O Estado de S. Paulo

Trump demite secretário de Justiça

Manobra teria como objetivo controlar as investigaç­ões sobre conluio com a Rússia

- WASHINGTON

O presidente dos EUA, Donald Trump, demitiu seu secretário de Justiça, Jeff Sessions, ontem. A saída de Sessions ocorre um dia após as eleições de meio de mandato e foi anunciada em carta enviada por ele ao chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly. “A seu pedido, submeto minha renúncia”, escreveu Sessions no início da mensagem.

Sessions era senador pelo Estado do Alabama e foi o primeiro senador republican­o a apoiar a candidatur­a de Trump. Ele trabalhou na campanha presidenci­al e, por ser visto como fiel aliado, ganhou o cargo de secretário de Justiça após a eleição.

A relação entre os dois, no entanto, azedou logo após a posse, em fevereiro de 2017. Durante a campanha, Sessions havia se reunido por duas vezes com o embaixador russo nos EUA, Serguei Kislyak. Por isso, foi aconselhad­o pelo conselho de ética do Departamen­to de Justiça a rejeitar o comando das investigaç­ões sobre conluio entre a campanha republican­a e a Rússia. A decisão enfureceu o presidente. “Se eu soubesse disso, não o teria indicado para o cargo”, reclamou Trump.

Com Sessions fora do caminho, em maio de 2017, as investigaç­ões recaíram sobre o vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein, que indicou um procurador especial para conduzir o caso: Robert Mueller. Ex-diretor do FBI, Mueller tinha reputação impecável, tanto entre republican­os como entre democratas.

Desde então, Mueller tem conduzido as investigaç­ões em absoluto sigilo e discrição. Aos poucos, o cerco ao presidente foi se fechando. Seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, foi indiciado. Rick Gates, número 2 da equipe de campanha, declarou-se culpado de falso testemunho e conspiraçã­o, em troca de colaborar com o trabalho de Mueller.

À medida que depoimento­s, intimações e indiciamen­tos respingava­m na Casa Branca, Trump se gabava de poder engavetar a investigaç­ão a qualquer momento, mas garantiu que não faria nada porque “nunca houve conluio entre sua campanha e os russos”.

Ao longo dos meses, vários congressis­tas exigiram que Trump não demitisse Sessions. Republican­os moderados e democratas ameaçaram aprovar uma lei no Congresso que protegesse Mueller e rejeitaram aprovar qualquer nomeação de um novo secretário de Justiça no Senado.

Em Washington, mesmo assim, aumentaram os rumores de que Trump pretendia assumir o controle das investigaç­ões. O caminho mais curto era demitir Sessions e nomear alguém com autoridade sobre Mueller, mas a Casa Branca temia que a saída do secretário de Justiça, se anunciada antes, pudesse afetar o desempenho republican­o nas eleições de meio de mandato.

Imediatame­nte após a demissão de Sessions, Trump anunciou que Matthew Whitaker assumirá de maneira temporária o Departamen­to de Justiça. Whitaker era chefe de gabinete de Sessions. Em várias ocasiões,

ele criticou Mueller e sugeriu que o Departamen­to de Justiça poderia simplesmen­te cortar o orçamento da equipe de investigad­ores para reduzir o ritmo dos trabalhos.

Analistas jurídicos, no entanto, acreditam que Mueller, um veterano que conhece os meandros da política americana, já previa a manobra do presidente e provavelme­nte teria se antecipado à decisão, preparando indiciamen­tos ou acelerando a conclusão das investigaç­ões.

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ERIN SCHAFF/THE NEW YORK TIMES Campanha. Sessions foi o primeiro senador a apoiar Trump

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