O Estado de S. Paulo

‘Onda antissiste­ma é fenômeno global’

Para Ian Bremmer, presidente da Eurasia, redes sociais ajudam a eleger populistas

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A onda antissiste­ma ao redor do mundo favorece a eleição de populistas e nacionalis­tas no Brasil, EUA, Europa e países da América Latina com a ajuda de uma polarizaçã­o intensific­ada pelas redes sociais. A avaliação é de Ian Bremmer, fundador e presidente da Eurasia Group, consultori­a especializ­ada na análise de riscos políticos globais.

Ao Estado, Bremmer avaliou que a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente do Brasil faz parte desse movimento global que atinge também os países emergentes. “Há um grande descontent­amento com corrupção, serviços públicos e de infraestru­tura precários e o establishm­ent, em termos de governos, Congresso e presidente”, afirma Bremmer, destacando que a maior parte da população brasileira não votaria em Bolsonaro em outras circunstân­cias. “É muito semelhante com o que vimos com o Brexit, Trump e eleições italianas.”

O futuro da onda populista, segundo ele, é temerário. “Como as economias estão indo bem agora, o problema é menor do que poderia ser. Quando a economia global tiver um novo período de baixa, as coisas ficarão bem piores”, afirma.

Questionad­o se o movimento “antissiste­ma” está ligado a uma onda conservado­ra, Bremmer lembra que há eleição de populistas e nacionalis­tas de diferentes espectros políticos no mundo todo. “Não vejo apenas como um movimento conservado­r. Se você olhar ao redor do mundo é mais um movimento anti-establishm­ent. Não como uma questão de direita versus esquerda.”

A eleição de populistas na América Latina aumenta o número de países liderados por políticos considerad­os de direita – com Bolsonaro, Sebastián Piñera, no Chile, Mauricio Macri, na Argentina, Iván Duque, na Colômbia, Mario Benítez, no Paraguai, e Martín Vizcarra, no Peru. Na contramão está o México, onde os eleitores consagrara­m Andrés Manuel López Obrador, um nacionalis­ta de esquerda.

A cooperação entre figuras nacionalis­tas é difícil, diz Bremmer, e coloca em xeque o globalismo. “Será interessan­te ver o quanto vão cooperar. É difícil ver isso funcionar numa escala global. O que torna o modelo chinês mais forte, como um novo modelo, pelo mundo.”

Em abril, Bremmer lançou o livro Us vs. Them: the failure of Globalism (Nós contra eles, a falência do globalismo). Entre os fatores que levaram à eleição de populistas, segundo ele, estão a insatisfaç­ão das classes trabalhado­ras com serviços e infraestru­tura, o cresciment­o do sentimento anti-imigração e a sensação de que ações militares mais machucaram do que ajudaram. “A quarta justificat­iva, que é nova, é o cresciment­o das redes sociais e a conexão entre tecnologia, redes sociais e informação, que tem um impacto enorme na polarizaçã­o política.”

“Estamos falando de companhias privadas que não têm visão de patriotism­o. Eles veem sua responsabi­lidade principal com os seus acionistas”, afirma. Segundo ele, a solução passa pela pressão de acionistas, mas Bremmer não é otimista: “As coisas vão ter que piorar para melhorar.”

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KEITH BEDFORD/REUTERS

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