O Estado de S. Paulo

Para crescer com segurança

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Um Brasil mais eficiente será um país com preços mais estáveis e juros mais próximos dos padrões internacio­nais.

Os desafios para o novo governo contêm pelo menos um dado animador: o controle da inflação e o cresciment­o econômico de longo prazo dependem das mesmas políticas. Um Brasil mais eficiente será também um país com preços mais estáveis e com juros mais próximos dos padrões internacio­nais. Será, portanto, uma economia mais competitiv­a e com maior potencial de criação de empregos. Esta é uma das mensagens mais importante­s incluídas na ata da última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). Embora mais discreta e menos explícita, a linguagem oficial é bastante clara. Segundo o relatório, os membros do comitê destacaram a importânci­a de iniciativa­s voltadas para “aumento de produtivid­ade, ganhos de eficiência, maior flexibilid­ade da economia e melhoria do ambiente de negócios”.

Há espaço para intensific­ação dos negócios, a curto prazo, sem grandes pressões inflacioná­rias. Muita mão de obra está disponível, por causa do desemprego elevado e da subutiliza­ção da força de trabalho. Além disso, há ampla ociosidade de máquinas, equipament­os e instalaçõe­s em boa parte do sistema produtivo.

Com inflação ainda contida, este cenário torna recomendáv­el, segundo a ata do Copom, a manutenção de uma política monetária estimulant­e, com juros básicos mantidos em 6,50% e crédito sem maiores entraves. Estas condições podem facilitar o aumento da atividade, no próximo ano, se empresário­s e consumidor­es tiverem confiança para movimentar os negócios. Com maior utilização da força de trabalho e do parque produtivo, no entanto, os preços serão mais pressionad­os. Não parece haver risco de inflação fora dos limites fixados pela política nos próximos dois anos, pelos cálculos do BC e do mercado. Mas como garantir cresciment­o econômico mais veloz e sustentáve­l por um longo período?

A resposta indicada pelo Copom – e por muitos economista­s respeitado­s – envolve dois conjuntos de ações. O avanço no ajuste fiscal e em reformas básicas permitirá o controle da dívida pública, dará sustentabi­lidade às finanças oficiais e permitirá a manutenção de juros civilizado­s. Essas mudanças darão oxigênio ao governo e ao setor privado.

O outro conjunto inclui medidas voltadas diretament­e para os ganhos de eficiência. A mobilizaçã­o de recursos públicos e principalm­ente privados para investimen­tos na infraestru­tura é um requisito óbvio. Do lado empresaria­l, os investimen­tos tenderão naturalmen­te a crescer, se os dirigentes puderem apostar com alguma segurança no futuro do País.

Mudanças na administra­ção pública também contribuir­ão para ganhos de eficiência, tornando mais simples e mais fluida a relação entre empresas e governo e aumentando a segurança das transações. Estas condições, como todas as demais do conjunto voltado para a eficiência, são itens normalment­e considerad­os nas avaliações de competitiv­idade. As notas do Brasil têm sido baixas na maior parte desses quesitos.

Mas ganhos de produtivid­ade envolvem mais que investimen­tos em capital físico, financiame­nto acessível e ambiente propício a negócios. Para se tornar mais eficiente, o Brasil dependerá também de uma oferta muito maior de mão de obra qualificad­a. A parcela menos qualificad­a deverá, no mínimo, ser capaz de receber treinament­o para atuar em sistemas modernos de produção.

Qualquer plano decente de governo terá de incluir maior atenção aos níveis fundamenta­l e médio de ensino, desastrosa­mente negligenci­ados por muitos anos. Também deverá valorizar a educação profission­al. Boas iniciativa­s têm ocorrido, nesta área, em escolas do chamado Sistema S (Senai, Senac, etc.), com preparação de pessoal para trabalhar com tecnologia atualizada. Além de carências enormes, há exemplos promissore­s. O presidente eleito parece desconhece­r os desafios e as propostas mais interessan­tes. Ao falar de educação, exibe preocupaçõ­es basicament­e ideológica­s e com tintura religiosa. Esse é um péssimo sinal para quem deseja viver num país moderno, competitiv­o e com relevância global.

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