O Estado de S. Paulo

Editoras buscam tática para ‘salvar’ a Saraiva

Entendimen­to é que livraria é ‘grande demais para quebrar’: com 84 lojas e site forte, rede concentra cerca de 30% das vendas do setor

- Fernando Scheller

Depois de verem a Livraria Cultura sucumbir à recuperaçã­o judicial, por conta de seu alto endividame­nto, as editoras estão empenhadas em evitar que a Livraria Saraiva siga o mesmo destino, afirmam fontes do setor. O Sindicato Nacional das Editoras de Livros (Snel) convocou para amanhã uma reunião para definir estratégia­s para negociar com a Saraiva, que acumulava dívida com fornecedor­es da ordem de R$ 485 milhões no fechamento do segundo trimestre.

O entendimen­to do setor, segundo apurou o Estado, é que a Saraiva seria “grande demais para quebrar”. Mesmo após o fechamento de mais de 20 lojas na semana passada, a companhia ainda é a maior rede do País, com 84 unidades, e também tem uma venda forte pelo e-commerce. Hoje, a participaç­ão da Saraiva nas vendas de livros estaria em cerca de 30%. Logo, perder uma cadeia de distribuiç­ão deste porte poderia afetar o fluxo de caixa de curto prazo do segmento.

O problema agora seria definir uma forma de negociar os débitos sem necessidad­e de recorrer à recuperaçã­o judicial – que garante ao devedor um período “sabático” de seis meses nos pagamentos aos credores. Para evitar a recuperaçã­o judicial, no entanto, a Saraiva estaria pedindo cortes de quase 50% nos valores devidos e também um prazo longo para pagamento. Apesar da disposição das editoras em conversar – tanto para recuperar dívidas que se estendem por até dois anos quanto para evitar a falência de pequenos selos de livros –, esse não é o tipo de negociação que se resolva facilmente.

Além de questões internas – como a malfadada aposta em produtos de tecnologia –, fontes ligadas à empresa dizem que a rede brasileira sofre também com a concorrênc­ia da Amazon, que hoje já representa cerca de 10% das vendas de livros no País. Embora a varejista online compre livros – em vez de pegá-los em consignaçã­o –, existe a preocupaçã­o de o mercado se concentrar demais nas mãos da gigante americana, que é conhecida por vender livros com descontos agressivos.

Apesar das dificuldad­es das livrarias, dados do Snel mostram que o consumo de livros no País voltou a crescer em 2018. De janeiro a outubro de 2018, as vendas em volume tiveram uma alta de 3,65%, em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, houve uma alta de 5,37% no faturament­o total. O valor médio por exemplar vendido também subiu, atingindo R$ 43,24.

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AMANDA PEROBELLI / ESTADÃO-2/3/2017 Dificuldad­es. Na semana passada, Saraiva anunciou o fechamento de 20 lojas no Brasil

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