‘Nova Previdência’ não agrada presidente eleito
Presidente eleito diz que vê com ‘desconfiança’ proposta de Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, de introduzir sistema de capitalização
Jair Bolsonaro disse “não estar batido o martelo” com Paulo Guedes (Economia) sobre reforma da Previdência. O presidente eleito vê com “desconfiança” a ideia de substituir o atual modelo pelo de poupança individual do trabalhador.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), disse ontem que ainda “não está batido o martelo” com o economista Paulo Guedes, seu futuro ministro da Economia, sobre a reforma da Previdência. Bolsonaro afirmou ver com “desconfiança” a ideia de Guedes de substituir o modelo atual por um que pressuponha uma poupança individual do trabalhador – principal base do programa defendido pelo futuro ministro.
“Não está batido o martelo, tenho desconfiança. Sou obrigado a desconfiar para buscar uma maneira de apresentar o projeto. Tenho responsabilidade no tocante a isso aí. Quem vai garantir que essa nova Previdência dará certo? Quem vai pagar? Hoje em dia, mal ou bem, tem o Tesouro, que tem responsabilidade. Você fazendo acertos de forma gradual, atinge o mesmo objetivo sem levar pânico à sociedade”, disse Bolsonaro, em entrevista à TV Bandeirantes.
Guedes – que ficará à frente de um superministério, concentrando as atribuições de Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio – tem afirmado que a prioridade do governo será o corte de gastos e que o mais urgente é aprovar a reforma da Previdência. O futuro ministro já falou que concorda que a proposta apresentada pelo governo do presidente Michel Temer seja votada ainda em 2018, mas disse que o novo governo vai apresentar uma proposta mais abrangente depois.
O economista defende a introdução gradual de um novo modelo, de capitalização, em que cada trabalhador contribui para pagar a própria aposentadoria no futuro.
Bolsonaro disse que atualmente há um contrato com o aposentado. “Você vai mudar uma regra no meio do caminho”, declarou. “Não pode mudar sem levar em conta que tem um ser humano que vai ter a vida que será modificada. Às vezes, um colega pensa apenas em número. Não existe recriação da CPMF. Não queremos salvar o Estado quebrando o cidadão brasileiro”, afirmou.
Idade mínima. Em outra entrevista, à TV Aparecida, Bolsonaro voltou a falar sobre alguns termos da reforma da Previdência que pretende ver aprovada esse ano, ainda no governo de Michel Temer. Ele propôs fixar a idade mínima para aposentadoria
no serviço público em 61 anos, para os homens, e 56 anos, para as mulheres. Sua proposta inclui aumentar em um ano a faixa etária para as outras categorias, mantendo regras especiais para algumas categorias, como policiais militares.
A proposta está bastante distante – e é bem mais amena – do que vinha sendo sugerido pela
equipe de Temer e também pelo grupo que trabalha no plano econômico do eleito. Em ambos os casos, a ideia mais radical é elevar a idade mínima para 65 anos no setor público e na iniciativa privada, com regras de transição para mulheres, a partir de 45 anos, e homens, a partir de 50 anos. Uma flexibilização havia baixado no setor público o limite para 55 anos (mulheres) e 60 anos (homens).
Na entrevista, Bolsonaro não abordou regra de transição nem prazo de contribuição. Declarou não acreditar na possibilidade de uma reforma que eleve a idade mínima para 65 anos para todos. “Não pode generalizar 65 anos (como idade mínima para aposentadoria). Em certas
atividades, nem aos 60 é compatível. A expectativa de vida do policial militar do Rio de Janeiro está abaixo dos 60. Então, não é justo”, disse.
Moro. Bolsonaro reconheceu que tem “antagonismos” com seu futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, juiz Sérgio Moro, em temas como a redução da maioridade penal, a liberação da posse de armas para cidadãos comuns e o fim da demarcação de terras indígenas – propostas que defende e que são combatidas pelo magistrado. Ele disse que será preciso chegar a um “meio termo” com o subordinado, mas reafirmou que deu a Moro “carta branca de 100%” para trabalhar.
‘Quem vai pagar?’
“Não está batido o martelo, tenho desconfiança. Quem vai garantir que essa nova Previdência dará certo? Quem vai pagar?” Jair Bolsonaro
PRESIDENTE ELEITO