O Estado de S. Paulo

Silvia Colello, professora da Faculdade de Educação da Universida­de de São Paulo (USP)_

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1.A baixa remuneraçã­o é um dos principais fatores para a desvaloriz­ação da carreira docente?

Os baixos salários são, ao mesmo tempo, causa e consequênc­ia. As pessoas desvaloriz­am o professor porque ele ganha pouco e ele ganha pouco porque não é valorizado nas políticas públicas. Além disso, os políticos sempre falam genericame­nte sobre a valorizaçã­o do docente. Nunca se desenvolve a ideia de que é preciso melhorar a questão salarial, a evolução da carreira, as condições de trabalho e o apoio que ele deve receber da equipe escolar e das famílias.

2.Os pais também desvaloriz­am o professor?

Na maioria dos casos, o professor não conta com o apoio da família porque muitas não querem se envolver com o que acontece na escola. Então, não querem saber do mal comportame­nto ou do baixo desempenho do filho. Preferem culpar o professor por essas situações. Propostas que estão sendo colocadas nesse momento, como o Escola Sem Partido (em tramitação no Congresso Nacional e defendido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, do PSL), tendem a acirrar essa relação por colocar pais e professore­s em lados opostos, por incentivar que o docente seja vigiado, controlado, perca a autonomia sobre o quê e como ensinar.

3.O País está perdendo bons professore­s pela forma como os trata? Sim. Os jovens com melhor desempenho vão para as profissões mais valorizada­s, com melhores salários. Os cursos de Licenciatu­ra e Pedagogia são vistos como o “que sobrou”, porque ninguém quer seguir a carreira. Cada vez menos temos fatores de recompensa. A médio e longo prazo, isso é um desastre para a educação do Brasil. /I.P.

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