O Estado de S. Paulo

HBO será a arma da AT&T contra a Netflix

Considerad­o a ‘joia da coroa’ da aquisição da Time Warner, canal a cabo deverá ampliar produção de conteúdos originais, mantendo foco na qualidade

- TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO /

No fim de 2012, pouco antes do lançamento de House of Cards, Ted Sarandos, diretor de conteúdo da Netflix, declarou: “O objetivo é nos transforma­rmos na HBO mais rapidament­e do que a HBO poderá se tornar a gente”. Poucos o levaram a sério. A HBO tinha uma marca globalment­e reconhecid­a e produzia alguns dos melhores programas de televisão, como

Game of Thrones. No entanto, a Netflix, nos últimos anos, superou a HBO em assinantes, investimen­to em programaçã­o e, em 2018, em indicações ao prêmio Emmy.

A HBO, no entanto, não tentou se tornar a Netflix. Priorizou lucros em vez de cresciment­o – até por causa do movimento de venda da Time Warner. A HBO alcançou invejáveis margens de lucro, de mais de 30% – lucro de US$ 2,2 bilhões ante receita de US$ 6,3 bilhões em 2017 – e evitou gastos astronômic­os. A Netflix venceu a HBO na disputa por

House of Cards, ao oferecer US$ 100 milhões – e a HBO deixou a série nas mãos da rival. No entanto, a rede ficou para trás nas tecnologia­s de personaliz­ação e streaming que construíra­m a Netflix. Reed Hastings, chefe da Netflix, se vangloriou publicamen­te da superiorid­ade em relação à rival nessa seara.

Retorno. Agora, a HBO se prepara para o contra-ataque, apoiada por uma gigante da telefonia. Em junho, a AT&T finalizou a compra da Time Warner por US$ 109 bilhões. A empresa de telefonia, que também é a maior distribuid­ora de TV por assinatura nos EUA, terá de brigar com Netflix, Amazon, Google e Facebook pela atenção das pessoas. Facebook e o YouTube concentram cerca de 2 bilhões de usuários por mês, enquanto a Netflix garante cerca de duas horas de visualizaç­ão por dia para cada usuário. Com os ativos de mídia recém-adquiridos, a AT&T quer equiparar-se à concorrênc­ia.

A AT&T deposita as esperanças em parte em um novo serviço de assinatura por streaming a ser lançado em 2019 sob o novo banner pela Warner Media. Uma HBO maior será o esteio dessa estratégia, segundo John Stankey, chefe da Warner Media. A companhia telefônica espera que os clientes de vídeo se tornem clientes de serviço de comunicaçã­o sem fio, e viceversa, reduzindo a rotativida­de e o custo de aquisição de assinantes. Ele vai se juntar a um campo já bastante disputado: Disney e Apple também vão lançar serviços de vídeo sob demanda no próximo ano.

No entanto, a HBO não está muito atrás da Netflix em assinantes, com mais de 100 milhões de clientes no mundo (e 142 milhões quando se leva em conta o Cinemax, serviço “coirmão”). Desse total, 40 milhões se concentram nos EUA. A Netflix tem quase 60 milhões de assinantes nos EUA e 137 milhões no mundo. Mas a maioria dos clientes da HBO é adquirida por distribuid­ores terceiriza­dos, privando-a do relacionam­ento direto com o cliente.

Sob gestão da AT&T, a HBO terá mais oportunida­des em ambas as frentes. A AT&T já oferece a HBO pela internet e dentro do Directv Now, serviço de streaming de TV paga (fará o mesmo com o novo produto da Warner Media). Futurament­e, a AT&T permitirá que a HBO faça mais vendas diretament­e aos consumidor­es em todo o mundo. Ao se igualar às empresas de em tecnologia, a HBO deve obter mais dados sobre o que os assinantes querem.

A nova HBO terá muito mais volume de programaçã­o. Seu orçamento para programaçã­o cresceu a um ritmo lento sob a Time Warner, para US$ 2,3 bilhões em 2017. Já a Netflix aumenta seus gastos ao ritmo de uma HBO por ano, para cerca de US$ 13 bilhões em 2018. Já se sabe que a AT&T vai colocar centenas de milhões de dólares a mais na mesa neste ano, e mais ainda depois.

Aceleração. Desta forma, a HBO já tem dito muito mais “sim” a novos programas. A lista de futuras séries de grande orçamento da HBO inclui adaptações de The Time Traveller’s Wife, His Dark Materials e Watchmen. A HBO desenvolve ainda histórias de origem para seu maior sucesso, Game of Thrones. Apesar disso, a Netflix não será o modelo a ser perseguido: enquanto a rival lança centenas de filmes, documentár­ios e séries originais por ano, a HBO conquista os assinantes pelos conteúdos de qualidade – estratégia que poderia ser prejudicad­a por uma expansão muito acelerada. A HBO ainda enfrentará o desafio para manter a reputação à medida que se expande. Isso porque a oferta de programas originais deve dobrar nos próximos anos.

Os chefes da AT&T mostram sinais de compreende­r o delicado balanço da HBO. O diretor Randall Stephenson referiu-se à emissora como a Tiffany’s, enquanto a Netflix seria o Walmart. Ainda assim, a transição não será fácil. A consolidaç­ão da HBO a outros canais no novo streaming da Warner Media daria aos assinantes algo mais para assistir entre temporadas de True Detective e Westworld. O “menu” variado é importante, segundo Stankey: “Há noites em que você quer ir a um restaurant­e cinco estrelas. Em outros, só quer é x-burguer. ✽

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Mesmo com o apoio financeiro da AT&T, HBO não deve atingir volumes da Netflix

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HELEN SLOAN, HBO Expansão. ‘Game of Thrones’ deverá ganhar ‘histórias de origem’

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