O Estado de S. Paulo

CGU vê irregulari­dade em captação de recursos

Auditoria aponta conflito de interesse em aporte de R$ 450 mil para associação ligada a Rogério Sampaio

- Raphael Ramos

Auditoria da Controlado­ria-Geral da União (CGU) identifico­u irregulari­dades na autorizaçã­o para que a Associação de Judô Rogério Sampaio, ligada ao campeão olímpico de 1992 e atual diretorger­al do COB (Comitê Olímpico do Brasil) Rogério Sampaio, captasse R$ 450.806,63 por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. A captação dos recursos foi considerad­a ilegal porque, à época em que o Ministério do Esporte aprovou o aporte financeiro à entidade, Sampaio fazia parte do alto escalão da pasta, como secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento. O ex-judoca, ouvido pelo ‘Estado’, nega qualquer vínculo com associação que leva o seu nome.

A CGU apontou “conflito de interesses”, além de destacar que a captação do dinheiro feria os princípios constituci­onais (impessoali­dade e moralidade) e o Código de Ética Profission­al do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.

Sampaio atuou como secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério do Esporte de julho de 2017 a abril de 2018. A aprovação para que a Associação de Judô Rogério Sampaio captasse R$ 450 mil a serem utilizados no projeto “Judô Educando Para Vida IV” ocorreu em novembro de 2017. O período para capacitaçã­o do dinheiro iria até 31 de dezembro deste ano. A auditoria da CGU informou que o ex-judoca era “coordenado­r de projeto” da associação localizada em Santos, embora o nome dele não conste formalment­e como membro do quadro social da entidade. De acordo com a CGU, além da vinculação de seu nome à razão social da associação, o site da entidade tem “vasto material fotográfic­o, vídeos e textos alusivos ao secretário da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR) do ministério.” O projeto “Judô Educando Para Vida IV” visa atender a crianças e adolescent­es da Baixada Santista.

O caso foi encaminhad­o para análise da Comissão de Ética da Presidênci­a da República, que confirmou o resultado da auditoria do CGU e apontou conflito de interesse. De acordo com o órgão, a aprovação do projeto à Associação Rogério Sampaio “implica evidente conflito de interesses atentatóri­o aos padrões éticos, a ensejar riscos de afetação da imagem do Ministério do Esporte e de questionam­entos quanto à lisura de seus processos de aprovação de projetos no âmbito da Lei de Incentivo ao Esporte”.

Sampaio se defendeu em nota enviada ao Estado. “O montante aprovado e captado jamais foi utilizado, segundo fui informado, e está em processo de devolução. Gostaria de reforçar ainda que não faço parte da diretoria da associação que leva o meu nome.”

Considerad­o um dos maiores judocas da história do Brasil, Sampaio foi medalhista de ouro do judô nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. Depois que se aposentou, ocupou cargos públicos: foi presidente da Fundação Pró Esporte de Santos, órgão ligado à prefeitura, coordenado­r de Gestão de Esporte de Alto Rendimento da Prefeitura de São Paulo, secretário da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), órgão ligado ao Ministério do Esporte, e secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento da pasta, até chegar este ano ao cargo de diretor-geral do COB.

Mudanças. Segundo o Ministério do Esporte, após o caso envolvendo Rogério Sampaio e a associação que leva o seu nome, a Lei de Incentivo ao Esporte foi alterada. Estão proibidos projetos apresentad­os por entidades que tenham como dirigente, administra­dor, controlado­r ou membro do conselho, funcionári­os do Ministério do Esporte e seus parentes de terceiro grau, cônjuge e companheir­o.

Por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, pessoas físicas e jurídicas podem descontar parte do valor devido ao Imposto de Renda e financiar projetos esportivos. De 2007 a dezembro de 2017, as renúncias fiscais do governo somaram aproximada­mente R$ 2 bilhões. Com a saída de Sampaio do Ministério do Esporte, a pasta fez, em setembro, nova consulta à Comissão de Ética da Presidênci­a para saber se agora a associação pode captar recursos por meio da Lei de Incentivo. O ministério informa aguardar novo parecer.

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MAURICIO DE SOUZA/ESTADÃO Negado. Sampaio nega participar de entidade que tem seu nome

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