O Estado de S. Paulo

Para analistas, combate a fake news vai além da eleição

- Marianna Holanda Alessandra Monnerat

As eleições deste ano foram marcadas por desinforma­ção, em grande parte impulsiona­da nas redes sociais. Esta é a avaliação de analistas ouvidos pelo

Estado. O Projeto Comprova, consórcio de 24 veículos brasileiro­s do qual o Estado fez parte, verificou 147 boatos recebidos durante pouco mais de dois meses de eleição. Destes, a esmagadora maioria (91,8%) se mostrou falsa.

O volume de desinforma­ção surpreende­u Claire Wardle, diretora do First Draft, organizaçã­o internacio­nal que deu origem ao Comprova. Ela já havia trabalhado com o fenômeno nas eleições presidenci­ais da França, e agora tem projetos de atuar nos pleitos na Nigéria, Indonésia, Índia, Argentina e Uruguai. “Minha impressão é que, definitiva­mente, havia mais desinforma­ção no cenário brasileiro. Na França, recebemos 660 mensagens do público em nosso site, e no Brasil foram 67 mil mensagens no WhatsApp”, afirmou.

O trabalho dos “checadores” na imprensa começou há alguns anos, em alguns veículos pontuais. Mas, segundo o editor do projeto, Sérgio Lüdtke, se estabelece­u como um fenômeno essencial no jornalismo. Isso porque, explica, a amplitude e o fluxo que a desinforma­ção atingiu com as redes sociais foram enormes neste ano e não devem diminuir.

A maior parte dos rumores checados pelo Comprova era a respeito da chapa petista — o candidato à Presidênci­a Fernando Haddad e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram personagen­s de 41,9% das verificaçõ­es publicadas ao longo do primeiro e segundo turnos. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), também protagoniz­ou muitos rumores na internet — 36% das checagens do Comprova foram sobre ele.

“As mídias sociais catalisara­m o processo de desinforma­ção, mas não se sabe qual o impacto. Ninguém pode afirmar que o novo presidente foi eleito por desinforma­ção”, afirma Ariel Kogan, diretor do IT&E (Instituto Tecnologia e Equidade), uma organizaçã­o que desenvolve projetos na área de tecnologia.

E a desinforma­ção não termina com as eleições. O principal desafio para jornalista­s agora, diz Wardle, é identifica­r os rumores que circulam no WhatsApp e distribuir conteúdo de qualidade dentro da mesma plataforma. Para isso, a participaç­ão do público é fundamenta­l – no Estadão Verifica, por exemplo, leitores podem enviar dicas de checagem pelo número (11) 99263-7900.

Para Kogan, além de iniciativa­s como o Comprova, é necessário educação quanto ao uso das novas mídias. “As pessoas não podem criar, consumir e disseminar desinforma­ção”, afirma.

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