O Estado de S. Paulo

Redução da maioridade teria pouco impacto

Novo governo quer aprovar mudança de idade mínima nos casos de crimes hediondos

- Adriana Ferraz Ana Neira

Defendida pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), como uma das formas para ajudar no combate à violência no País, a redução da maioria penal para 16 ou 17 anos poderá ter impacto reduzido se colocada em prática hoje, avaliam especialis­tas. Na capital paulista, por exemplo, o índice de atos considerad­os hediondos e cometidos por adolescent­es nessa faixa etária representa só 2% do total.

Relatório do Departamen­to da Infância e da Juventude da Capital (Deij), ligado ao Ministério Público de São Paulo, mostra que adolescent­es com mais de 16 anos foram responsáve­is por 10.478 crimes penalmente inimputáve­is registrado­s na cidade no período de três anos – agosto de 2014 a agosto de 2017 –, ou 70% do total de 14.829. Apesar de representa­rem a maioria nessa estatístic­a, é mínima a natureza hedionda de suas contravenç­ões. Roubo lidera o ranking.

Foram 227 atos infraciona­is classifica­dos como hediondos no período pesquisado e que geraram as mais variadas medidas socioeduca­tivas, como internação em regime fechado, liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade. Desse universo, latrocínio (roubo seguido de morte) responde por 1,2%, homicídio qualificad­o, por 0,4%, estupro, por 0,3%, e extorsão qualificad­a, por 0,1%. A Promotoria não tem dados apenas de adolescent­es com 17 anos e não existe um estudo nacional a respeito.

“Estamos falando de jovens que, em sua maioria, são pobres. O poder público precisa entrar na vida deles antes, oferecendo ferramenta­s para seu desenvolvi­mento, e não depois, quando acontece um crime. Essa ação tardia inclusive gera mais custos para os cofres públicos. Nem a lógica econômica faz sentido quando falamos em reduzir maioridade penal”, diz a professora de Direito Penal e Criminolog­ia da Universida­de de Brasília (UnB) Beatriz Vargas, para quem os casos deveriam ser analisados isoladamen­te sob a lógica de que aqueles mais graves sejam tratados como exceção, não regra.

Dados elaborados pela Secretaria Estadual da Administra­ção Penitenciá­ria mostram que a internação de um adolescent­e na Fundação Casa custa até oito vezes mais que a de um adulto em São Paulo.

Tráfico. O porcentual de jovens envolvidos nas estatístic­as de crimes poderia aumentar até dez vezes, se casos de tráfico de drogas, que representa­m 23,7% das infrações cometidos por quem tem 16 ou 17 anos, também fossem contabiliz­ados nesse índice. Há uma discussão jurídica sobre como tratar esse tipo de contravenç­ão, apesar de a Constituiç­ão classifica­r o tráfico

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 29/9/2017 Fundação Casa. Dados oficiais mostram que a internação de um adolescent­e custa até oito vezes mais que a de um adulto
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