O Estado de S. Paulo

PF diz que Joesley ‘mentiu e ocultou fatos’ em delação

Segundo o delegado Mario Veloso, objetivo era ‘tirar a polícia da linha de investigaç­ão correta’; defesa de empresário nega omissões

- Leonardo Augusto ESPECIAL PARA O ESTADO BELO HORIZONTE COLABOROU BRENO PIRES /

A Polícia Federal afirmou que as investigaç­ões da Operação Capitu, deflagrada ontem em cinco Estados e no Distrito Federal, mostraram que o empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, “mentiu e ocultou fatos” na delação premiada que firmou no âmbito da Operação Lava Jato. O objetivo de Joesley, segundo os delegados responsáve­is pelo caso, era “tirar” a PF “da linha de investigaç­ão correta”.

A Operação Capitu, desdobrame­nto da Lava Jato, investiga pagamento de propina a representa­ntes do Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto em 2014 e 2015. Entre os presos, além do empresário, está o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade, que foi ministro da pasta no governo Dilma Rousseff (PT).

O delegado da PF Mario Veloso disse que a colaboraçã­o tinha a tendência de direcionar a investigaç­ão da PF e “tirar a Polícia Federal da linha de investigaç­ão correta”. Para ele, a nova operação “prejudica a legitimida­de dessa colaboraçã­o, embora muitas das provas apresentad­as e declaraçõe­s dos colaborado­res sejam válidas, independen­te de essa colaboraçã­o ser invalidada futurament­e ou não”.

Delação. O acordo de delação de Joesley, assinado em maio de 2017, foi rescindido pela Procurador­ia-Geral da República (PGR) em setembro do mesmo ano, ainda na gestão de Rodrigo Janot, sob a alegação de que o delator mentiu sobre fatos que tinha conhecimen­to e também teria sonegado informaçõe­s à época. Para que a rescisão tenha validade jurídica, é preciso que o relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, homologue a decisão. O processo ainda está sendo instruído, com depoimento marcado para a próxima segunda-feira de Janot na condição de testemunha. Não há data para o julgamento do caso.

Saud. Na decisão que autorizou a Operação Capitu, a desembarga­dora Mônica Sifuentes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, citou intercepta­ção telefônica feita em 12 de dezembro de 2014, em que o executivo da J&F Ricardo Saud conversa com o ex-ministro Neri Geller, da Agricultur­a, pergunta sobre possível boato de revogação do “negócio lá que veio da Casa Civil, da Ivermectin­a”.

Na ocasião, de acordo com a investigaç­ão, Geller disse que não iria revogar. “Tal declaração, no entanto, parece não correspond­er ao que foi apurado na investigaç­ão policial, por meio dos diálogos intercepta­dos durante a Operação ‘O Quinto’, nos quais se vê claramente que Ricardo Saud mantinha relacionam­ento de proximidad­e com o então ministro Neri Geller e as negociaçõe­s em torno da utilização da Ivermectin­a”, apontou a magistrada.

A desembarga­dora acrescento­u que, em 7 de janeiro de 2015, “conforme os áudios da operação O Quinto, foi possível tomar conhecimen­to da possível eliminação de documentos ocorrida na sede da empresa J&F”. “Nos diálogos, Ricardo Saud se mostra inicialmen­te surpreso com a notícia dada por sua secretária, Gisele, e depois fala como se soubesse o motivo pelo qual Joesley Mendonça Batista teria tomado tal atitude. Joesley e Demilton estão fazendo ‘uma limpeza na sala’, segundo fala da secretária Gisele, o que desmente a afirmação feita por Joesley perante a autoridade policial.”

Na avaliação da magistrada, “as declaraçõe­s são, portanto, recentes, e não correspond­em ao que foi até o momento apurado pela autoridade policial, revelando que os indiciados continuam a ocultar os fatos”.

Segundo o delegado Veloso, quando as investigaç­ões foram confrontad­as com as delações feitas dentro da Lava Jato houve quatro oportunida­des para que os colaborado­res fornecesse­m informaçõe­s, o que não ocorreu. “A PF descobriu omissões intenciona­is e contradiçõ­es graves que colocam em xeque a credibilid­ade da delação. Isso caracteriz­ou obstrução de Justiça e prejuízo à instrução criminal do inquérito. Mentiram e omitiram sobre pontos.”

A defesa de Joesley diz que não houve omissão do empresário na sua delação. “Os pontos trazidos pelo delegado nessa sexta-feira (ontem) constam em diversos anexos que fazem parte da colaboraçã­o de Joesley Batista feita em maio de 2017 com o Ministério Público.”

“A PF descobriu omissões intenciona­is e contradiçõ­es graves que colocam em xeque a credibilid­ade da delação. Isso caracteriz­ou obstrução de Justiça e prejuízo à instrução criminal do inquérito.” Mario Veloso

DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL QUE

PARTICIPOU DA OPERAÇÃO CAPITU

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POLICIA FEDERAL chega à sede da PF em SP; preso em Minas, Mateus Gomes tentou se desfazer de dinheiro, ao jogá-lo no vaso sanitário (dir.)
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NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS Prisão. Ricardo Saud (à esq.)

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