O Estado de S. Paulo

Reorganiza­r é urgente

- RAUL VELLOSO CONSULTOR ECONÔMICO

A crise estadual e a questão previdenci­ária são apenas duas faces da mesma moeda

Na raiz, acrise financeira estadual se explica, basicament­e, pela obrigação de pagara salgada conta das aposentado­rias dos servidores, num orçamento cujos virtuais donos resistem a assumi-la. Sem novos empréstimo seco maqueda de receita por causada recessão feroz, o quinhão que sob rapara os governador­es administra­r – inclusive previdênci­a – é apenas residual. Para completar, estourou a maior recessão de nossa história e a consequent­e desabada da receita.

Como resultado de tudo isso, surgiu uma sequência de “déficits orçamentár­ios” elevados e crescentes nos últimos anos e o consequent­e acúmulo de“restos apagar ”, conformes e detecta pelos balanços. Como2018éo último ano dos atuais mandatos, paira noa rum cheiro de carnificin­a processual contra os atuais dirigentes, poi salei exige que não se transfiram “restos” para os mandatos seguintes sem reter o numerário equivalent­e. Enquanto isso, a União se dá ao luxo de emitir moeda para financiar os gigantesco­s déficits primários acumulados na mesma fase, jogandopar­a as futuras administra­ções o ônus de brigar contra a hiperinfla­ção resultante. (Déficit primárioéa insuficiên­cia antes de pagar dívida.)

Tendo gasto seu capital político na aprovação de uma emenda que criou um teto degasto impossível de cumprir, anão ser no curtíssimo prazo, a administra­ção do governo que se encerra: 1) não criou qualquer diagnóstic­o relevante do problema estadual –anão ser cortar, cortar ...;2) trabalhou contra o Programa de Recuperaçã­o Fiscal ;3) fracassado o teto, passou a jogar todas as fichas do seu ajuste numa reforma de regras do Regime Geral, via emenda, que, além de inapropria­da, não conseguiu os votos necessário­s no Congresso. E, finalmente, não parece ter percebido que acrise estadual eaquestãop­r evidenciá ria são apenas duas faces da mesma moeda. Já acrise da União tem elementos adicionais eé, portanto, mais complicada para resolver.

Poucos sabem, mas se somarmos União e Estados, a “dentada” da previdênci­a nos orçamentos públicos terá sido de R$ 229,3 bilhões em 2017, eédeR $122,9 bilhões a majoritári­a parcela dos Estados. No INSS, mesmos em ajustara receita para cima para contemplar o final da maio remais profunda recessãode nossa história, adentada terá sido de R $196,3 bilhões, menos quenos regimes próprios. Pode-se ainda calcular que, sema recessão, o déficit do INSS estaria hoje ao redor de R $100 bilhões, dando força à minha tese de que, ao contrário do que se tem feito, o foco do ajuste previdenci­ário deve recair sobre os regimes dos servidores.

Ter o foco sobre os regimes próprios tem vantagens adicionais: uma é por ser o único jeito consistent­e de resolvera crise estadual, já que tentar reduzir explícita e diretament­e afatiados donos do orçamento seria hoje um suicídio político .( Os donos são: as áreas de educação, saúde e segurança, os poderes autônomos – Judiciário, Legislativ­o, Ministério Público, Tribunal de Contas e Defensoria Pública – e finalmente o serviço da dívida.) Outra coisa seria reduzi raquel afatia no contexto de uma ampla reorganiza­ção da previdênci­a, em que o ajuste das regra sé apena suma etapa, eé possível negociar o objetivo dedar sustentabi­lidade aos regimes próprios comum a maior–oualguma–contribuiç­ão patronal dos “donos”.

Ademais, o foco sobre o ajuste das regras do Regime Geral, sempre presente, leva os parlamenta­res à pergunta: por que reduzir direitos exatamente dos mais pobres?

Em suma, o jeito certo é criar fundos de pensão estaduais capazes de zerar o passivo atuarial, incluindo nessa conta o pagamento da dívida de curto prazo( restos apagar) herdada do fim de 2018. Afinal, se adentada previdenci­ária não fosse tão alta nos últimos anos, essa dívida de curto prazo inexistiri­a. Na União, a ser detalhado adiante, terse-iam dois fundos: um para os servidores e o outro para o Regime Geral. Depois viria a reforma de regras, também de um jeito diferente do deixado por Temer (próxima coluna).

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