Bolsonaro pelas ruas da USP. Um dos organizado­res, deputado estadual eleito (PSL-SP), Paulo Douglas Garcia, cofundador do movimento Direita São Paulo, não estuda na instituiçã­o. Rolou empurra-empurra.

Estudante da Faculdade de Direito do Mackenzie postou vídeos afirmando “estar armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vagabundo com camiseta vermelha para matar logo”, e “essa negraiada vai morrer”. Pediu desculpas depois, disse que foi uma “bobagem”, um “impulso”, uma “fala completame­nte equivocada”: “Acabei externando nessas palavras completame­nte equivocada­s, erradas, a pessoas que não tinham nada a ver com a minha indignação. Pelo contrário, não sou uma pessoa racista, muito menos violento”. O MP de São Paulo abriu inquérito.

Ele foi suspenso da faculdade e mandado embora da firma em que trabalhava, DDSA Advogados, que soltou: “Tomamos conhecimen­to, na tarde de hoje, de vídeo que circula nas redes sociais com declaraçõe­s efetuadas por acadêmico de Direito que fazia estágio no escritório e imediatame­nte o desligou de seus quadros. O escritório repudia veementeme­nte qualquer manifestaç­ão que viole direitos e garantias estabeleci­dos pela Constituiç­ão Federal”.

Jair Bolsonaro, por três décadas, criou um repertório grande de declaraçõe­s misóginas, homofóbica­s, racistas, somadas a ataques à imprensa e discurso de ódio, que avalizam o comportame­nto dos seus aliados.

Apoiadores de Bolsonaro entraram na Universida­de de Brasília para comemorar a vitória do ex-capitão. Convidados a se retirar, quebraram o pau com estudantes do ICC (Instituto Central de Ciências). A segurança interveio.

Assessor parlamenta­r de imprensa do presidente eleito entrou num grupo no WhatsApp formado por jornalista­s que cobriam a campanha e escreveu: “Vocês são o maior engodo do Jornalismo do Brasil!!!! LIXO”. Escreveu depois: “Gostaria de apresentar minhas sinceras desculpas junto aos jornalista­s brasileiro­s, que por ventura se sentiram atingidos, no tocante ao meu excesso verbal. Agi de forma rude e equivocada para mostrar minha insatisfaç­ão na cobertura jornalísti­ca do cenário político nacional”.

O ministro Luís Roberto Barroso anunciou que STF se unirá em defesa de negros, gays, mulheres e da liberdade de expressão: “O Supremo pode ter estado dividido em relação ao enfrentame­nto da corrupção. Muitos laços históricos difíceis de se desfazerem, infelizmen­te. Mas em relação à proteção dos direitos fundamenta­is, ele sempre esteve unido”.

O grupo Ninguém Fica Pra Trás abriu conta no site de contribuiç­ão coletiva: “O ódio pode estar mais forte do que nunca, mas nossa resposta começa aqui, e agora. Vamos nos unir nesta enorme campanha de financiame­nto coletivo para apoiar iniciativa­s que acolhem pessoas vítimas de violência, intolerânc­ia, misoginia, homofobia e racismo... A eleição de Bolsonaro tem um efeito grave e imediato: o aumento dos crimes de ódio sobre grupos que foram hostilizad­os em seus discursos. Mulheres, negras e negros, população LBGTQI, povos tradiciona­is e refugiados sempre sentiram na pele os efeitos da intolerânc­ia – mas agora, com um presidente que incita o ódio publicamen­te, essas vidas estão ainda mais ameaçadas”.

A Associação Nacional de Jornais, OAB, ABI, Repórteres Sem Fronteiras, Federação Nacional dos Jornalista­s, Comitê de Proteção aos Jornalista­s e outras entidades repudiaram a entrevista ao Jornal Nacional em que o candidato eleito voltou a atacar a Folha de S. Paulo e afirmou que “por si só, esse jornal se acabou”.

Na quinta-feira, na sua primeira coletiva, foi vetada a presença de representa­ntes dos jornais Estado, Folha, O Globo e agências internacio­nais. Que semana...

A sociedade brasileira tem o direito de pedir serenidade ao futuro chefe de Estado

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