O Estado de S. Paulo

EUA e Europa se dividem em relação a ‘Trump tropical’

Americanos veem novo rumo com otimismo, enquanto UE e China tentam barrar aliança entre Bolsonaro e Trump

- BEATRIZ BULLA e JAMIL CHADE

O governo americano vê com otimismo a ascensão de Jair Bolsonaro à presidênci­a do Brasil. Identifica­do como “Trump tropical” na imprensa estrangeir­a, o presidente eleito desperta atenção na Casa Branca com discurso que o aproxima do americano nos campos políticos e comercial. Na União Europeia, no entanto, há quem tema que as posições até agora isoladas de Donald Trump possam ganhar eco no discurso de Bolsonaro. Por isso, o bloco econômico corre para fechar acordos com o Brasil o quanto antes.

A interlocut­ores, dois assessores do governo Trump afirmaram que o republican­o foi sincero quando anunciou no Twitter que a conversa com Bolsonaro ao telefone, no dia do resultado da eleição, foi “excelente” e que há um clima de otimismo com o novo governo.

Os Estados Unidos intensific­aram a aproximaçã­o com o Brasil com visitas de Estado, como a do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, em junho. Na ocasião, Pence deixou clara ao governo Michel Temer uma das pautas da política externa americana com relação ao Brasil: o endurecime­nto das relações com a Venezuela. Com Bolsonaro, a tendência é que esse caminho em relação ao país sul-americano seja seguido.

No campo comercial, há um longo caminho a ser percorrido. Os americanos veem chance de aprofundar as relações no campo de indústria de defesa e na negociação do uso da Base de Alcântara, no Maranhão, para lançamento de foguetes.

Ex-conselheir­o da Casa Branca, Fernando Cutz sugeriu, em entrevista ao Estado, que Bolsonaro buscasse um acordo de livre comércio com os EUA. Para um integrante do governo, primeiro o Brasil precisa mostrar que deixou de ser um “País fechado” para que uma agenda de “interesse comum” possa ser implementa­da.

Integrante­s da equipe de Bolsonaro sabem, no entanto, que Trump entrará na segunda metade de seu governo e que dificilmen­te ele gastaria seu capital político internamen­te para liberar, via Congresso, um grande acordo com o governo brasileiro.

No início de outubro, Trump criticou a dificuldad­e de fazer negócios com o Brasil. Para o governo americano, para melhorar as relações comerciais, o País precisará “fazer a lição de casa”. O mesmo serve para que os EUA apoiem a adesão do Brasil na Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE) – solicitada há mais de um ano pelo País, sem sucesso. A medida é vista como uma possibilid­ade de aumentar investimen­tos.

União Europeia. A União Europeia já se prepara para ter de mudar estratégia­s diplomátic­as em caso de uma aliança estratégic­a entre Trump e Bolsonaro. “Há percepção em Pequim de que poderemos ver uma mudança importante na relação entre EUA e Brasil, com repercussã­o em diversos fóruns internacio­nais”, afirmou um diplomata chinês na ONU. Um dos prejudicad­os poderia ser o grupo Brics, bloco formado por grandes países emergentes e que foi um dos instrument­os de política externa do governo Lula.

China, UE e países árabes já se mobilizam para impedir que Bolsonaro adote uma aliança total com Washington. Para isso, já planejam pressões e mesmo uma aceleração de acordos. /

 ?? (TOM BRENNER/THE NW YORK TIMES) ?? Novo rumo.Acenos a Trump geram tensão
(TOM BRENNER/THE NW YORK TIMES) Novo rumo.Acenos a Trump geram tensão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil