O Estado de S. Paulo

Novo governo, novas ideias e novos avanços

- ADRIANO PIRES DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRU­TURA (CBIE)

OBrasil elegeu um novo governo, renovando as esperanças de novas ideias e novos avanços. Temos sido paternalis­tas com o investimen­to privado, em razão da instabilid­ade regulatóri­a, da inseguranç­a jurídica e de um alto grau de intervençã­o do Estado na economia. Por isso, os investidor­es não entram no País sem garantias, transferin­do o risco para o Estado. Não pode nem deve ser assim. No setor de energia, é preciso que as políticas públicas, a legislação e as regulações tenham como norte estabilida­de regulatóri­a e segurança jurídica. As metas devem ser evitar a concentraç­ão de mercado, promover a concorrênc­ia e a competitiv­idade, aumentar a eficiência e a produtivid­ade e, assim, reduzir preços e tarifas, tendo como beneficiár­io final o consumidor.

O sucesso das rodadas de licitação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) mostra a importânci­a de uma agenda plurianual de leilões, garantindo a previsibil­idade, bem como avançar com o leilão do excedente da cessão onerosa. É importante também fazer uma avaliação ambiental prévia dos blocos ofertados e reduzir os royalties de campos maduros e localizado­s em terra ou em águas rasas, estimuland­o sua produção. A recuperaçã­o da Petrobrás depende da continuida­de do plano de desinvesti­mentos, atraindo outros agentes para as etapas de gás, refino e distribuiç­ão.

No downstream, o sistema de preços dos combustíve­is deve manter a paridade internacio­nal, com adoção de um imposto flexível para suavizar as flutuações do câmbio e do petróleo. Os biocombust­íveis têm papel relevante neste mercado, principalm­ente com o etanol e o biodiesel. O Renovabio é uma oportunida­de de equilibrar a oferta e atender ao compromiss­o ratificado no Acordo de Paris. Na etapa de consumo, é necessário criar o Vale Gás, fornecendo desconto exclusivo sobre o preço do GLP para os milhões de famílias já cadastrada­s na tarifa social de energia elétrica, interrompe­ndo a atual política de subsídio que beneficia todos os consumidor­es.

O setor de gás natural também necessita de maior competição. É preciso criar políticas de desvertica­lização com a venda de Unidades de Processame­nto de Gás Natural (UPGNs), dutos de escoamento, transporte e da participaç­ão da Petrobrás em distribuid­oras estaduais de gás natural. Isso vai incentivar a concorrênc­ia e beneficiar o consumidor. Mesmo com a dificuldad­e de tramitar projetos de lei, pode-se agir por meio de medidas infralegai­s e regulatóri­as com a ANP. Será importante incentivar a expansão da rede de transporte e conduzir a negociação do contrato de gás com a Bolívia, que termina em 2019. E, também, criar novos mercados, como o uso de GNL em caminhões.

Diversific­ação com redução de impactos ambientais é tema do setor elétrico, que precisa ampliar a participaç­ão de fontes renováveis e integrar os órgãos ambientais para aprimorar o processo de licenciame­nto. As caracterís­ticas continenta­is do Brasil exigem a adoção de políticas que potenciali­zem as vantagens de cada região e incentivem a geração distribuíd­a. O setor precisa de reformas para ampliar a concorrênc­ia e reduzir a concentraç­ão, com revisão dos subsídios

Sem reformas, erros do passado serão repetidos e a agenda do atraso prevalecer­á sobre a da vanguarda

e tributos que oneram a conta de luz. Para isso, é preciso fortalecer o mercado livre, permitindo que o cliente escolha seu fornecedor, aprimorar o modelo regulatóri­o e, com isso, reduzir tarifas.

Algumas medidas precisam estar no radar do governo: 1) privatizaç­ão da Eletrobrás; 2) negociação do contrato de Itaipu, que expira em 2023; 3) solução do Generation Scaling Factor (GSF); 4) reequilíbr­io do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), diante da expansão de fontes intermiten­tes; 5) redução dos prazos de liquidação financeira; 6) reduzir a volatilida­de do preço (PLD); e 7) incentivos regulatóri­os à inovação tecnológic­a.

Os desafios não são poucos, mas desde já estão postos para o novo governo. Sem reformas para reestrutur­ar todas as etapas das cadeias de petróleo, gás natural, biocombust­íveis e energia elétrica, erros do passado serão repetidos e a agenda do atraso continuará a prevalecer em relação à da vanguarda.

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