O Estado de S. Paulo

Em 8 meses, empresário prestou mais de 30 depoimento­s

Para responder a mais de 100 inquéritos e garantir liberdade, defesa virou ‘trabalho de tempo integral’ para Joesley

- Renata Agostini / RIO Fernando Scheller

Mais célebre delator do País, o bilionário Joesley Batista, um dos donos da JBS, esforçava-se para levar rotina discreta desde que foi autorizado a deixar a prisão, em março deste ano, após passar seis meses no cárcere.

A vida reclusa, como fontes próximas ao empresário classifica­ram ao Estado seu dia a dia, era, em parte, consequênc­ia das limitações impostas pela Justiça. Para responder em liberdade, ele fora proibido de participar da gestão de suas principais empresas e de fazer viagens para o exterior.

A rotina derivava também do receio da reação das pessoas caso voltasse a circular por restaurant­es badalados e eventos da alta sociedade de São Paulo – o irmão Wesley chegou a ser hostilizad­o em uma churrascar­ia paulistana enquanto almoçava com filhos e neto.

De tornozelei­ra eletrônica, Joesley passava a maior parte de seu tempo em sua casa, no bairro do Jardim Europa, onde é vizinho dos pais e de Wesley. O empresário evitava aparecer na sede da J&F e da JBS com receio de sua presença ser interpreta­da como infração às exigências da Justiça. Amiúde, porém, visitava o instituto Germinare, braço social da J&F. Com a limitação judicial para viagens ao exterior e a necessidad­e de demonstrar austeridad­e financeira e de aparentar hábitos mais simples, Joesley colocou à venda seu apartament­o em Nova York – que já encontrou comprador –, sua casa no balneário de Angra dos Reis e seu iate, que ainda buscam interessad­os. Vez ou outra, o empresário refugiava-se em uma de suas fazendas acompanhad­o da família, segundo uma fonte próxima. Sua mulher, a ex-apresentad­ora de TV Ticiana Villas Boas, está grávida do segundo filho do casal e do quinto de Joesley, que tem outros três do primeiro casamento.

Delação. O empresário ocupava-se de forma incessante dos processos que resultaram de sua delação. No total, foram mais de cem inquéritos abertos em diversos Estados a partir das informaçõe­s de sua colaboraçã­o premiada. Havia documentos a juntar e depoimento­s a prestar. Desde março, quando deixou a prisão, foram ao menos 30 depoimento­s, em várias cidades, incluindo Belo Horizonte, Brasília, de acordo com levantamen­to da defesa.

As obrigações do acordo tomavam tanto seu tempo que Joesley costumava brincar com os delegados que tomavam seu depoimento que havia se tornado “funcionári­o da Polícia Federal em tempo integral”.

Alijado dos negócios, legou as decisões do conglomera­do que tocava ao lado de Wesley a outros integrante­s da família. A holding do conglomera­do J&F, que era por ele presidida, passou a ser comandada pelo sobrinho José Antônio Batista.

O grupo, que conseguiu promover uma reestrutur­ação financeira após a crise desencadea­da pela divulgação da delação dos irmãos, ainda enfrenta dificuldad­es. Recentemen­te, entrou em disputa societária com a multinacio­nal Paper Excellence, que havia firmado acordo para comprar a fabricante de celulose Eldorado.

Inesperado. A prisão pegou Joesley e os familiares de surpresa. O empresário se preparava para viajar a Brasília na segunda que vem para prestar depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), passo que considerav­a importante na defesa da manutenção de seu acordo. Planejava passar o fim de semana debruçado sobre o caso e reunindo documentos. Fazia cálculos sobre os próximos passos, mas mão imaginava ter de retornar oito meses depois à prisão.

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NA WEB Análise. Operação Lava Jato não perde o ritmo estadao.com.br/e/analiselav­ajato

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