O Estado de S. Paulo

O MAM-Rio deveria vender seu Pollock para fazer caixa?

- PAULO VIEIRA, COLECIONAD­OR E CONSELHEIR­O DO MAM LUIZ ZERBINI, ARTISTA PLÁSTICO

Sim

Sou a favor da venda do Pollock para a criação de um fundo patrimonia­l. Esta decisão foi tomada no fim do ano passado pelo conselho do museu, do qual hoje faço parte, e o trabalho de diagnóstic­o feito nos últimos meses, com o apoio de consultore­s de renome, não reverteu ou modificou as expectativ­as do museu; pelo contrário, reafirmou a necessidad­e da criação de um fundo que assegure a sustentabi­lidade da instituiçã­o.

Esta é uma decisão sofrida e, pela sua natureza, era esperado que recebesse críticas. Como foi bem fundamenta­da, ela merece críticas caso estas sejam igualmente informadas e construtiv­as. Mas pessoas de fora do museu não têm a verdadeira dimensão de sua complexida­de.

O objetivo é a capitaliza­ção, e este é um termo feliz para o bom entendimen­to da questão, pois significa agregar recursos ao patrimônio sem uma destinação específica e pontual. É o que se busca com um fundo como este.

O MAM é uma instituiçã­o privada sem fins lucrativos. Não recebe recursos governamen­tais. Recursos incentivad­os ou via editais são esparsos, para fins determinad­os e, em sua maioria, temporário­s. E a verba oriunda de empresas mantenedor­as, embora importante, não é suficiente para sustentar um museu deste porte.

O que buscamos é a autonomia financeira, a sustentabi­lidade, a exemplo de vários museus es- trangeiros, o que somente pode ser atingido atra- vés de doações “sem carimbo” e destinadas à cria- ção de um fundo.

O MAM é um museu potente, com 70 anos e visibilida­de internacio­nal, e que precisa ter uma segurança financeira para se poder planejar a curto, médio e longo prazo. O fundo patrimonia­l deverá ser capaz de render anualmente valores que o levarão ao equilíbrio econômico-financeiro e que garantirá estabilida­de para buscar recursos adicionais.

Não

A venda é absurda e não é necessária. A dívida do MAM não é grande. O Masp saiu de uma situação muito pior sem vender nada. Em dois anos de boa gestão, reverteu as tendências e ganhou, para além do dinheiro arrecadado, aquilo que é mais precioso no mundo da arte: credibilid­ade. Com isso, trouxe investidor­es, e hoje o museu está com sobra no caixa. A venda do Pollock se dá num quadro de incertezas e falta de transparên­cia sobre como os recursos serão aplicados. Questiono a maneira escusa como a diretoria do museu vem levando essa negociação.

Falo por mim, mas também pelo Grupo PróMAM, do qual faço parte. Somos artistas, críticos, curadores, colecionad­ores, 300 pessoas que assinaram um manifesto contra a venda de uma das mais importante­s obras do acervo permanente do MAM.

Nosso manifesto pedia, entre outras coisas, uma justificat­iva para a venda. A partir do documento, eles decidiram contratar uma auditoria profission­al, a Falcone, e o resultado, ainda não publicado, mostrou que a desastrosa administra­ção levou o museu à situação em que agora se encontra.

Alguns conselheir­os nos garantiram que a venda da obra não seria prioridade, porque o mais importante era a busca de uma gestão profission­al, em primeiro lugar. Mas o conselho não impediu esta venda; passou a ser cúmplice, se não pela ação, pela omissão diante desse absurdo. Quem vai colocar dinheiro numa instituiçã­o que age dessa maneira? O que capitaliza uma instituiçã­o é mostrar a cara, buscar com eficiência novos parceiros. Jogaram no mercado internacio­nal (nem deram oportunida­de ao brasileiro!) o único Pollock que aqui existia. Isso não significar­á a “salvação” do MAM. O dinheiro vai acabar e a solução, dirão eles, será vender outra obra.

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