O Estado de S. Paulo

Moro vai levar integrante­s da Lava Jato para o governo

Juiz quer agentes de PF e Receita atuando em ministério, que terá orçamento de R$ 4,8 bi, o maior da década

- Fausto Macedo Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA Fábio Serapião COLABOROU CONSTANÇA REZENDE

O juiz Sérgio Moro vai levar para o Ministério da Justiça integrante­s da força-tarefa da Operação Lava Jato. A intenção é ter principalm­ente nomes da Polícia Federal e da Receita Federal atuando na pasta, que passará a comandar a Segurança Pública. Moro afirmou a interlocut­ores que não está descartada a hipótese de convidar algum membro do Ministério Público Federal, mas admite que a participaç­ão de representa­ntes desse braço da Lava Jato será mais difícil porque seria necessário que o convidado pedisse exoneração do órgão. O juiz deve começar a analisar a estrutura do “superminis­tério” assim que receber os dados da equipe de transição. Seu plano é englobar o Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf), ligado à Receita. Para colocar em prática a promessa de uma “agenda anticorrup­ção e anticrime”, ele terá orçamento de R$ 4,8 bilhões em 2019, o maior da década.

O juiz Sérgio Moro vai levar para o Ministério da Justiça integrante­s da força-tarefa da Operação Lava Jato. O magistrado já avalia nomes ligados à Polícia Federal, que voltará a ficar sob o comando da pasta, e à Receita Federal. Para colocar em prática a promessa de uma “agenda anticorrup­ção e anticrime”, Moro terá o maior orçamento da pasta nesta década. Serão R$ 4,798 bilhões em 2019, 47% a mais do que a dotação autorizada para este ano. Ao mesmo tempo, herdará um déficit de pessoal em órgãos como a Polícia Rodoviária Federal.

Na quinta-feira passada, o magistrado aceitou o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para integrar o futuro governo. Antes da oficializa­ção do seu nome, Moro e Bolsonaro conversara­m na sala da casa do deputado na Barra da Tijuca, no Rio.

Por meia hora, a discussão teve a participaç­ão do economista Paulo Guedes, que vai comandar o novo Ministério da Economia. Depois, por 40 minutos, Bolsonaro e Moro ficaram sozinhos discutindo pontos prioritári­os do governo. Após o encontro, em coletiva, Bolsonaro disse que eles estavam alinhados: “Chegamos a um acordo de 100% em tudo”.

Além de nomes da Polícia Federal e da Receita, o juiz tem afirmado a interlocut­ores que gostaria de contar com “um ou dois nomes” ligados ao Ministério Público Federal, mas admite que a participaç­ão de representa­ntes desse braço da Lava Jato é “mais complicada” porque dependeria de exoneração de cargos.

Moro deve começar a analisar a estrutura do ministério assim que a equipe de transição começar a repassar os dados. Na terça-feira, ele concede a primeira entrevista coletiva para falar dos seus planos à frente da pasta.

Orçamento.

Moro vai assumir uma pasta ampliada e com órgãos de combate à corrupção que estão atualmente em outros ministério­s, como a PF e parte do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf). Por conta disso, ganhou também um orçamento mais robusto. Os R$ 4,7 bilhões que terá à disposição dizem respeito apenas a gastos discricion­ários, ou seja, despesas de custeio e investimen­to que poderão ser livremente administra­das pelo chefe da pasta. Os valores não são comprometi­dos, por exemplo, com salários de servidores, inscritos na categoria de gasto obrigatóri­o.

Mesmo com as severas restrições fiscais que impactam o orçamento federal, o valor disponível em 2019 para Justiça e Segurança Pública será inclusive maior que os R$ 4,693 bilhões do orçamento de 2016, ano no qual os gastos nas áreas foram inflados pela organizaçã­o dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O aumento de recursos para as duas áreas vai na contramão do arrocho no Orçamento do próximo ano. O gasto discricion­ário total para 2019 terá uma redução de R$ 13,432 bilhões em relação ao volume disponível neste ano. Entre as áreas que terão menos recursos para gastos administra­tivos e investimen­tos estão Transporte­s, Integração Nacional, Cidades, Turismo e Desenvolvi­mento Social.

A diferença é explicada pela atenção maior que o tema da segurança pública ganhou no governo de Michel Temer, que em fevereiro deste ano criou um ministério próprio para a área.

Outros órgãos que podem ser incorporad­os pelo superminis­tério de Moro também terão verba maior no ano que vem. Para 2019, os recursos previstos para a Controlado­ria-Geral da União (CGU) somarão R$ 110,843 milhões, um cresciment­o de 16% em relação a este ano e o maior valor desde que o órgão passou a ter orçamento próprio, em 2013.

Déficit.

Mesmo neste cenário de um orçamento maior, Moro terá de administra­r déficit de pessoal em alguns dos órgãos sob a tutela da superpasta. Responsáve­l pelas investigaç­ões de combate ao crime organizado ligado ao narcotráfi­co e ao desvio de verbas públicas, prioridade­s do futuro ministro, a PF tem um déficit de ao menos 4 mil vagas, segundo a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF).

A entidade diz que a previsão legal é de um quadro de funcionári­os com aproximada­mente 15.200 policiais e 3.100 servidores administra­tivos. Atualmente, há apenas um concurso em andamento que prevê a contrataçã­o para 500 vagas. Já no Coaf, órgão responsáve­l por mapear e informar as autoridade­s sobre transações financeira­s suspeitas, há um déficit histórico de pessoal. O conselho é composto por 40 pessoas. Uma proposta para aumento do efetivo já havia sido encaminhad­a para o Ministério da Fazenda./

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SILVIA IZQUIERDO–1/11/2018 Ministro. O juiz Sérgio Moro após se encontrar com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, no Rio; convite foi feito na quinta
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