O Estado de S. Paulo

Última colônia decide se manter na França

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

A população da última colônia da França no mundo, a Nova Caledônia, decidiu ontem por referendo permanecer sob a tutela do país e recusar a independên­cia. Em um resultado mais apertado do que o previsto, os unionistas venceram por 56,4% dos votos, contra 43,6% dos indepedent­istas, com 80,6% de participaç­ão do eleitorado. Embora não tenha feito campanha em favor da manutenção do atual status do arquipélag­o situado na Oceania, a vitória francesa foi celebrada pelo presidente Emmanuel Macron.

O referendo foi a primeira votação popular sobre o assunto desde 1998, quando um acordo nacional sobre a autodeterm­inação da Nova Caledônia foi aprovado. Mais de 138 mil eleitores se manifestar­am, e a vitória do “Não” à independên­cia não foi contestada pelos independen­tistas. Mas, por trás do resultado geral, a divisão da província ficou clara entre um sul rico e populoso, e com maior desigualda­de social, onde 73,7% dos eleitores foram contra a independên­cia. No norte, a população votou a favor da ruptura com Paris, com 75,8% de apoio. Nessa região vive a população melanésia, autóctone, que tende mais à independên­cia.

Em um pronunciam­ento oficial sobre o tema, Macron agradeceu a confiança da população local, afirmando ser uma honra para os franceses terem sido escolhidos pelos habitantes locais. “O único vencedor é o processo de paz que se desenrola na nova Caledônia há 30 anos, e seu espírito de diálogo”, afirmou, reiterando: “Não há outro caminho além do diálogo”.

A ideia de Paris é não marginaliz­ar a população que votou pela independên­cia, e sim integrála no processo político que se seguirá ao referendo. Hoje o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, deve visitar a capital, Nouméa, para encontrar-se com líderes políticos de diferentes partidos e movimentos, inclusive o Partido Trabalhist­a e a União Sindical dos Trabalhado­res Kanak e Explorados (USTKE), independen­tistas que apelaram ao boicote da votação, sem grande sucesso.

A votação de ontem é apenas a primeira de uma série de três definidas no acordo de autodeterm­inação. Outros dois referendos acontecerã­o em 2020 e 2022, o que dá esperança aos líderes independen­tistas. “Para nós foi um resultado inesperado e um sucesso. Mostra que nosso povo está amadurecid­o politicame­nte”, disse Louis Mapou, líder da Frente de Liberação Nacional Kanak e Socialista (FKNKS). “Cabe a nós apresentar propostas, e nos levar a vitória no próximo referendo.”

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