A nova diplomacia do dólar
É CORRESPONDENTE EM PARIS
Opresidente iraniano, Hassan Rohani, anda mal-humorado. Rohani, que gosta de explicar suas intenções aos iranianos, anda silencioso e retraído. Importante dizer que o 5 de novembro se aproxima e será um dia negro, quando novas e mais terríveis sanções americanas ao Irã entrarão em vigor, sob o pretexto de que Teerã prossegue secretamente com suas atividades para construir uma bomba atômica, apesar do acordo firmado em 2015, após dez anos de negociações.
Rohani colhia os frutos desse sucesso diplomático, que permitiria ao seu país sair do grande aperto que o sufocava. Mas Donald Trump, desde sua chegada ao governo, vinha trabalhando para demolir esse acordo. Ele denunciou o pacto e restabeleceu as severas sanções que já haviam golpeado duramente o Irã. O país que estava prestes a se reerguer, agora está alquebrado.
O comércio desmorona e a moeda também: o rial teve seu valor dividido por três ou quatro desde o início do ano. Os preços dos produtos explodiram. O desemprego e a pobreza aumentaram. O Irã está perdendo a cabeça. Na segunda-feira, Trump vai apertar um pouco mais o garrote fatal lançando um novo pacote de sanções ainda mais perigosas.
Aparentemente, Trump é o único crítico, pois todos os outros países estão ávidos para retomar um comércio lucrativo com o Irã: Rússia, China, Índia e Europa. Mas a indignação não vai longe. A União Europeia protestou por meio de sua representante no campo da diplomacia. Angela Merkel e Emmanuel Macron gritaram um pouco. A resposta americana foi fulgurante: “Não temos intenção de permitir à Europa ou quem quer que seja que ignorem nossas sanções”.
Numa primeira análise, diríamos que os americanos são loucos. Com que direito ousam estender para países terceiros as novas sanções que Trump, e ele apenas, decidiu impor ao Irã, ao passo que todos os outros signatários do acordo nuclear permanecem ligados pelo pacto? Por que França ou Alemanha deixariam de negociar com o Irã?
A resposta, infelizmente, é simples: as enormes transações com petróleo são feitas em dólar, o que automaticamente submete os interessados às regras ditadas pelo país do dólar. Felizmente, os europeus são espertos e encontraram uma resposta estupenda: um sistema de trocas que permitiria realizar toda operação usando outras moedas que não o dólar. Mas o sistema é tão genial e inteligente que é incompreensível e, provavelmente, inviável.
Os grandes grupos europeus não têm ilusões. Não acreditam no artifício elaborado pela UE e já choram a morte do mercado iraniano. Duas conclusões: a primeira é que a agressividade de Trump é de tal constância que nos perguntamos se o seu real objetivo não é mais ambicioso. Philip Gordon, que trabalhou no governo de Barack Obama, disse: “Com exigências tão radicais é o caso de perguntar se o seu real objetivo não é a mudança do regime em Teerã”.
A segunda observação tem a ver com Trump. Na França e no mundo inteiro, Trump é considerado um palhaço, um idiota, um bufão. Falso. Ele não é idiota, é evidente. Ele mostra em suas ações, por mais desestruturadas que pareçam, uma continuidade e uma direção notáveis. O que nos leva a uma terceira observação: essa diabólica eficácia de Trump é provida e permitida pela força econômico-financeira dos EUA. Como certa vez foi dito por um diplomata: “Senhor, crie uma boa economia e eu vos ofertarei uma boa diplomacia”. A inteligência de Trump, que é inegável, é também a do dólar.