‘Não se pode criminalizar a relação público/privada’
Há um ano na iniciativa privada, Valdir Simão, sócio do escritório Warde Advogados, não vê as instituições ameaçadas nem o risco de a Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobrás, ficar comprometida com a troca de governo. Simão, que coordena a área de leniência e compliance da banca paulista desde novembro do ano passado, não acredita em uma mudança de postura do governo em relação às atuais investigações em curso. “As empresas estão se preparando para ficarem impermeáveis à corrupção”, disse. Formado em direito, Simão passou boa parte de sua carreira no governo. Com 58 anos, é auditor aposentado da Receita Federal, foi ministro do Planejamento e ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU, hoje Ministério da Transparência) do governo Dilma Rousseff. O advogado participou da regulamentação da Lei Anticorrupção, que permitiu a assinatura de acordos de leniência entre empresa e CGU e agora está do outro lado do balcão.
As investigações contra corrupção devem ficar comprometidas com a troca de governo?
A Operação Lava Jato tem sua dinâmica própria e não acredito em mudanças que fragilizem as instituições em qualquer esfera. A Polícia Federal e os Ministérios Públicos são bem instrumentalizados. Com o Congresso e o Poder Executivo renovados, não vejo nenhuma ameaça às instituições e às investigações em curso.
Podemos dizer que a relação das empresas com o setor público não é mais a mesma?
Os empresários querem virar a página e os grupos estão se preparando para ficarem impermeáveis à corrupção.
O que não quer dizer que as empresas mudaram totalmente seu comportamento e não praticam irregularidades...
Há um movimento genuíno das empresas para implementar os programas de integridade. Olhando para frente, não estou dizendo que a corrupção vai ser eliminada totalmente, mas temos hoje maior transparência e instrumentos para se identificar e punir ilícitos.
Os grupos envolvidos em casos recentes de corrupção vão voltar a operar obras públicas?
As empresas que reconheceram seus erros e firmaram acordos de leniência precisam ser reinseridas nos contratos públicos. E esse movimento empresarial em direção à integridade deve ser acompanhado de um esforço dos governos em modernizar a máquina pública, simplificar procedimentos e melhorar o ambiente de negócios. Não se pode criminalizar a relação público/privada.