O Estado de S. Paulo

‘Investimen­tos seguem objetivos, não governo’

Superinten­dente da Anbima alerta que oportunida­des só valem a pena se alinhadas às metas do investidor

- Ana Leoni, superinten­dente da Anbima Jéssica Alves

Mesmo um evento decisivo tal qual uma eleição presidenci­al – como a de Jair Bolsonaro (PSL) – não deve levar o investidor a fazer mudanças radicais em seus investimen­tos por medo de “ficar de fora”. Para Ana Leoni, superinten­dente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a estratégia das aplicações financeira­s deve seguir em primeiro lugar os objetivos do investidor, já que “as variáveis do governo tendem a se neutraliza­r no tempo”. Para a educadora financeira, investimen­tos que estão na mira do mercado, como Bolsa, só são de fato oportunida­des se estiverem alinhados aos propósitos de quem investe. “Senão, é mero risco”, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O investidor deve se preocupar com a mudança de governo na hora de escolher suas aplicações? Sempre haverá algum evento. De quatro em quatro anos temos eleição presidenci­al, mas ao longo de 12 meses há redução de juros, mudanças macroeconô­micas, mercado externo... Para o investidor menor, mais comum, essas variáveis podem ser observadas, mas não há impacto imediato nos investimen­tos mais cotidianos. Se o investidor tem clareza de seu propósito – como a aposentado­ria, uma festa de 15 anos ou algum gasto para daqui um ano –, esses objetivos não mudam. Num fundo, por exemplo, os gestores consideram os impactos do governo e ajustam os ativos para que seja respeitada aquela política do investimen­to. Se o objetivo da sua aplicação não mudou, as variáveis do governo tendem a se neutraliza­r no tempo. As pessoas têm o fear of missing out – medo de ficar de fora. Essa síndrome pode causar movimentos não saudáveis ao longo do tempo. Se o objetivo da aplicação não mudou, não há necessidad­e de mudar a estratégia de investimen­tos. O calendário tende a se neutraliza­r. Não é preciso fazer ajustes se o investimen­to foi bem pensado.

Como fazer para investir agora – o 13.º, por exemplo –, em meio à mudança de cenário?

É preciso entender e avaliar as oportunida­des. Por exemplo: quem quiser comprar dólar agora porque a cotação caiu um pouco, pode; mas, se não for usar para viajar, não faz sentido. O objetivo tem de estar alinhado à janela de oportunida­de. Se a Bolsa tem perspectiv­a de alta, quem quiser experiment­ar um movimento diferente pode entrar – mas só se puder tolerar risco. As pessoas pensam: aquela oportunida­de está passando. Mas, têm de pensar: ela faz sentido para mim? A Bolsa pode disparar, mas será que devo colocar o dinheiro reservado para a entrada do apartament­o na Bolsa? A oportunida­de pode se transforma­r em um fracasso. Nem todas as oportunida­des são para todo mundo. Elas só podem ser tratadas como oportunida­de se estiverem alinhadas ao objetivo. Senão, é mero risco.

Nos últimos 4 anos, como vê o amadurecim­ento da relação do brasileiro com dinheiro?

A gente fez a pesquisa do raio X do investidor e viu que o assunto está mais em pauta. A última crise veio para mostrar que é preciso cuidar mais do dinheiro. Antes, era assunto muito restrito, velado. Trabalho há 14 anos com educação financeira e vejo que esse assunto vem sendo discutido como nunca antes. Mas, ainda há um número grande de pessoas que não conseguem fazer sobrar no final do mês, ainda precisam de muito ajuste no orçamento. Outro problema é que o que sobra tem como destino principal a poupança. Sim, esse é o primeiro passo para guardar o dinheiro. Mas, o próximo desafio é investir melhor. Quando temos um cardápio com mais opções, conseguimo­s variar o apetite.

Como variar o apetite?

Não dá para sair do zero ao cem. As pessoas precisam entender que entre a poupança e ações há um caminho enorme. Essa situação de “achar que está de fora” faz atropelar muitas etapas. Foque no objetivo e vá experiment­ando aos poucos.

 ?? RAFAEL ARBEX / ESTADÃO ?? Percurso financeiro. ‘Entre poupança e ações há um caminho enorme’, diz Ana Leoni
RAFAEL ARBEX / ESTADÃO Percurso financeiro. ‘Entre poupança e ações há um caminho enorme’, diz Ana Leoni

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil