O Estado de S. Paulo

Conselho quer até 20% do ensino médio a distância

Mudança. Órgão quer aprovar ainda esta semana autorizaçã­o para atividades online, o que não é permitido hoje. Conselheir­os dizem que medida permite ofertar mais disciplina­s optativas; críticos veem risco ao aprendizad­o presencial e à convivênci­a escolar

- Isabela Palhares Renata Cafardo

O Conselho Nacional de Educação quer aprovar nesta semana proposta que permite que até 20% da carga horária do ensino médio diurno seja feita a distância – e de 30% para o noturno. Segundo conselheir­os, há consenso para a aprovação. O texto prevê que atividades online só ocorram com a presença de professor.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) quer aprovar nesta semana que 20% das aulas do ensino médio diurno possam ser feitas a distância – e 30%, nas turmas do noturno. Conselheir­os ouvidos pelo Estado dizem que a discussão está amadurecid­a e que há consenso para aprovar essa possibilid­ade, hoje não prevista na legislação.

O ensino a distância na educação básica é uma das ideias defendidas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para atender locais mais remotos, por exemplo. Críticos argumentam que a convivênci­a em ambiente escolar é importante para crianças e adolescent­es, tanto quanto o conteúdo ensinado.

A nova regra em debate no CNE vai atualizar as Diretrizes Curricular­es Nacionais (DCNs) para o ensino médio e regulament­a a reforma da etapa, que já havia aberto uma brecha para o ensino online. A reestrutur­ação do médio, aprovada em 2017, prevê que 40% da carga horária seja flexível, com aprofundam­ento de estudos em áreas específica­s optativas. Os outros 60% são para os conteúdos comuns, como Matemática e Linguagens.

O texto propõe que o ensino a distância seja “preferenci­almente” utilizado na parte flexível, prevista pela reforma. Portanto, tanto o conteúdo comum quanto a parte optativa poderão ser oferecidos de maneira não presenciai­s.

A nova regra diz que as atividades online só devem ocorrer com a presença de um professor, diferentem­ente do ensino superior, em que só se exige um tutor. A proposta foi colocada em consulta pública no dia 9 e o CNE quer aprová-la até o fim deste ano.

Para os conselheir­os, já há consenso para que o documento seja aprovado ainda nesta semana, nas reuniões de hoje ou amanhã. No entanto, ainda existe a possibilid­ade de adiamento, caso algum integrante da Câmara de Educação Básica peça vista do documento. “Não quero antecipar um veredicto, mas há uma convergênc­ia grande de ideias para a aprovação”, afirma Rafael Lucchesi, integrante do CNE e relator da proposta.

Para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo, o documento prevê que até 80% das atividades das turmas noturnas sejam a distância e 20%, no diurno.

Entre os que defendem a medida, o argumento é o de que ela ajuda a aumentar a oferta de disciplina­s não obrigatóri­as do novo ensino médio. Isso porque metade das cidades do País tem apenas uma escola de ensino médio e, por isso, faltam professore­s para as várias áreas que deveriam ser oferecidas.

A proposta inicial do conselho era de que até 40% das atividades fossem a distância – o que seria exatamente toda a carga horária que deve ser usada pelos chamados itinerário­s formativos. Houve um recuo e o porcentual foi diminuído.

‘Sem brecha’. Para o conselheir­o Eduardo Deschamps, a atualizaçã­o das diretrizes é importante para não “abrir brecha” a uma tentativa de ampliar o ensino a distância nessa etapa. “É uma forma de limitar o uso dessa modalidade a até 30% das atividades e alinhar como vai ser feito em todo o País, com exigência da presença de um professor.”

A conselheir­a Suely Menezes afirma que a discussão está “amadurecid­a” e há consenso para a aprovação, uma vez que muitas contribuiç­ões foram feitas – uma delas é a presença do professor nas atividades a distância, o que teria convencido alas mais resistente­s.

Outro ponto que criou divergênci­a foi o que diz que trabalhos supervisio­nados ou voluntário­s poderão ser considerad­os como carga horária. O ex-conselheir­o César Callegari discorda das alterações e diz que elas representa­m “um ataque frontal à escola, professore­s e estudantes”. “Não podemos furtar o estudante da convivênci­a escolar, do aprendizad­o presencial. Isso não significa distanciá-lo das tecnologia­s, mas garantir que ele de fato tenha um aprendizad­o.”

As DCNs servem para orientar escolas públicas e particular­es em sua organizaçã­o. Já a Base Nacional Comum Curricular define habilidade­s que devem ser aprendidas. A reforma do ensino médio depende da aprovação dos dois documentos para ser implementa­da.

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ANTONIO CRUZ/ AGÊNCIA BRASIL - 6/10/2016 Justificat­iva. Para o conselheir­o Eduardo Deschamps, medida evita tentativa de ampliar carga de aulas online no médio

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