O Estado de S. Paulo

Mudança na relação com China tem alto potencial de perdas

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No provável cavalo de pau que o futuro governo de Jair Bolsonaro deve dar nas relações comerciais internacio­nais do País, o risco de um estremecim­ento com a China é o que traz maior potencial de perdas para a economia brasileira. O país é o principal destino das exportaçõe­s brasileira­s, com vendas de US$ 47,2 bilhões só entre janeiro e setembro deste ano. E, embora importe praticamen­te só produtos básicos, o país asiático quer diversific­ar suas compras.

Na próxima semana, será realizada uma megafeira em Xangai cujo objetivo é aumentar as importaçõe­s da China, num esforço de abertura comercial. A ministra conselheir­a para comércio da embaixada da China no Brasil, Xi Xiaoling, disse que o País tem muitos produtos industrial­izados de interesse dos chineses, como os carros flex e alimentos industrial­izados, como o “melhor chocolate do mundo”. Calçados Melissa e sandálias Havaianas fazem grande sucesso entre os chineses. O país vai importar US$ 10 trilhões nos próximos cinco anos.

Mas a parceria estratégic­a entre Brasil e China vai muito além disso. Do ponto de vista brasileiro, o principal ponto de interesse são os investimen­tos. Segundo boletim publicado pelo Ministério do Planejamen­to, a carteira de projetos no Brasil soma US$ 124,5 bilhões, dos quais US$ 54,1 bilhões já foram confirmado­s e US$ 70,4 bilhões são investimen­tos anunciados. Os dois países mantêm um fundo de financiame­nto em comum, que está prestes a aprovar seu primeiro projeto, no valor de US$ 4 bilhões.

Os colaborado­res de Bolsonaro reconhecem que o Brasil não pode prescindir dos investimen­tos e do comércio com a China. E creem que será possível preservá-los, dentro da lógica do novo governo. Um teste ocorrerá esta semana, quando Bolsonaro deverá reunir-se com um integrante da diplomacia chinesa.

Brics. Brasil e China estão juntos, por exemplo, nos Brics, bloco que integram ao lado de Rússia, Índia e África do Sul. Neste ano, o Brasil deve assumir a presidênci­a rotativa do bloco, e também do banco formado com recursos dos sócios. “Nós temos uma relação bem fundamenta­da do ponto de vista político e institucio­nal com a China”, diz a diretora do Centro Brasileiro de Relações Internacio­nais (Cebri), Anna Jaguaribe.

Enquanto a China acena com mais comércio e mais investimen­tos, os EUA vão, de certa forma, na direção contrária. No mês passado, o presidente dos EUA se queixou das dificuldad­es de comércio com o Brasil, o que gerou temores de novas restrições. Para Marcos Troyjo, professor em Columbia e um dos colaborado­res de Bolsonaro, a fala de Trump pode ser entendida como um convite para melhorar as relações. /

“Nós temos uma relação bem fundamenta­da do ponto de vista político e institucio­nal com a China.” Anna Jaguaribe DIRETORA DO CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIO­NAIS (CEBRI)

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