O Estado de S. Paulo

Moro sai de férias e se compara a juiz italiano

Magistrado, que se exonera em janeiro, diz que vai seguir passos de Giovanni Falcone

- Julia Affonso Fausto Macedo Ricardo Brandt / JÚLIO CÉSAR LIMA, ESPECIAL PARA O ESTADO

Em mensagem aos colegas juízes, o futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que pretende seguir os passos do juiz italiano Giovanni Falcone, da Operação Mãos Limpas. Moro saiu de férias e vai pedir exoneração em janeiro.

O juiz federal Sérgio Moro encaminhou ontem ao corregedor regional da Justiça Federal da 4.ª Região, desembarga­dor federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira, um ofício no qual informa que está saindo de férias e diz que pretende pedir sua exoneração em janeiro, “logo antes da posse do novo cargo”. Moro aceitou o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para assumir o Ministério da Justiça. Em outra mensagem, direcionad­a aos colegas, via intranet, o juiz diz que pretende seguir os passos do juiz italiano Giovanni Falcone, da Operação Mãos Limpas – assassinad­o pela máfia do país europeu em 1992.

“Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que eu, que depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nostra, decidiu trocar Palermo por Roma, deixou a toga e assumiu o cargo de Diretor de Assuntos Penais no Ministério da Justiça, onde fez grande diferença mesmo em pouco tempo. Se tiver sorte, poderei fazer algo também importante”, escreveu Moro aos colegas.

Falcone integrou a Mãos Limpas, que inspirou Moro nas investigaç­ões da Operação Lava Jato. Em 23 de maio de 1992, o juiz italiano, sua mulher, Francesca Morvillo, e três membros da escolta foram mortos na explosão de uma bomba instalada na rodovia siciliana de Capaci, perto do aeroporto de Palermo.

Moro assume em janeiro o comando da pasta, que vai ganhar status de superminis­tério, acumulando áreas como a Controlado­ria-Geral da União (CGU) e uma fatia do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf), além de receber de volta a Polícia Federal.

Na noite de ontem, o juiz afirmou que não há “demérito na política”, mas que ocupará um “cargo técnico” no governo Bolsonaro. A declaração de Moro foi feita durante a abertura de uma conferênci­a na sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba.

“Não há demérito na política, meu objetivo não é perseguir cargos, serei um técnico dentro do Ministério da Justiça”, afirmou. “Não me vejo ingressand­o na política, não me vejo como um político verdadeiro, vou para o Ministério da Justiça mais a Segurança em uma posição mais técnica. Isso envolve uma certa política, conversar com as pessoas”, disse.

Lava Jato. No ofício encaminhad­o ao corregedor, Moro ainda oficializo­u sua saída das investigaç­ões da operação. “Reputo salutar afastar-me da jurisdição dos casos judiciais relacionad­os à Operação Lava Jato, com o que evitar-se-á controvérs­ias desnecessá­rias.”

A saída de Moro vai abrir uma vaga na 13.ª Vara Federal de Curitiba, que será ocupada provisoria­mente pela juíza federal substituta Gabriela Hardt.

O juiz também mencionou sobre a pausa nas atividades. “Assim, pretendo tirar a partir da presente data as várias férias que acumulei durante meu período de magistrado em decorrênci­a das necessidad­es do serviço. As férias também permitirão que inicie as preparaçõe­s para a transição de Governo e para os planos para o Ministério.”

Lembrança “Lembrei-me do juiz Falcone, muito melhor do que eu, que depois dos sucessos em romper a impunidade da Cosa Nostra, decidiu trocar Palermo por Roma.” Sérgio Moro JUIZ FEDERAL E FUTURO MINISTRO DA JUSTIÇA

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GERALDO BUBNIAK/AGB Evento. Moro participa de conferênci­a na Federação das Indústrias do Estado do Paraná

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