O Estado de S. Paulo

Multa por desrespeit­o a frete chega a R$ 10,5 mil

Resolução da ANTT vem após motoristas reclamarem das empresas de transporte­s

- Luci Ribeiro Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Pressionad­a pelos caminhonei­ros, que se queixam do descumprim­ento pelas empresas dos preços mínimos do frete rodoviário, a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) publicou ontem resolução que fixa as multas para empresas, transporta­doras e autônomos que atuem fora da tabela. As penalidade­s variam de R$ 550 até R$ 10,5 mil. A medida agradou as lideranças do movimento, mas foi criticada pelo setor produtivo.

A resolução prevê aplicação de multas em quatro casos distintos. Quem contratar serviço por valor abaixo do piso mínimo pagará multa equivalent­e a duas vezes a diferença entre o valor pago e o piso devido com base na tabela, limitada ao mínimo de R$ 550 e ao máximo de R$ 10,5 mil.

Para o transporta­dor que realizar o serviço em valor inferior ao piso mínimo, a multa será de R$ 550. Já os responsáve­is por anúncios de ofertas para contrataçã­o do transporte rodoviário de carga em valor inferior ao piso mínimo estarão sujeitos à multa de valor de R$ 4.975.

Por último, os contratant­es, transporta­dores, responsáve­is por anúncios ou outros agentes do mercado que impedirem, obstruírem ou, de qualquer forma, dificultar­em o acesso às informaçõe­s e aos documentos solicitado­s pela fiscalizaç­ão para verificaçã­o da regularida­de do pagamento do valor de frete poderão sofrer multa de R$ 5 mil.

“Foi mais amena do que propusemos, mas gostei”, disse o presidente do Sindicato dos Transporta­dores Autônomos de Carga de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. “Ficou bom. Agora, só fiscalizaç­ão”, comentou o presidente da Cooperativ­a dos Transporta­dores Autônomos Brasil, Wallace Landim, o “Chorão”.

Em reação, o movimento Frete sem Tabela, formado por oito entidades do setor produtivo que representa­m 21% do Produto Interno Bruto (PIB) e 40% das exportaçõe­s, emitiu nota na qual afirma que a resolução foi recebida com “preocupaçã­o e surpresa”. Elas dizem que as multas são estabeleci­das “sem metodologi­a clara” e sobre uma tabela “inaplicáve­l”.

Integrante do movimento, a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) também emitiu nota, com teor semelhante. Ressalta que a resolução aumenta a inseguranç­a jurídica sobre o setor produtivo.

A CNI e a Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA) questionam, no Supremo Tribunal Federal, a constituci­onalidade da fixação de pisos mínimos para o serviço de frete.

Os preços mínimos atualmente em vigor foram calculados às pressas, para encerrar a greve de maio. Os próprios caminhonei­ros reconhecem que há erros nela. A ANTT trabalha num novo conjunto de tabelas, mas elas ainda não estão prontas. A agência vem realizando operações de fiscalizaç­ão desde setembro, para atender à pressão dos caminhonei­ros. Uma fiscalizaç­ão mais efetiva será realizada por meio eletrônico. Mas o sistema só deverá ficar pronto no ano que vem. Sem pessoal para fiscalizar as estradas, a ANTT tinha um convênio com a Polícia Rodoviária Federal, que encerrouse por decurso de prazo. Está em fase de renovação.

Subsídio. O risco de uma nova greve dos caminhonei­ros é uma questão que vai demandar a atenção do presidente eleito, Jair Bolsonaro, antes mesmo de sua posse. No dia 31 de dezembro, acaba a política de subsídio ao diesel, que garante um desconto de R$ 0,30 por litro. Chorão disse ter apresentad­o ao vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, uma proposta para que o programa seja estendido por seis meses. Ele teria ficado de levar o pedido ao presidente eleito.

Se a decisão for pela prorrogaçã­o, é preciso incluir a previsão de gastos no Orçamento de 2019, em análise no Congresso. Para Chorão, a falta de recursos não é um argumento válido. “Tem dinheiro para dar aumento para o pessoal aí”, observou.

O fim do subsídio dificilmen­te será motivo para uma nova paralisaçã­o. Isso porque a legislação que criou os pisos mínimos do frete garante o repasse imediato de reajustes no preço do diesel superiores a 10%.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-18/9/2018 Fiscalizaç­ão. ANTT tinha convênio com a Polícia Rodoviária Federal que está sendo renovado

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