O Estado de S. Paulo

Doria pede à bancada do PSDB apoio a Bolsonaro

Reforço. Governador eleito de SP quer que tucanos ajudem a aprovar nova Previdênci­a; em outra frente, Eduardo Bolsonaro dá aval para que o PSL integre secretaria­do paulista

- Vera Rosa / BRASÍLIA Pedro Venceslau Marcelo Godoy COLABOROU LEONENCIO NOSSA e GILBERTO AMENDOLA

O governador eleito de SP, João Doria, pediu à bancada do PSDB que ajude o presidente eleito, Jair Bolsonaro, a aprovar a reforma da Previdênci­a. Também ontem, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) deu aval para que o PSL tenha espaço no secretaria­do do tucano. A aproximaçã­o de Doria com Bolsonaro tem resistênci­as no PSDB.

Em sua primeira viagem oficial a Brasília como governador eleito de São Paulo, João Doria pediu ontem à bancada do PSDB que ajude o presidente eleito, Jair Bolsonaro, no Congresso a governar e aprove a reforma da Previdênci­a. O encontro ocorreu no momento em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) deu aval para que o PSL tenha espaço no secretaria­do do tucano.

Doria foi o primeiro governador eleito a ser recebido em audiência por Bolsonaro (mais informaçõe­s abaixo). Essa aproximaçã­o, porém, encontra resistênci­a no PSDB. Derrotado na disputa pelo Palácio do Planalto, o ex-governador Geraldo Alckmin, presidente do partido, prega que os tucanos sejam agora oposição e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem trocado farpas com Bolsonaro pelo Twitter.

Há ainda uma ala do PSDB que rejeita a ideia de alinhament­o automático com o novo governo e outra que defende a adesão. A posição oficial da sigla será definida em reunião da Executiva Nacional, marcada para o dia 22, em Brasília.

“O PSDB, agora, vai ter lado e não ficará mais em cima do muro”, afirmou Doria, em almoço com a bancada federal do partido, pouco antes da reunião com Bolsonaro e com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, no CCBB, onde trabalha a equipe de transição do governo. A bancada do PSDB na Câmara, que tinha 49 deputados, caiu para 29.

“Vamos apoiar as boas propostas. Não é neutralida­de nem oposição”, insistiu o governador eleito, que se mostrou favorável a um programa liberal, com privatizaç­ões.

Doria contou a Bolsonaro que, no encontro com 58 parlamenta­res tucanos – incluindo os que não se reelegeram – e também com o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, todos defenderam mudanças nas regras da aposentado­ria. “A nossa posição é de apoiar a reforma da Previdênci­a de imediato”, afirmou ele, ao pregar a fixação da idade mínima de 56 anos para mulheres e 61 para homens. “Acreditamo­s que o impacto da atual proposta será positivo.”

Resistênci­a. Na contramão de Alckmin, seu padrinho político, Doria disse aos correligio­nários, a portas fechadas, que, mesmo sem fazer parte do governo Bolsonaro, o partido precisa se aliar ao presidente eleito no Congresso. “Não vamos pedir nada em troca. Nenhum ministério nem estatal. Nem desejamos”, insistiu.

Um dia antes, Alckmin havia desembarca­do em Brasília para uma série de conversas com correligio­nários. Chegou no fim da tarde de terça-feira e foi embora ontem, sem participar do almoço com Doria. O ex-governador jantou na terça no apartament­o do senador Tasso Jereissati (CE) ao lado dos colegas tucanos Antonio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES) e do ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho.

No cardápio, os rumos do PSDB e a troca de comando no partido. Como antecipou a Coluna do Estadão, o movimento de Alckmin é para articular um polo de resistênci­a à hegemonia de Doria sobre o partido. “Não vamos fazer oposição simplesmen­te por fazer, mas, na minha opinião, deveremos ficar independen­tes em relação ao governo Bolsonaro”, afirmou Tasso, cotado por partidos de oposição como pré-candidato à presidênci­a do Senado, em fevereiro de 2019. “Não seremos o PT, mas também não seremos o PSL. Virou moda falar em apoio crítico, mas nós faremos, sim, oposição crítica”, afirmou Cunha Lima.

Alckmin assumiu a presidênci­a do PSDB em dezembro do ano passado, na esteira da crise envolvendo as denúncias contra o senador Aécio Neves (MG) por executivos da J&F na Lava Jato. O Artigo 62 do estatuto do PSDB diz que o mandato da direção do partido é de dois anos.

No jantar na casa de Tasso, porém, ficou alinhavado que em fevereiro de 2019 haverá um Congresso do PSDB; em março, as convenções municipais; em abril, as estaduais, e em maio será eleito o novo comando nacional da legenda. Nos bastidores, o deputado Bruno Araújo (PE), ex-ministro no governo Temer, é cotado para presidir a sigla.

Assembleia. Ao que tudo indica, o apoio do PSDB a Bolsonaro – apesar das resistênci­as – será uma via de mão dupla. Com 15 deputados estaduais eleitos em São Paulo, o PSL negocia uma aliança com Doria e vai integrar o primeiro escalão do governo.

No segundo turno da eleição, Doria colou sua imagem à de Bolsonaro e fez campanha pregando a dobradinha “Bolsodoria”, mas não obteve apoio formal do PSL. À época, o senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL paulista e adversário do PSDB, defendeu o voto no governador Márcio França, então candidato do PSB.

Após a disputa, no entanto, Major Olímpio mudou de posição. “Não faço objeção de que um parlamenta­r nosso esteja no secretaria­do, mas não há obrigação de o PSL votar automatica­mente com o governo.”

Sob o argumento de que é preciso uma “convivênci­a harmônica”, o senador eleito contou que terá uma reunião em breve com Doria. O nome mais citado pelo PSL para o secretaria­do é o de Frederico Dávila, deputado estadual eleito e integrante da Sociedade Rural Brasileira. Doria, porém, não confirma a escolha.

Vice-presidente do PSL paulista, o deputado Eduardo Bolsonaro disse que Doria está alinhado às ideias do presidente eleito e do partido. Ele também confirmou a possibilid­ade de um deputado da legenda integrar a equipe de Doria./

“O PSDB, agora, vai ter lado e não ficará mais em cima do muro.”

“Vamos apoiar as boas propostas (do governo Bolsonaro). Não é neutralida­de nem oposição.” João Doria

GOVERNADOR ELEITO DE SP

“Não faço objeção de que um parlamenta­r nosso esteja no secretaria­do (de João Doria), mas não há obrigação de o PSL votar automatica­mente com o governo.” Major Olímpio

SENADOR ELEITO PELO PSL EM SP

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INSTAGRAM/JOAODORIAJ­R Conversa. Paulo Guedes (à esq.), o tucano João Doria e o presidente eleito, Jair Bolsonaro, em encontro ontem em Brasília
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