O Estado de S. Paulo

‘Volta por Cima’

- ROBERTA MARTINELLI E-MAIL: ROBERTA.MARTINELLI@ESTADAO.COM

Nossos artistas são devidament­e valorizado­s em vida? A resposta para essa pergunta me parece cada dia mais óbvia. Não, não são. Infelizmen­te, a maioria não. Os teatros lutam para conseguir lotar a plateia, a formação de público é uma tarefa e tanto, os recursos públicos para arte são cortados, e se não bastasse tudo isso o artista é colocado por pessoas de pensamento­s diferentes no lugar do dependente de verbas, aquela frase horrorosa sobre mamar... Enfim, socorro! Não vou repetir aquela frase. Mas, na luta diária de um trabalhado­r das artes tudo isso faz parte, e ver um artista poder ser reconhecid­o em vida é um carinho no coração. Carinho no coração do artista e no de todos nós. E é sobre esse carinho no coração que eu vou falar. O nome da artista você já conhece e sabe muito bem quem é. Ela é fundamento da nossa música e da cultura brasileira: Elza Soares. O reconhecim­ento não é novidade para essa guerreira (cuja arma é a voz), Elza lançou em 2015 o primeiro disco de inéditas A Mulher do fim do Mundo, depois de uma já longa e estabeleci­da carreira, esse álbum feito com uma turma de artistas como Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Marcelo Cabral, Guilherme Kastrup, Thiago França entre outros foi um presente para ela e dela para nós. Um espetáculo feito por ela e a colocando no lugar merecido dentro da nossa cultura. Depois disso, ela lançou esse ano mais um trabalho com a mesma trupe e alguns novos integrante­s chamado Deus é Mulher. E quem ouve a voz de Elza, acompanha sua trajetória, lutas e conquistas tem certeza que Deus é Elza.

Elza é cantora, artista, mulher, negra, veio do “planeta fome” (frase dita por ela no programa de calouros do Ary Barroso em 1953), ela é uma lutadora, assim como tantas outras mulheres. E é disso que essa coluna trata. Quero falar de Elza, o Musical que é das coisas que salvam nos dias que estamos vivendo. São 7 mulheres potentes interpreta­ndo Elza, pois ela não é só uma e nenhuma de nós é. Larissa Luz, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacôrte, Janamô, Júlia Tizumba e Verônica Bonfim são as atrizes, cantoras, forças que representa­m essa outra mulher e a essas sete meu reconhecim­ento e profunda admiração pelo trabalho feito. Quando Larissa Luz, que eu já conhecia do ótimo trabalho autoral de cantora e compositor­a começou a cantar eu tinha certeza que ela estava dublando a Elza (impression­ante). Além delas, em cena, uma banda toda formada por mulheres.

A direção do espetáculo é de Duda Maia, texto de Vinícius Calderoni, direção musical de Pedro Luís, Antônia Adnet e da própria Larissa Luz com arranjos de Letieres Leite. A peça segue em cartaz até o dia 18 de novembro no Sesc Pinheiros.

O autor diz “Escrever uma peça sobre Elza Soares é impossível: Elza se escreve sozinha” e, sim, ela se escreveu sozinha mas foi muito bem representa­da por essa equipe. Das armas para combater o que aconteceu no Brasil, essa é das mais potentes... Como diz Elza na peça: “Não precisamos portar armas, precisamos portar voz” – e depois aplausos de pé! Viva a nossa voz.

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DARYAN DORNELLES Elza Soares. O musical
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