O Estado de S. Paulo

Tesouro diz que 16 Estados correm risco de insolvênci­a

Relatório do Tesouro mostra que governos estaduais gastam mais com pessoal do que o permitido pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Relatório do Tesouro Nacional aponta que 16 Estados e o Distrito Federal descumprir­am a Lei de Responsabi­lidade Fiscal em 2017 ao destinar mais de 60% da receita corrente líquida à folha de pessoal. O documento alerta para o risco de insolvênci­a. Em cinco Estados, o comprometi­mento com gastos de pessoal ultrapassa os 75% da receita, incluindo o Rio.

Mais da metade dos Estados descumprir­am a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) no ano passado ao estourar o limite de gastos com pessoal. O relatório divulgado ontem pelo Tesouro Nacional mostra que o problema vem se agravando nos últimos anos: em 2017, 16 Estados e o Distrito Federal extrapolar­am as despesas com salários e aposentado­rias. No anterior, foram nove Estados.

Por lei, as administra­ções não podem destinar mais de 60% da Receita Corrente Líquida (RCL) à folha de pessoal, o que põe em risco as finanças públicas e aumenta o risco de insolvênci­a. Os governador­es eleitos terão de lidar com o problema.

Ao destinar a maior parte da receita para pagar servidores, sobra cada vez menos para manter o funcioname­nto de serviços básicos que estão sob a responsabi­lidade dos Estados, como segurança e educação. “Se não forem revistos os parâmetros constituci­onais atuais, há grande risco de ampliação das situações de insolvênci­a nos próximos anos”, alerta o documento do Tesouro Nacional.

Em cinco Estados, o comprometi­mento com gastos de pessoal já ultrapassa os 75% da receita corrente líquida. Um deles é o Rio de Janeiro, que está no Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RRF) com a União, mas ainda enfrenta dificuldad­es para equilibrar suas contas. Com um histórico de reajustes salariais generosos antes de ingressar no programa de socorro federal, o governo fluminense destinou 81% da receita ao pagamento da folha no ano passado.

A situação mais crítica é do Rio Grande do Norte (86%), que no fim de 2017 pressionou o governo federal por uma medida provisória (MP) para repassar dinheiro ao Estado e ajudar no pagamento de salários dos servidores – o que seria ilegal. O Ministério da Fazenda barrou a medida. Minas, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul compromete­ram quase 80% da receita com gastos com pessoal.

Maquiagem. Além de expor a fragilidad­e das contas estaduais, o documento ainda demonstra a maquiagem contábil feita pelos Estados para ficarem artificial­mente dentro dos limites da LRF. Apenas seis governos estaduais admitem nos próprios dados que extrapolam a regra prevista em lei.

Os cálculos feitos pelo Tesouro contabiliz­am despesas que são deixadas de lado pelos Estados na tentativa de evitar as sanções da LRF para o caso de descumprim­ento do limite de gastos com pessoal. Muitos governos estaduais excluem das contas despensas com inativos ou auxílios, chancelado­s por resoluções dos Tribunais de Contas Estaduais (TCEs).

O Rio Grande do Sul, que pretende aderir ao RRF, é um dos que ainda não reconhecem a maquiagem. Pelos dados do Estado, o comprometi­mento de receitas com pessoal está em 56%. O Estado já admite que não pagará o 13.º no prazo.

Há preocupaçã­o ainda porque em alguns casos a diferença entre o comprometi­mento admitido pelo Estado e o cálculo do Tesouro supera os 30 pontos porcentuai­s. É o caso do Rio Grande do Norte, que tem um comprometi­mento de 86%, segundo o Tesouro, mas admite 52%. Até o fechamento desta edição, os dois Estados não respondera­m aos contatos da reportagem.

O alerta do Tesouro é para o fato de que hoje há muitas amarras que impedem a redução das despesas e, no futuro, não haverá paliativos. Mesmo que haja esforço de contenção de gastos pelas próximas gestões estaduais, a situação ainda será crítica porque o envelhecim­ento da população e o cresciment­o das aposentado­rias elevarão as despesas com inativos de qualquer forma, aumentando o peso da folha.

De 2005 a 2016, o gasto per capita com servidores estaduais teve alta real média de 57%, sendo que em cinco Estados o avanço foi de mais de 80% acima da inflação.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-23/10/2015 Falha, Para Velloso, relatório ‘não conta toda a história’

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