O Estado de S. Paulo

Europeus tentam apressar acordo com o Mercosul

Comércio exterior. Declaraçõe­s da equipe do presidente eleito de que o bloco sul-americano não será prioridade para o novo governo preocupara­m os europeus e deram novo impulso às negociaçõe­s, que já duram quase duas décadas e estão em fase final

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA COLABOROU EDUARDO LAGUNA

Com a vitória de Jair Bolsonaro, a União Europeia tenta fechar acordo comercial com o Mercosul ainda na gestão Temer, segundo o presidente da delegação do Parlamento Europeu para relações com o Mercosul, Francisco Assis. Durante a campanha, Bolsonaro defendeu acertos bilaterais.

O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia – em negociação há quase 20 anos, mas já na reta final – ganhou um novo impulso após as declaraçõe­s da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro de que o bloco sul-americano não será prioridade no novo governo. A intenção, segundo o presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado Francisco Assis, é tentar fechar algum tipo de entendimen­to comercial ainda durante o governo de Michel Temer.

“Estamos preocupado­s”, disse. “Há uma enorme incógnita sobre qual será o futuro do Mercosul e, portanto, sobre como ocorrerá essa relação de negociação com a União Europeia.” Segundo ele, o Mercosul entregou uma proposta aos europeus no dia 24 de outubro. “Haverá uma tentativa por parte da UE de fazer uma contraprop­osta”, disse. A negociação com o Mercosul entrou na pauta da reunião da UE da próxima quarta-feira, com a comissária de comércio Cecília Malmstrom.

O acordo, se confirmado, será o mais importante já assinado pelo bloco europeu. Para levá-lo adiante, no entanto, é preciso vencer resistênci­as dentro da própria União Europeia, já que grupos protecioni­stas fazem pressão para adiar o acordo.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro defendeu acordos bilaterais com países desenvolvi­dos e criticou a política externa dos governos do PT, que deram prioridade a acordos com países africanos, sul-americanos e asiáticos. Na primeira entrevista após o resultado do segundo turno, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a criação do Mercosul foi ideológica e que o bloco não seria prioridade.

Na visão de especialis­tas em relações internacio­nais, a ênfase nos acordos bilaterais pode significar uma mudança na tradição diplomátic­a brasileira do multilater­alismo. “No fundo, isso faz sentido. Um dos motivos que atrapalham o desfecho nas negociaçõe­s por livre comércio entre Mercosul e União Europeia é que quando o Brasil avança, a Argentina recua”, diz Joaquim Racy, professor de economia da PUC-SP.

Na Europa, existem duas preocupaçõ­es com o novo posicionam­ento, que inclui uma aproximaçã­o com os Estados Unidos: a substituiç­ão de produtos europeus por bens americanos, que entrariam no Brasil em melhores condições; e o fim de um equilíbrio geopolític­o na América Latina entre os interesses americanos e europeus.

A última rodada de negociaçõe­s entre Mercosul e UE, em setembro, foi interrompi­da sem que os dois lados chegassem a uma conclusão sobre tarifas para produtos agrícolas e industriai­s, como a carne bovina sul-americana e os laticínios europeus. Procurado, o Itamaraty não se manifestou /

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