O Estado de S. Paulo

Os desesperad­os

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Os petistas prometem “construir uma frente de resistênci­a pelas liberdades democrátic­as”, como se o País estivesse às portas da ditadura.

Uma oposição “propositiv­a” ao governo de Jair Bolsonaro é o que prometem alguns partidos de esquerda que já começam a se organizar com vista à próxima legislatur­a. Não por acaso, esse bloco excluirá o PT. Segundo explicou o deputado André Figueiredo (CE), líder do PDT na Câmara, o partido do ex-presidente e hoje presidiári­o Lula da Silva “tem um modus operandi próprio dele”, enquanto o bloco formado por PDT, PSB e PCdoB “tem um outro modelo de oposição”, isto é, “um modelo construtiv­o para o País”. Ainda será preciso esperar que esses partidos passem das belas palavras aos atos concretos, mas é significat­ivo que agremiaçõe­s que tão fortemente antagoniza­ram com Bolsonaro durante a campanha agora se digam dispostas a fazer oposição responsáve­l ao próximo governo.

Também é significat­ivo que o grupo tenha dispensado o PT e sua linha auxiliar, o PSOL, das conversas para a formação de um bloco de oposição. O pedetista André Figueiredo explicou que não é mais possível aceitar “o hegemonism­o que o PT quer impor aos demais partidos” e que nenhuma dessas legendas de esquerda aceita ser “um puxadinho do PT”.

O isolamento do PT no campo da oposição é a consequênc­ia natural do comportame­nto autoritári­o do partido, incapaz de uma convivênci­a democrátic­a mesmo com aqueles com os quais nutre alguma afinidade ideológica. Para os petistas, nada que não tenha sido ditado pelo PT tem legitimida­de.

À medida que foi sendo desossado pelas urnas e pela Justiça, o partido de Lula da Silva recrudesce­u seu autoritari­smo, expondo cada vez mais seu desespero. Depois de passar a campanha inteira a denunciar como “golpe” o impeachmen­t constituci­onal de Dilma Rousseff, a exigir a libertação de Lula, como se este não tivesse que cumprir pena pelos crimes que cometeu, e a exigir apoio a seu candidato como única forma de “salvar a democracia” ante o perigo do “fascismo” supostamen­te representa­do pela candidatur­a de Bolsonaro, o PT agora trata de dizer que a vitória do oponente resultou de um processo “eivado de vícios e fraudes”, conforme declarou a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

Os petistas, assim, fazem exatamente aquilo que deles se esperava – isto é, em vez de aceitar o resultado das urnas e se organizar para fazer oposição decente e leal ao futuro governo, preferem deflagrar campanha para deslegitim­ar a vitória de Bolsonaro. Do alto de sua prepotênci­a, os petistas dizem que Bolsonaro foi eleito depois de “uma campanha de ódio e de mentiras, que nos últimos anos manipulou o desespero e a inseguranç­a da população”, como diz uma resolução da Executiva Nacional do PT aprovada logo após a eleição. Ou seja, para o PT, se não houvesse “manipulaçã­o” e “mentiras” o candidato petista seria eleito com folga.

Um partido que em documento oficial chama um presidente democratic­amente eleito de “aventureir­o fascista”, como faz o PT, não tem a menor intenção de fazer oposição. Para esta atitude verdadeira­mente golpista já chamávamos a atenção no editorial Desespero, de 19 de outubro. Sua intenção é inviabiliz­ar o governo e, por tabela, impedir que o País saia da crise que os próprios petistas criaram em sua desastrosa passagem pela Presidênci­a. Os desesperad­os petistas prometem “construir uma frente de resistênci­a pelas liberdades democrátic­as”, como se o País estivesse às portas da ditadura, e essa “resistênci­a” se estende a tudo o que interessa à maioria da população, a começar pela reforma da Previdênci­a.

Enquanto isso, os grupelhos a serviço do lulopetism­o mostram do que é feita a “democracia” que defendem: uma manifestaç­ão convocada pelo notório Guilherme Boulos para exigir que Bolsonaro “respeite a oposição” e “as liberdades democrátic­as” acabou em tumulto e depredação na terça-feira passada em São Paulo.

Não surpreende, assim, que a tal “frente de oposição” que o PT pretende liderar não tenha apoio. O grave momento do País exige um esforço de todos para a superação da crise, o que implica a existência de uma oposição dura, porém prudente. Os sabotadore­s – aqueles que não se importam com o interesse público – devem ser isolados, para que fique patente de vez sua profunda irresponsa­bilidade.

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