O Estado de S. Paulo

Investigaç­ão da Boi Barrica foi inviabiliz­ada

Suspensão de escutas impossibil­itou denúncia; Lewandowsk­i derrubou censura imposta ao ‘Estado’ após 3.327 dias

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

A anulação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) das intercepta­ções telefônica­s da Operação Boi Barrica, depois rebatizada de Faktor, em setembro de 2011, interrompe­u a investigaç­ão em andamento e inviabiliz­ou a apresentaç­ão de denúncias contra os investigad­os, entre eles, Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney.

Anteontem, o ministro Ricardo Lewandowsk­i, do Supremo Tribunal Federal, derrubou a censura imposta ao Estado, que ficou proibido de publicar informaçõe­s sobre a operação durante 3.327 dias por determinaç­ão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Território­s.

Como revelou à época o Estado, o processo que resultou na anulação tramitou em alta velocidade, se comparado com casos parecidos. O relator foi o ministro Sebastião Reis, que levou seis dias para elaborar voto de 54 páginas em que considerou ilegais as provas obtidas com a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico dos investigad­os.

O argumento central levantado pela defesa de João Odilon Soares, funcionári­o do grupo Mirante de Comunicaçã­o, que pertence à família Sarney, e aceito pelo STJ, foi de que o pedido de quebra de sigilo teve como base apenas um relatório do Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf).

O documento, que deu início ao inquérito, revelou dois saques de R$ 1 milhão cada feitos por Fernando Sarney na véspera da eleição de 2006, quando sua irmã Roseana Sarney foi candidata ao governo do Maranhão. O Coaf classifico­u as transações como atípicas e encaminhou o relatório à PF.

O material colhido nas intercepta­ções serviu de base para a abertura de cinco inquéritos e apontou indícios de tráfico de influência, quadrilha, desvio e lavagem de dinheiro praticados por Fernando Sarney e pessoas ligadas a ele. O filho de Sarney chegou a ser indiciado pela PF mas, com a anulação, o Ministério Público não teve tempo para oferecer denúncia.

Além dos inquéritos, uma cooperação internacio­nal com a Suíça ficou comprometi­da após a anulação das provas pelo STJ. Os suíços haviam bloqueado US$ 13 milhões em uma conta em nome de Fernando Sarney.

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