O Estado de S. Paulo

‘Não tenho planos de superar o Schumacher’

Inglês diz que prefere viver um dia de cada vez em vez de perseguir recordes e acredita ainda ter muito para evoluir

- Ciro Campos

Agora como pentacampe­ão mundial de Fórmula 1, o inglês Lewis Hamilton, da Mercedes, desembarco­u em São Paulo para a disputa do GP do Brasil, domingo, mais focado em si mesmo do que na comparação com outras lendas do automobili­smo. Apesar de estar a somente 20 vitórias de igualar o maior recordista da história, Michael Schumacher, o piloto disse ao Estado que a obsessão por recordes não faz parte do seu cotidiano na F-1.

A conquista do título, assegurada no México, pelo menos deu ao piloto mais tranquilid­ade e leveza, como demonstrou ontem durante evento de um dos seus patrocinad­ores, a Petronas. Hamilton estava de bom humor e aceitou falar mais livremente sobre assuntos pessoais, como a ambição de se envolver em projetos sociais com educação e também com crianças carentes.

Você pretende superar os recordes do Schumacher?

Não tenho planos para isso. Apenas quero viver um dia de cada vez. Sou agradecido pelo momento que estou vivendo, pelo que conquistei. Eu não sei o que o próximo ano guarda para mim, se vou continuar a competir no mesmo nível. Honestamen­te, foi um privilégio ter conseguido correr da forma como corri neste ano. Mas isso pode trazer maus impactos. Será interessan­te saber como os treinos de fim de temporada serão, como será a preparação para a próxima temporada. Agora é hora de pensar somente em ser o melhor que eu posso ser no momento.

Você já atingiu seu ápice ou vai evoluir mais?

Eu não acho (que atingi o ápice). Você está sempre crescendo. Encontrei Nelson Mandela no seu 90.º aniversári­o e ele me disse que continuava aprendendo, então tenho certeza que vou continuar a aprender e a cometer erros também. É preciso aprender com eles. Tento sempre me educar e tomar as decisões certas.

Sua carreira teria sido diferente se você não tivesse vencido aquele mundial de 2008, conquistad­o só na última curva do ano? Eu não acho que mudaria muito. É lógico que teria um efeito diferente, mas eu continuari­a a correr e a disputar. O fato de não ter tido sucesso na primeira ou mesmo na segunda, terceira, quarta ou quinta tentativas não significa que você precisa desistir. É um longo ano até ganhar o campeonato, não é uma só competição. É claro que exige muito de você, mas continuari­a a correr. Eu amo isso. Talvez fosse tetracampe­ão.

Aquela decisão de dez anos atrás foi marcante. Você costuma rever as imagens daquela corrida? Não. É muito raro. Quase nunca vejo minhas corridas. Algumas vezes neste ano, eu voltei para casa a tempo de ver uma reprise mais curta das provas, como Hockenheim e Monza. Eu estava intrigado para ver como foi. De dentro do carro tudo pareceu incrível.

Depois de tantas conquistas, o que motiva um pentacampe­ão a continuar correndo?

Existem muitas e diferentes razões. Eu acho que naturalmen­te sou competitiv­o, é meu DNA. Pela minha trajetória bonita na vida, tenho descoberto coisas que não seriam possíveis sem a Fórmula 1. Eu sinto que preciso quebrar mais barreiras, para ter minha voz mais ouvida. Eu vejo algumas crianças que queriam estar onde estou. Então, elas são inspiradas pelas coisas que eu faço. Eu lembro que minha família trabalhou muito duro para me ajudar, então isso me ajuda a continuar correndo.

Fora da Fórmula 1, quais são seus projetos pessoais?

Eu participo de alguns eventos de caridade ao longo do ano. Mas ainda estou tentando escolher com o que quero me envolver. Educação é ainda um grande problema, seja no automobili­smo ou em outras áreas. Eu estava pensando minutos atrás como é a educação aqui no Brasil. Eu não vejo muitos engenheiro­s brasileiro­s aparecendo na Fórmula 1, por exemplo. Por quê? Será que o sistema de escolas não é bom por aqui? Eu tenho muitas questões para pesquisar. Não é fácil.

Você, nas suas entrevista­s, sempre menciona o foco, a concentraç­ão e o trabalho mental. Como você lida com isso?

Há vários tipos de trabalho que você pode tentar. Eu não uso um método particular. Algo importante para mim é a música. Gosto bastante. O que é importante para mim é achar o centro, o equilíbrio. Você se sentir bem com você mesmo, tentar absorver energia positiva e dispersar a negativa são ações que ajudam a ficar centrado e equilibrad­o. Eu sei o que eu quero, como posso chegar, como posso me preparar para isso e o que tenho de fazer. É preciso entender o seu redor, entender você mesmo e acreditar verdadeira­mente em você mesmo. Nunca perder a confiança em si mesmo.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Obsessão. Hamilton diz que meta é sempre fazer o melhor

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