O Estado de S. Paulo

Karol Conká traz intimidade em disco

‘Ambulante’, que será lançado hoje, foi gravado na própria casa da cantora e rapper curitibana, em São Paulo

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

“Fiquei ali, parada por alguns minutos, quando o disco terminou de tocar. Original, sem cópia. Era esse o eco dentro do meu peito, na minha cabeça.” O depoimento, enviado à imprensa, é de Elza Soares, convidada a escrever sobre o novo álbum da cantora e rapper curitibana Karol Conká, Ambulante, que será lançado nas plataforma­s digitais nesta quinta-feira, 8.

No trecho, Elza cita a frase “Original, sem cópia”, da música que abre o disco, Kaça. A canção se inicia com os versos “Eles querem meu sangue na taça / Eu até acho graça”. Karol, de 31 anos, é bem conhecida por sua militância por causas sociais que se relacionam com a sua própria vida, como das mulheres, negros e pessoas LGBT. Neste seu segundo álbum de estúdio (o primeiro foi Batuk Freak, de 2013), ela não deixou de abordar assuntos sociais, em músicas como Vida Que Vale e Vogue do Gueto.

“Se as coisas fossem equilibrad­as no País, meus temas seriam outros”, diz Karol em entrevista ao Estado, por telefone. “Escolhi a música para ajudar as pessoas, sempre gosto de falar de coisas que possam confortar alguém”, ela completa. “Quando falo da minha vida pessoal, sei que os assuntos também se encaixam na vida de outras pessoas.”

A cantora afirma que, com o disco, seus fãs vão poder conhecer um pouco mais de sua intimidade. As 10 músicas de Ambulante foram gravadas, durante quatro semanas, em seu próprio apartament­o, com a ajuda do produtor musical Boss In Drama. As letras falam do que Karol viveu à época. “Fiz num clima totalmente intimista, na minha sala”, relembra a cantora. “Pensei muito em como passar tudo o que estava dentro do meu peito. Musicaliza­r é uma terapia, um alívio.”

Algumas das letras falam também de amor e de sexo, sem preconceit­os ou pudores. “Às vezes, dava vontade de cantar sobre isso”, ela diz. “Uma situação me deu vontade de mandar um recado para um cara. As meninas também gostam de fazer sexo sem compromiss­o e não precisam parecer sujas por isso.”

Os ritmos escolhidos para o álbum também refletem os seus sentimento­s naquele momento e ainda explicam o título Ambulante. “Gosto da variação, brincar com ritmos, tenho um gosto plural e não me encaixo em nada”, explica. “Sinto que sou ambulante, um ser que transita por todos os lugares. A minha bagagem é a minha música, minhas experiênci­as.”

O disco mistura gêneros, que vão desde o axé em Bem Sucedida (com trecho da música baiana Piririm Pom Pom), um trap em Suíte, inspirado por Rihanna, e o reggae jamaicano na música Saudade, que ganhou o coração da cantora e drag queen Pabllo Vittar. “Mostrei e ela amou”, revela Karol. “É uma música triste, mas canto sorrindo.”

A própria mistura está também na maneira com que Karol interpreta as canções – por vezes cantando, por vezes fazendo rap. “Quis me soltar, fiquei mais à vontade”, relata. “Para mim, é natural cantar ou rimar, minhas influência­s são variadas, vão de Björk e Enya até Beyoncé. Também gosto de álbuns de flauta.”

O feminino. Além de lançar o novo álbum, Karol participou, recentemen­te, de uma campanha promovida por um serviço de streaming para estimular o consumo de músicas de artistas femininas. Ao lado dela, estavam nomes como Maiara & Maraísa e Mart’nália, além da própria Elza Soares. “São mulheres incríveis, fiquei emocionada em participar.”

Ao receber o texto de Elza, a curitibana diz ter se arrepiado. “Não estava esperando, ela já fazia parte da minha vida antes mesmo de eu conhecê-la pessoalmen­te”, relembra. “Elza sempre foi um símbolo de resistênci­a, de poder. Uma mulher de fibra, assim como minha avó e minha mãe.” Segundo Karol, sua avó, dona Brasilina, passou por situações de violência semelhante­s à de Elza. “Aprendi com o rap a falar da minha realidade, que eram minha mãe e minha avó resistindo.”

Dona Brasilina, aliás, que já foi citada por Karol na música 100% Feminista, lançada em parceria com a funqueira MC Carol, em 2016, foi a grande incentivad­ora para a curitibana enveredar para o meio artístico. “Quando eu nasci, minha avó me pegou no colo e disse que eu seria a artista da família”, diz Karol, rindo.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Feminino. Karol canta no seu segundo disco sobre os sentimento­s e desejos das mulheres
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