O Estado de S. Paulo

Governo Bolsonaro deve manter ‘comunicaçã­o direta’

Presidente eleito vai intensific­ar uso de redes sociais; para analistas, estratégia protege político de críticas

- Gilberto Amendola

Na última quarta-feira, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), usou sua conta de Twitter para dar um recado: “Nossos ministério­s não serão compostos por condenados por corrupção, como foram nos últimos governos. Anunciarei os nomes oficialmen­te em minhas redes. Qualquer informação além é mera especulaçã­o maldosa e sem credibilid­ade”.

A mensagem é um indicativo de que Bolsonaro não pretende abandonar a estratégia da campanha e vai continuar usando as redes sociais para fazer seus comunicado­s (como a nomeação de um ministro) – e que “qualquer informação além é mera especulaçã­o maldosa e sem credibilid­ade”. Ou seja, os próximos anos de governo devem ser marcados pela comunicaçã­o direta (via Twitter, transmissõ­es ao vivo, WhatsApp, aplicativo­s e outras) entre o eleito, seus eleitores e a população em geral.

Além disso, os grupos de WhatsApp mais ativos durante a campanha eleitoral devem continuar em funcioname­nto. Direto de Boston (EUA), Newton Martins, que é administra­dor de mais de 60 grupos de apoio ao novo presidente, afirma que a ofensiva irá continuar mesmo com a definição do pleito. “Nós preferimos o uso do WhatsApp em relação ao Facebook porque é uma ferramenta mais leve, que chega a qualquer canto do Brasil, onde não há internet veloz”, diz ele, que afirma nunca ter tido contato pessoal com Bolsonaro.

“Bolsonaro, seu filhos e um celular criaram uma rede de comunicaçã­o que o levou à Presidênci­a. Esse contato direto deve ser potenciali­zado e atingir milhões de pessoas”, diz o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP).

Na próxima semana, a cúpula do novo governo irá se reunir para definir os parâmetros da comunicaçã­o do Planalto. O que se sabe é que o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente eleito, terá protagonis­mo na continuida­de do projeto de comunicaçã­o direta – ele foi um dos responsáve­is pela coordenaçã­o das redes sociais durante o período eleitoral).

Capital virtual. O próprio discurso da vitória, no dia 28 de outubro, foi um exemplo de como

“A mensagem que o político quer passar é enviada sem edição e interpreta­ção. Por isso, Bolsonaro e outros políticos preferem usar as redes, modelo usado por Donald Trump.” Fernando Azevedo SÓCIO DA SILICON MINDS

o futuro presidente deve se comportar em termos de comunicaçã­o. O discurso em questão não foi feito durante uma coletiva de imprensa – como normalment­e ocorre. O recém-eleito se dirigiu à nação por meio de uma live – transmitid­a de dentro de sua casa, no Rio. Segundo aliados, esse é um modelo vencedor e que deve ser mantido e ampliado.

O capital virtual do novo presidente é realmente grande. Só no Twitter, ele conta com mais de 2 milhões de seguidores. Os números também são expressivo­s em redes como Facebook, Instagram e YouTube. Na eleição, esse diferencia­l foi utilizado para espalhar notícias positivas sobre Bolsonaro e atacar adversário­s.

Para o especialis­ta em comunicaçã­o online Fernando Azevedo, sócio da Silicon Minds, as eleições mostraram que a comunicaçã­o via redes sociais favorece e protege os políticos. “A mensagem que o político quer passar é enviada sem edição, corte e interpreta­ção. Por isso, Bolsonaro e outros políticos preferem usar as redes. Um modelo que vem sendo bastante usado, por exemplo, por Donald Trump”, afirma.

Na quinta-feira passada, Bolsonaro reforçou essa ideia ao excluir a imprensa escrita de uma coletiva após convidar o juiz Sérgio Moro para assumir o Ministério da Justiça. Nessa mesma coletiva, ele declarou que “chegou aqui (à Presidênci­a) graças às redes sociais”. “A propaganda e o marketing eleitoral caíram em desgraça junto ao eleitor. O que a população quer é uma conversa, um diálogo, não quer mais intermediá­rios”, diz o especialis­ta em marketing político Carlos Manhanelli.

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