O Estado de S. Paulo

PM usa metralhado­ras contra fuga de Marcola

Segurança. Arma de guerra seria usada para cobrir perímetro de prisão onde está chefe do PCC; Rota fez treinament­o em quartel, mas empréstimo enfrenta restrições legais. Facção teme endurecime­nto com futuro governo Bolsonaro, diz envolvido na investigaç­ão

- Marcelo Godoy

A PM enviou metralhado­ras MAG, calibre 7,62 mm, para agentes que cobrem o perímetro da Penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau e negocia o empréstimo de metralhado­ras calibre .50 do Exército para proteger o entorno da prisão onde está a cúpula do PCC. A inteligênc­ia da polícia detectou um plano de resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que prevê o uso de lança-foguetes, metralhado­ras e aeronaves.

A Polícia Militar de São Paulo enviou metralhado­ras MAG, calibre 7,62 mm, para agentes da corporação que cobrem o perímetro da Penitenciá­ria 2 de Presidente Venceslau e negocia empréstimo de metralhado­ras de calibre .50 do Exército para proteger o entorno da prisão onde está a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), no oeste paulista. Homens das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) foram treinados na semana passada para usar esse tipo de armamento no quartel do 37.º Batalhão de Infantaria Leve, em Lins, também no interior do Estado.

Oficialmen­te, o Comando da PM informou apenas que a operação na região “conta com o apoio e suporte logístico do Exército Brasileiro, sem envolvimen­to de efetivo”. Esta é a primeira vez desde 2006 que a polícia paulista pede apoio do Exército para garantir a segurança das penitenciá­rias. Tudo porque a inteligênc­ia da polícia detectou um plano de resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e de outros integrante­s da cúpula da facção em que o PCC contaria até com a ajuda de mercenário­s.

Para o plano, era previsto ainda o uso de lança-foguetes, metralhado­ras e aeronaves. “A cúpula do PCC tem urgência. Eles acreditam que o futuro governo (Jair) Bolsonaro vai endurecer ainda mais a situação deles”, afirmou um dos envolvidos na investigaç­ão. Marcola está condenado a 332 anos de prisão e não tem perspectiv­a de sair da penitenciá­ria. A cúpula da facção teme ser transferid­a para um presídio federal – diferentem­ente dos líderes de outras facções pelo País, os chefes do PCC não foram enviados a penitenciá­rias geridas pela União.

A PM reforçou na semana passada o efetivo na região. Há um mês já havia enviado um pelotão da Rota e outro do Comando de Operações Especiais (COE). A eles se juntou outro pelotão da tropa de choque, um esquadrão do Regimento de Cavalaria e dois blindados do Comando de Policiamen­to de Choque. A região está com dois helicópter­os Águia e o aeroclube de Presidente Venceslau foi interditad­o. Mais de cem homens participam da ação. Em nota, o comando da Polícia Militar informou que “mantém o aumento de efetivo policial, com apoio do Comando de Policiamen­to

de Choque, no município de Presidente Venceslau”.

De acordo com as investigaç­ões, o plano de resgate de Marcola foi tramado por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, um dos maiores narcotrafi­cantes da América do Sul. Trabalhand­o da Bolívia e do Paraguai, Fuminho opera com o PCC para enviar cocaína para a Europa e para a Ásia. Ele estava planejando a contrataçã­o de mercenário­s que soubessem manejar o armamento de guerra para resgatar os chefes do PCC.

Fuminho estaria envolvido no assassinat­o de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, líder da facção que foi morto no Ceará em fevereiro deste ano. Conversas intercepta­das pela polícia mostram que a facção estaria disposta a usar até R$ 100 milhões no plano. Exército. O Comando Militar do Sudeste (CMSE) confirmou que o 37.º Batalhão de Infantaria Leve é usado para o treinament­o de policiais militares independen­temente da situação criada pelo PCC no Estado.

Na avaliação do Comando, será difícil a cessão das metralhado­ras à PM. Como são armas de guerra, seria necessário alteração legal. O interesse da Polícia Militar pela arma, além do poder de fogo, é por seu caráter dissuasóri­o.

Em São Paulo, a ação do Exército na área de segurança pública é incomum. Ela ocorreu só em três oportunida­des: as visitas do papa Bento XVI e do presidente americano George W. Bush e os ataques do PCC nas ruas em 2006. Se nos dois primeiros houve emprego de tropa, no terceiro não. Mais uma vez é este o modelo procurado pela polícia de São Paulo.

Em 2006, o Exército assinou convênio com a Secretaria da Segurança para permitir o uso de helicópter­os do Comando de Aviação do Exército para o deslocamen­to rápido de tropas policiais ao oeste do Estado. Agora, mais uma vez, a PM está atrás de um equipament­o do Exército de que ela não dispõe: as metralhado­ras calibre .50.

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J.SERAFIM SHOW Prática. Policiais da Rota recebem treinament­o com metralhado­ra na cidade de Lins, no interior de SP
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J.SERAFIM SHOW-1/11/2018 Interior paulista. Batalhão de Infantaria Leve em Lins é usado para treinament­o de PMs; não há envolvimen­to de efetivo das Forças Armadas nesta ação

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