Ouvidoria descarta confronto em mortes de jovens por policiais
Relatório corrobora versão de testemunha, que diz que colegas se renderam; ação ocorreu na zona oeste paulistana
Relatório da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo diz que há “indícios fortes” de que as mortes de quatro adolescentes no dia 6 de outubro no Jaguaré, na zona oeste de São Paulo, não ocorreram durante confronto com policiais militares. Com base em laudos periciais e das armas envolvidas na ocorrência, o relatório corrobora a versão, apresentada por uma testemunha, de que os jovens estavam rendidos e no chão quando foram mortos.
A Secretaria Estadual da Segurança Pública informou, por meio de nota, que o caso segue em investigação na Corregedoria da Polícia Militar e no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão da Polícia Civil que atua em casos de mortes praticadas por agentes. “Os PM envolvidos na ocorrência permanecem afastados das atividades operacionais.”
Os quatro adolescentes estavam em um carro roubado junto com uma jovem de 17 anos, que sobreviveu. Na versão do sargento, do cabo e do soldado da Força Tática do 23.º Batalhão da PM envolvidos na abordagem, os adolescentes reagiram à ordem de parada a tiros e foram mortos. Já a jovem disse que, após notarem que estavam sendo seguidos, os adolescentes desceram do carro e deitaram no chão – e então foram mortos.
O relatório da Ouvidoria aponta que as armas apresentadas pelos PMs como sendo dos adolescentes não poderiam ter sido usadas no confronto. A pistola de calibre 9 milímetros apresentada não tinha dado nenhum tiro. Um revólver de calibre 38 estava com o tambor quebrado e não disparava. Já um revolver de calibre 32 tinha apenas um disparo efetuado. A adolescente afirmou que não tinha visto nenhum dos colegas que foram mortos armados.
Perfurações. Já a análise dos corpos revelou que todos eles tinham ou perfurações de cima para baixo ou tiros nos braços ou ainda nas regiões lombares e das nádegas. “Tiros de cima para baixo são condições que não batem com uma situação de confronto”, disse o ouvidor da polícia, Benedito Mariano. O relatório cita ainda imagens de celular que mostram os carros da PM e dos adolescentes parados enquanto há barulhos de tiros, uma possível simulação de confronto, que não ocorreu. O ouvidor afirma que os policiais “usaram força desproporcional” contra as vítimas. “Portanto, esta ocorrência traz indícios fortes de intervenção policial sem confronto armado.”
O relatório foi entregue à Corregedoria da PM e ao DHPP, que continuam a investigar o caso. O ouvidor espera que seja feita uma reconstituição do crime, para confrontar as versões de policiais e testemunhas.