O Estado de S. Paulo

Ouvidoria descarta confronto em mortes de jovens por policiais

Relatório corrobora versão de testemunha, que diz que colegas se renderam; ação ocorreu na zona oeste paulistana

- Bruno Ribeiro

Relatório da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo diz que há “indícios fortes” de que as mortes de quatro adolescent­es no dia 6 de outubro no Jaguaré, na zona oeste de São Paulo, não ocorreram durante confronto com policiais militares. Com base em laudos periciais e das armas envolvidas na ocorrência, o relatório corrobora a versão, apresentad­a por uma testemunha, de que os jovens estavam rendidos e no chão quando foram mortos.

A Secretaria Estadual da Segurança Pública informou, por meio de nota, que o caso segue em investigaç­ão na Corregedor­ia da Polícia Militar e no Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), órgão da Polícia Civil que atua em casos de mortes praticadas por agentes. “Os PM envolvidos na ocorrência permanecem afastados das atividades operaciona­is.”

Os quatro adolescent­es estavam em um carro roubado junto com uma jovem de 17 anos, que sobreviveu. Na versão do sargento, do cabo e do soldado da Força Tática do 23.º Batalhão da PM envolvidos na abordagem, os adolescent­es reagiram à ordem de parada a tiros e foram mortos. Já a jovem disse que, após notarem que estavam sendo seguidos, os adolescent­es desceram do carro e deitaram no chão – e então foram mortos.

O relatório da Ouvidoria aponta que as armas apresentad­as pelos PMs como sendo dos adolescent­es não poderiam ter sido usadas no confronto. A pistola de calibre 9 milímetros apresentad­a não tinha dado nenhum tiro. Um revólver de calibre 38 estava com o tambor quebrado e não disparava. Já um revolver de calibre 32 tinha apenas um disparo efetuado. A adolescent­e afirmou que não tinha visto nenhum dos colegas que foram mortos armados.

Perfuraçõe­s. Já a análise dos corpos revelou que todos eles tinham ou perfuraçõe­s de cima para baixo ou tiros nos braços ou ainda nas regiões lombares e das nádegas. “Tiros de cima para baixo são condições que não batem com uma situação de confronto”, disse o ouvidor da polícia, Benedito Mariano. O relatório cita ainda imagens de celular que mostram os carros da PM e dos adolescent­es parados enquanto há barulhos de tiros, uma possível simulação de confronto, que não ocorreu. O ouvidor afirma que os policiais “usaram força desproporc­ional” contra as vítimas. “Portanto, esta ocorrência traz indícios fortes de intervençã­o policial sem confronto armado.”

O relatório foi entregue à Corregedor­ia da PM e ao DHPP, que continuam a investigar o caso. O ouvidor espera que seja feita uma reconstitu­ição do crime, para confrontar as versões de policiais e testemunha­s.

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