O Estado de S. Paulo

Guedes pressiona Congresso por Previdênci­a

Embate político. Futuro ministro da Economia passou a responsabi­lidade pela votação da reforma ainda este ano para os parlamenta­res e gerou reação dos congressis­tas, que recomendar­am à equipe de Bolsonaro ‘mais cuidado com as palavras’

- / IDIANA TOMAZELLI, EDUARDO RODRIGUES, VERA ROSA, TÂNIA MONTEIRO, BRENO PIRES, MARIANA HAUBERT E CAMILA TURTELLI

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu uma “prensa” no Congresso para que os parlamenta­res votem ainda este ano a proposta de Michel Temer para a reforma da Previdênci­a. A declaração causou mal-estar e congressis­tas recomendar­am “cuidado com as palavras”.

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu, ontem, uma “prensa” no Congresso Nacional para que os parlamenta­res votem ainda este ano a proposta de reforma da Previdênci­a apresentad­a pelo presidente Michel Temer. A declaração foi mal recebida entre os congressis­tas, que recomendar­am aos assessores de Jair Bolsonaro “cuidado com as palavras”.

Questionad­o ontem, em Brasília, sobre a estratégia para a aprovação do texto em 2018, o futuro ministro jogou a responsabi­lidade para o Parlamento. “Classe política, nos ajude a aprovar a reforma. A bola esta com o Congresso: prensa neles!”, disse ao chegar ao Ministério da Fazenda para uma reunião com o ministro Eduardo Guardia, que durou mais de quatro horas e teve entre os principais temas a reforma.

O episódio se soma ao mal-estar que existe entre algumas lideranças do Congresso pelo fato de o futuro articulado­r político de Bolsonaro, o ministro da transição Onyx Lorenzoni, ter integrado a oposição à reforma da Previdênci­a durante sua tramitação na comissão especial na Câmara. Agora, ele será o responsáve­l por negociar o apoio dos parlamenta­res à proposta.

A aprovação da Previdênci­a ainda no período de transição ajudaria o novo governo a “limpar” a pauta do Congresso, abrindo caminho para outras reformas que precisam ser feitas pela próxima equipe em 2019, aproveitan­do o capital político do início de governo.

Se não for possível, Guedes já adiantou que pretende encaminhar um texto, novo e mais amplo, em 2019. Nesse caso, a proposta teria de repetir todo o trâmite já enfrentado na gestão Temer, passando por duas comissões.

A proposta em tramitação prevê a fixação de idades mínimas de aposentado­ra em 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, de uma regra de transição, além de equiparar os regimes de aposentado­ria de servidores públicos e de trabalhado­res da iniciativa privada. O texto precisa ser aprovado em dois turnos nas duas Casas.

O presidente eleito indicou a possibilid­ade de adotar uma proposta menos ambiciosa do que o desejado inicialmen­te por sua equipe para acelerar a resolução dessa pauta, que é considerad­a impopular. “(A reforma da Previdênci­a) Não é a que queremos, mas é a que podemos aprovar”, disse, em sua primeira visita a Brasília. Mais tarde, ele admitiu inclusive alterar as idades mínimas previstas na versão atual, para 62 anos.

Caso o Congresso aprove agora a reforma de Temer, Guedes explicou que poderia ser enviada no futuro uma nova proposta para introduzir o regime de capitaliza­ção, pelo qual os segurados contribuem para uma conta individual e recebem o benefício com base nos pagamentos feitos ao longo da vida.

Reação. Os parlamenta­res reagiram às declaraçõe­s de Guedes para pressionar o Congresso. Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que o déficit na Previdênci­a é um assunto urgente, mas que é preciso debate. “O Congresso é soberano, independen­te e não tem prensa por aqui. A primeira coisa que esse governo vai ter de aprender é a ter mais cuidado com as palavras.”

Um dos principais aliados do presidente eleito, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) disse que hoje não há votos suficiente­s para aprovar a reforma. “O ministro Paulo Guedes precisa entender que aqui, para votar, tem de ter voto. E hoje não tem. Quem tem de ficar com esse ônus é o novo governo.”

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que detém o controle sobre a pauta na Casa, defendeu que Bolsonaro encaminhe sua própria proposta de reforma da Previdênci­a e evitou dar garantias de que o texto será votado este ano.

No comando da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tenta se aproximar de Bolsonaro para obter apoio à sua reeleição e disse que nutre “otimismo” em relação aos próximos nós a serem desatados. “O importante é ver se há ou não condições de votar.”

Bolsonaro se reúne hoje com Temer e deve discutir as chances de votação da reforma em 2018.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Transição. Guedes se encontrou com Guardia em Brasília

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