O Estado de S. Paulo

Ipea propõe novo tributo sobre consumo

Proposta é criar o IVA federal, união de PIS/Cofins, Cide e IPI; Estados poderiam aderir ao novo sistema ou manter sua autonomia de cobrança

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

A criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) com adesão opcional para Estados deve ser a prioridade “zero” do governo eleito, defende o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Ernesto Lozardo. Contrário à criação de um tributo sobre movimentaç­ão financeira, nos moldes da CPMF, Lozardo elaborou uma proposta de reforma tributária em conjunto com outros quatro pesquisado­res do órgão, entre eles Adolfo Sachsida e Alexandre Ywata, que têm assessorad­o o economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.

Publicada em setembro passado, em plena campanha eleitoral, a proposta do Ipea foi apresentad­a ao time de Guedes e à Receita Federal. Ele prevê um IVA “dual”, que dará opção aos Estados de aderir ao tributo federal ou de manter sua autonomia de cobrança. Para os pesquisado­res, esse ponto é uma novidade com potencial de reduzir as resistênci­as históricas dos governador­es para a mudança. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o presidente do Ipea diz que é preciso mudar primeiro os impostos sobre consumo e não é hora de mexer na tributação sobre a folha de pagamentos das empresas.

“Não queremos criar uma jabuticaba tributária no Brasil. Vamos fazer o que todo mundo faz. São 170 países que têm o IVA”, diz Lozardo. Para ele, o imposto sobre movimentaç­ão financeira é regressivo – ou seja, a população de menor renda acaba pagando proporcion­almente mais do que os mais ricos. “Estimula o que tínhamos anteriorme­nte, que era um mercado paralelo de cheque para não pagar esse tributo, que seria muito alto. Não vai ser o 0,38% do passado”, alerta ele, lembrando que o clima atual é contrário à volta da CPMF.

Pela proposta do Ipea, a criação do IVA pode ser feita sem a necessidad­e de uma mudança constituci­onal, o que facilita a sua aprovação no Congresso. “O IVA dual tem uma alíquota única, o imposto é cobrado no destino e o intuito é acabar com a guerra fiscal”, explica Lozardo. O novo imposto, incidente sobre consumo, vai fundir PIS/Cofins, Cide e IPI num IVA federal, com alíquota inicialmen­te estimada em 21%. Esse modelo evita a cobrança em cascata de impostos em diferentes etapas da cadeia produtiva. Nos Estados e municípios, seria criado um IVA estadual reunindo ICMS e ISS, com a mesma alíquota, que pode ser complement­ado por um Imposto sobre Vendas a Varejo (IVV).

Liberdade. A ideia é que todos os subsídios e estímulos que Estados e municípios queiram conceder sejam implementa­dos pelo IVV, que teria alíquota máxima de 4% (2% para Estados e 2% para municípios). O importante, neste modelo, na avaliação dos técnicos, é manter o IVA livre de distorções. Para isso, seria feita uma “harmonizaç­ão voluntária” entre os IVAs federal e estadual, garantido liberdade aos Estados para aderir ou não à cobrança da União.

O presidente do Ipea destacou que há Estados que são muito eficientes na sua arrecadaçã­o e certamente não vão querer deixar de ter essa prerrogati­va para se juntar a um IVA nacional. Os próprios Estados arrecadari­am e repassaria­m a parcela que cabe aos municípios, acabando com a complicaçã­o de legislação que envolve o ICMS, principal tributo à disposição dos governador­es. Já os Estados menos desenvolvi­dos, que não têm condições de arrecadar de forma eficiente, vão preferir aderir ao IVA federal, prevê

Lozardo. Nesses casos, a União recolheria o tributo e efetuaria o repasse.

Lozardo ressalta que esse modelo por adesão já existe em alguns países, como China, Índia e Canadá. “É mais democrátic­o, não é impositivo, e gera muito menos atrito político na implementa­ção desse sistema”, diz. Outra vantagem da proposta, na avaliação do presidente do Ipea, é que o tempo de transição para o novo sistema tributário seria menor, de cinco anos.

“Não queremos criar uma jabuticaba tributária no Brasil. Vamos fazer o que todo mundo faz. São 170 países que têm o IVA.” “IVA dual tem uma alíquota única, o imposto é cobrado no destino; intuito é acabar com a guerra fiscal.” Ernesto Lozardo

PRESIDENTE DO IPEA

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 1/6/2016 Vantagens. Lozardo, do Ipea: IVA é boa opção à CPMF, cuja reintroduç­ão é impopular

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