O MAM-Rio deveria vender seu Pollock para fazer caixa?
Sim
Sou a favor da venda do Pollock para a criação de um fundo patrimonial. Esta decisão foi tomada no fim do ano passado pelo conselho do museu, do qual hoje faço parte, e o trabalho de diagnóstico feito nos últimos meses, com o apoio de consultores de renome, não reverteu ou modificou as expectativas do museu; pelo contrário, reafirmou a necessidade da criação de um fundo que assegure a sustentabilidade da instituição.
Esta é uma decisão sofrida e, pela sua natureza, era esperado que recebesse críticas. Como foi bem fundamentada, ela merece críticas caso estas sejam igualmente informadas e construtivas. Mas pessoas de fora do museu não têm a verdadeira dimensão de sua complexidade.
O objetivo é a capitalização, e este é um termo feliz para o bom entendimento da questão, pois significa agregar recursos ao patrimônio sem uma destinação específica e pontual. É o que se busca com um fundo como este.
O MAM é uma instituição privada sem fins lucrativos. Não recebe recursos governamentais. Recursos incentivados ou via editais são esparsos, para fins determinados e, em sua maioria, temporários. E a verba oriunda de empresas mantenedoras, embora importante, não é suficiente para sustentar um museu deste porte.
O que buscamos é a autonomia financeira, a sustentabilidade, a exemplo de vários museus es- trangeiros, o que somente pode ser atingido atra- vés de doações “sem carimbo” e destinadas à cria- ção de um fundo.
O MAM é um museu potente, com 70 anos e visibilidade internacional, e que precisa ter uma segurança financeira para se poder planejar a curto, médio e longo prazo. O fundo patrimonial deverá ser capaz de render anualmente valores que o levarão ao equilíbrio econômico-financeiro e que garantirá estabilidade para buscar recursos adicionais.
Não
A venda é absurda e não é necessária. A dívida do MAM não é grande. O Masp saiu de uma situação muito pior sem vender nada. Em dois anos de boa gestão, reverteu as tendências e ganhou, para além do dinheiro arrecadado, aquilo que é mais precioso no mundo da arte: credibilidade. Com isso, trouxe investidores, e hoje o museu está com sobra no caixa. A venda do Pollock se dá num quadro de incertezas e falta de transparência sobre como os recursos serão aplicados. Questiono a maneira escusa como a diretoria do museu vem levando essa negociação.
Falo por mim, mas também pelo Grupo PróMAM, do qual faço parte. Somos artistas, críticos, curadores, colecionadores, 300 pessoas que assinaram um manifesto contra a venda de uma das mais importantes obras do acervo permanente do MAM.
Nosso manifesto pedia, entre outras coisas, uma justificativa para a venda. A partir do documento, eles decidiram contratar uma auditoria profissional, a Falcone, e o resultado, ainda não publicado, mostrou que a desastrosa administração levou o museu à situação em que agora se encontra.
Alguns conselheiros nos garantiram que a venda da obra não seria prioridade, porque o mais importante era a busca de uma gestão profissional, em primeiro lugar. Mas o conselho não impediu esta venda; passou a ser cúmplice, se não pela ação, pela omissão diante desse absurdo. Quem vai colocar dinheiro numa instituição que age dessa maneira? O que capitaliza uma instituição é mostrar a cara, buscar com eficiência novos parceiros. Jogaram no mercado internacional (nem deram oportunidade ao brasileiro!) o único Pollock que aqui existia. Isso não significará a “salvação” do MAM. O dinheiro vai acabar e a solução, dirão eles, será vender outra obra.