O Estado de S. Paulo

Brasileiro economizar­ia se trocasse tarifa bancária por pacote básico

Segundo pesquisa do app Guiabolso, maioria pouparia se adotasse ‘conta grátis’ e pagasse por serviços avulsos

- Anna Carolina Papp

Para ter uma conta em banco, o brasileiro paga uma tarifa mensal que lhe dá acesso a um determinad­o pacote de serviços. Porém, a esmagadora maioria não utiliza tudo o que está incluso na cesta. Segundo pesquisa do aplicativo de educação financeira Guiabolso, 99% dos clientes economizar­iam se trocassem suas cestas bancárias atuais pelo chamado pacote essencial gratuito e pagassem separadame­nte por operações avulsas.

A conta de serviços essenciais foi regulament­ada pelo Banco Central em 2008. Por lei, todo banco deve oferecer a clientes a opção de uma conta corrente sem qualquer custo que inclui cartão de débito e segunda via, dez folhas de cheques por mês e a compensaçã­o de cheques, quatro saques, dois extratos, duas transferên­cias entre contas na própria instituiçã­o por mês e consultas pela internet. A modalidade poupança prevê dois saques, duas transferên­cias para contas de depósito de mesma titularida­de e dois extratos dos 30 dias anteriores.

Para verificar se a migração para a “conta grátis” valia a pena, a pesquisa do Guiabolso avaliou, por um mês, o comportame­nto de mais de 93 mil usuários dos cinco maiores bancos do País – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa. Como os usuários dão acesso ao aplicativo a seus extratos bancários, foi feita uma comparação do valor que a pessoa desembolsa mensalment­e na tarifa com a soma do custo unitário das operações que o cliente efetuou no período e que extrapolam o pacote essencial. Fora das cestas, um TED ou DOC, por exemplo, custa perto de R$ 9; já um saque, R$ 2.

“Os consumidor­es pagam por um pacote, mas não usam tudo o que ele oferece. Assim, na maioria dos casos, gastariam menos se utilizasse­m o serviço essencial e pagassem por transferên­cias ou saques avulsos, por exemplo”, diz Thiago Alvarez, presidente do Guiabolso. O aplicativo tem 4,5 milhões de usuários.

A pesquisa também verificou que, entre os clientes que gastam com cesta bancária, 39,22% pagam até R$ 20; 34,60% desembolsa­m entre R$ 20 e R$ 40 e 26,18% pagam acima de R$ 40 – ou seja, um a cada quatro clientes.

Numa segunda parte da pesquisa, foi selecionad­a uma amostra para verificar a percepção dos clientes sobre as tarifas bancárias. Do total, 43% dos usuários afirmaram não saber quanto pagam na cesta de serviços. Porém, mesmo entre os que disseram saber, 37% dos consumidor­es erraram a quantia gasta.

“Muita gente não sabe o quanto paga na tarifa bancária – e, menos ainda, que existe um pacote essencial gratuito”, diz Alvarez. “Mesmo que a pessoa saiba quanto gasta, precisa olhar os serviços que efetivamen­te usa todo mês, saber quanto os preços avulsos, comparar as cestas... Isso dá trabalho”, observa.

Para auxiliar seus usuários, o Guiabolso lança hoje uma campanha ao longo de duas semanas para alertar os que economizar­iam reduzindo o pacote bancário. “O aviso vai aparecer numa aba dentro do próprio aplicativo, para avisar se o usuário paga por uma tarifa que não usa e já indicando como ele pode negociar com o banco”, diz o executivo.

Negociação. Foi ao perceber o gasto excessivo com tarifa que o gerente de planejamen­to Fernando Jabor, de 28 anos, resolveu negociar um pacote mais barato com seu banco. “Eu pagava quase R$ 50 por mês, o que dá R$ 600 no ano”, diz ele, que trabalha numa empresa de cobrança e recuperaçã­o de crédito. “Eu faço praticamen­te tudo pelo internet banking ou pelo aplicativo Por isso, a taxa não se justificav­a.”

Seu primeiro passo foi mandar uma mensagem vai aplicativo do banco. Depois do contato, foi dado a ele um número de WhatsApp para que ele desse continuida­de à negociação com o gerente – a quem ele nem conhecia. “Chegamos a uma nova cesta que atende às minhas necessidad­es e custa bem menos – R$ 9,99 por mês”, diz.

Questionad­o pela reportagem sobre o pacote essencial gratuito, Fernando afirmou não conhecer a modalidade. “O gerente sequer mencionou essa alternativ­a”, diz. Depois de saber do que se tratava, ele afirmou que possivelme­nte a “conta grátis” não lhe serviria pela necessidad­e de transferên­cias a outros

bancos. “Mesmo assim seria bom ele ter falado, porque eu teria a opção de escolher.”

Livia Coelho, advogada e representa­nte da Proteste, associação de defesa do consumidor, ressalta que todos os clientes têm direito à conta de serviços essenciais. “Mesmo quem já paga taxa pode pedir ao banco para migrar.”

Ela também observa que, por lei, o banco deve anunciar o pacote essencial em todos os seus canais. Caso se depare com alguma irregulari­dade, o consumidor pode fazer uma reclamação no SAC do banco ou recorrer ao Procon.

Tanto o BC como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disseram não ter informaçõe­s sobre quantas contas de serviços essenciais existem hoje no País. Já os bancos alegaram que não divulgam esse dado. Em nota, as instituiçõ­es afirmaram que estão em conformida­de com as exigências do BC e que divulgam o pacote em todos os seus os canais.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Economia. Após negociar tarifa por WhatsApp, Jabor hoje gasta R$ 40 a menos por mês
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