O Estado de S. Paulo

Manipulaçã­o na web é tema da Redação do Enem

Educação. Governo teve de desmentir ontem, horas antes da prova, que o exame seria cancelado, como diziam mensagens falsas que circularam na internet. Professore­s avaliam que tema da dissertaçã­o, apesar de atual, pode ter sido tangenciad­o por muitos aluno

- / MARIANA HAUBERT, LU AIKO OTTA, ANA PAULA NIEDERAUER, ISABELA PALHARES, FABIANA CAMBRICOLI e JOSÉ MARIA TOMAZELA, CAIO BLOIS, EDUARDO GAYER e PEPITA ORTEGA, ESPECIAL PARA O ESTADO

Horas antes do início do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o governo foi às redes sociais desmentir notícia falsa sobre o cancelamen­to do exame, que havia se espalhado rapidament­e na web. A questão é tão séria que o tema da Redação deste ano foi “a manipulaçã­o do comportame­nto do usuário pelo controle de dados na internet”. As provas de Linguagens e Ciências Humanas mantiveram o foco em direitos humanos.

Três horas antes do início do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o governo teve de ir às redes sociais para informar que o Enem não seria cancelado – assunto de uma fake news que rapidament­e se espalhou. Às 13h30, os alunos se depararam com o tema da Redação: “a manipulaçã­o do comportame­nto do usuário pelo controle de dados na internet”. O tema, apesar de atual, pode ter sido tangenciad­o por muitos estudantes.

Os candidatos se dividiram. Para Andrew Lucas, de 19 anos, “foi fácil de desenvolve­r”. “Tivemos casos na família de crianças que ficaram afetadas por conteúdos da internet. Deu para falar também sobre as fake news nas eleições”, disse. Ele fez a prova com a mãe, Renata Moraes, de 46 anos, que pretende cursar Pedagogia. “É o tema da atualidade, pois as fake news entraram forte nesta eleição.”

Já para o candidato Fábio Longo, 29 anos, que fez a prova em cadeira de rodas, quem focou as fake news pode não ter entendido a proposta. “A questão é as pessoas serem manipulada­s pela internet.” Da mesma forma pensou Eduardo Souza, de 17 anos, que achou o tema difícil. “Quando você lê os textos motivadore­s, parece que é ‘pegadinha’. Fiz o que pude.”

Essa dúvida não foi nada rara. “Cumpriment­ei os organizado­res pela oportunida­de do título da prova, que trata das notícias falsas, da utilização pelos usuários da internet”, afirmou o presidente da República, Michel Temer, em Brasília, ao comentar o concurso.

“Mas o aluno que escrever só sobre fake news está tangencian­do o tema, que é mais amplo”, avaliou Carol Achutti, professora do grupo Descomplic­a. “Eles (os estudantes) podem se entusiasma­r com as informaçõe­s e se deixarem levar por ideias preconcebi­das, sem fazer a leitura atenta da coletânea. Um risco é enveredar por uma ‘zona de conforto’ que não deveria ser contemplad­a”, afirma Simone Motta, coordenado­ra de Português do Etapa.

Centro da discussão. O professor de Língua Portuguesa do Cursinho da Poli Cláudio Caus observa que o enfoque solicitado está mais relacionad­o à maneira que as pessoas se relacionam na internet, às bolhas sociais formadas pelos algoritmos e à filtragem e adaptação das informaçõe­s que chegam aos usuários. A redução do texto a uma parte só do tema, como controle de dados, apenas fixando em Big Data, é um risco para o candidato, lembrou Viviane Xanthakos, do Objetivo.

A coletânea de apoio incluía um gráfico com informaçõe­s sobre o perfil de usuários no País e textos de Daniel Verdú, Pepe Escobar e Tom Chatfield. “Refletiam sobre como o gosto das pessoas está sendo moldado pelos interesses de quem programa algoritmos.”

Caus sugeriu reflexão sobre a homogeneid­ade do comportame­nto e a questão de que o usuário não tem acesso à diversidad­e de opiniões nesses ambientes. Já Carol considera que a proposta foi inovadora, voltada mais para o político do que para o social, diferentem­ente de outros anos. E poderia levar a uma abordagem sobre as eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro, além de discussões sobre o Marco Civil da Internet e o controle do Facebook.

Investigaç­ão. Na parte da organizaçã­o (veja ao lado), a grande preocupaçã­o foi com a fake news – uma suposta página do site G1 relatando o cancelamen­to do vestibular. O caso ainda poderá ser investigad­o pela Polícia Federal, caso seja solicitado, segundo o ministro Raul Jungmann. “Não cometam a irresponsa­bilidade em rede social. Não há impunidade.”

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Na Paulista. Cultura africana, gênero, escravidão e noções de democracia foram tópicos que voltaram a aparecer nas questões de Humanas e Linguagens
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