O Estado de S. Paulo

Bolsonaro já trabalha com Previdênci­a ‘light’

Dificuldad­e em convencer Congresso a aprovar reforma este ano faz presidente eleito optar por caminho que dispense emenda à Constituiç­ão

- /TÂNIA MONTEIRO, MARIANA HAUBERT, ADRIANA FERNANDES, VERA ROSA, TEO CURY

Diante das evidentes dificuldad­es no Congresso para aprovar, ainda este ano, a reforma da Previdênci­a, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, trabalha numa versão “light”, formada por propostas que independam de alterações na Constituiç­ão. “Nós temos de ver aquela (proposta) que passa na Câmara e no Senado”, disse. “Amanhã (hoje) vou receber alguns parlamenta­res em casa com propostas para dar um passo na reforma da Previdênci­a sem ser por proposta de emenda à Constituiç­ão.”

O presidente eleito disse que está se empenhando para avançar com a reforma e que precisa resolver o mais rápido possível a questão das contas públicas. “O que queremos é votar alguma coisa o quanto antes.” Ele retorna hoje ao Rio de Janeiro, mas deverá vir novamente a Brasília na semana que vem para prosseguir com as negociaçõe­s.

Sem alterar a Constituiç­ão, não são alterados pontos simbólicos, como a instituiçã­o de uma idade mínima para aposentado­ria. Mas a mudança de leis pode ter efeito importante sobre a trajetória de cresciment­o dos gastos com benefícios previdenci­ários. Essa estratégia foi tentada pelo atual governo, mas acabou abandonada.

Uma emenda à Constituiç­ão precisa do o apoio de dois terços dos 513 deputados e 81 senadores, em dois turnos de votação. Já uma alteração na lei pode ser aprovada por maioria, em apenas um turno. Por isso esse pacote mais modesto tem melhores chances de avançar.

Num esforço de aparar arestas com os parlamenta­res, que ontem aprovaram uma “bomba fiscal” na forma de reajuste salarial para o Judiciário, Bolsonaro minimizou a declaração de seu principal assessor, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que falou em dar uma “prensa” no Congresso para aprovar a reforma. “Não tem prensa. O que acontece com alguns do meu lado é que não tem a vivência política. Eu apesar de ter, levo, tantas vezes, cascudo de vocês. Imagina quem não tem essa experiênci­a. A palavra não é prensa, é convencime­nto.”

Bolsonaro reconheceu ainda que há resistênci­as não só no Congresso para votar a reforma. “Obviamente é um desgaste votar reforma da previdênci­a. Mas eu não vou me furtar desse compromiss­o. Eu vim candidato e sabia que teremos muitos problemas pela frente.” E brincou: Não é só felicidade e lua de mel. O casamento começou muito antes da data marcada, que é primeiro de janeiro.”

A estratégia de votar sós a parcela da reforma que não altera a Constituiç­ão foi discutida na audiência que Bolsonaro teve com o presidente Michel Temer. O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, esteve com Temer no final da tarde, preocupado com a possibilid­ade de ser encerrada a intervençã­o federal no Estado para possibilit­ar a votação de emendas à Constituiç­ão. O presidente disse, então, que a ideia é votar só propostas infraconst­itucionais.

A reforma da Previdênci­a é o tema dominante de todas as reuniões de Bolsonaro e Paulo Guedes em Brasília. Segundo o presidente eleito, sem resolver a questão das contas públicas não será possível avançar na economia. Ontem, Guedes teve uma reunião com o secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano, para discutir as alterações que podem ser feitas na proposta de reforma que se encontra na Câmara dos Deputados.

Na reunião, a equipe de transição quis saber detalhes sobre cada etapa de negociação da proposta em tramitação.

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ADRIANO MACHADO/REUTERS ‘Prensa’. Bolsonaro minimizou fala de Guedes sobre reforma

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