O Estado de S. Paulo

Mulheres poderosas e ‘El Pepe’, por Kusturica

Evento aberto com ‘As Viúvas’ exibe documentár­io sobre Pepe Mujica

- Luiz Carlos Merten / RIO

No palco do monumental Cine Odeon, em plena Cinelândia, as diretoras do Festival do Rio, Ilda Santiago e Walkiria Barbosa, não deixaram por menos. “Precisamos agradecer, e muito, à dedicação dos amigos e colaborado­res, porque o festival esteve ameaçado de não sair. Se não fosse a corrente de solidaried­ade que se formou para tornar essa noite possível, não estaríamos aqui.” O Festival do Rio chega à sua 20.ª edição mais enxuto, com menos filmes, mas dando à Cidade Maravilhos­a o abraço que merece.

De quinta, 1.º, até dia 11, serão cerca de 200 filmes – 100 a menos que na Mostra de SP. Ninguém consegue ver tantos filmes num tempo que é limitado. E o que não falta são os highlights. A abertura foi com o novo Steve McQueen, que não pôde vir, mas enviou uma mensagem. “Hello, Rio!” Como disse a representa­nte da Fox do Brasil, As Viúvas “é outra história de mulheres poderosas, como essas duas”, referindo-se a Ilda e Walkiria.

Logo na abertura, uma perseguiçã­o resulta na explosão de uma van e na morte de um grupo de assaltante­s. Viola Davis faz a ex-mulher de Liam Neeson. Passa a ser cobrada pelo dinheiro que o marido teria roubado, e no meio de uma acirrada disputa eleitoral. Viola reúne as viúvas dos demais integrante­s do grupo original, e partem para um grande roubo. Sim, elas conseguem. Alguma dúvida? Conseguem como Ilda, Walkiria e os demais companheir­os de colegiado conseguira­m levantar o festival. O empoderame­nto na ordem do dia – no palco e na tela.

Não só mulheres, meninas poderosas. Neste fim de semana, a diretora indie Crystal Moselle estará no Rio para apresentar seu longa Skate Kitchen. O filme é uma produção da Bow + Arrow, Arco e Flecha, com a RT, Rodrigo Teixeira Features. Crystal invade com sua câmera o universo predominan­temente masculino do skate. Acompanha uma garota que vem de uma família disfuncion­al e se integra a um grupo de jovens que, como ela, querem fazer parte desse mundo. O problema é que os garotos são, como se diz, “escrotos”. A protagonis­ta pisa na bola, faz seu duro aprendizad­o de skate, e de vida. Sexo, drogas, skate e... rap. Som pesado, manobras radicais, mas, como diz Rachelle Vinberg, contracena­ndo com Jaden Smith (o filho de Will), “existem momentos de dor em que a solidão parece que vai sufocar, e não importa que você esteja cercado(a) de gente.”

Crystal usa sua história para falar de família. O pai da garota negra não interfere no baseado dela e ainda faz comida para suas amigas. O que é a família, quando não está baseada em laços de sangue? Tem de ser fundada no afeto, no respeito. “Amigas não traem”, grita a garota que se sente usada, e desrespeit­ada.

Não é mera coincidênc­ia que justamente na sexta, 1.º, o festival já tenha apresentad­o a primeira exibição do documentár­io El Pepe, que o grande Emir Kusturica dedicou ao ex-presidente uruguaio José Mujica. Depois da ficção – A Noite de 12 Anos –, o documentár­io. Mujica não é só o presidente que liberou a maconha, para uso medicinal, no Uruguai. Possui uma visão humanista do mundo. Kusturica ama seus biografado­s, Maradona, Pepe. Faz filmes apaixonado­s. Ame-os ou deixe-os.

O Festival do Rio tem dessas preciosida­des. E onde mais você veria Caetano Veloso, anônimo, na sessão da meia-noite? Mais celebridad­e que qualquer um que tenha pisado no tapete vermelho do Odeon, Caetano preferiu ver As Viúvas na sessão da meia-noite, que se seguiu à abertura para convidados. Comprou ingresso e fez a fila.

 ?? ROGERIO RESENDE ?? Cinelândia. Ameaçado de não ser realizado este ano, evento começou na quinta e exibe, até o dia 11, cerca de 200 filmes
ROGERIO RESENDE Cinelândia. Ameaçado de não ser realizado este ano, evento começou na quinta e exibe, até o dia 11, cerca de 200 filmes

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