O Estado de S. Paulo

‘PRENDER 100 MIL NÃO SERIA PROBLEMA’

Ele quer tipificar como terrorismo ação do MST e fixar idade mínima distinta para trabalhado­r braçal se aposentar

- Marcelo Godoy

Deputado mais bem votado da história da Câmara, o filho do presidente eleito afirmou que vai lutar para tipificar como terrorismo os atos do Movimento dos Trabalhado­res Sem-Terra (MST) mesmo que seja preciso prender 100 mil pessoas.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, de 34 anos, devia acompanhar o pai, o presidente eleito Jair Bolsonaro, em sua primeira visita ao Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira. Seu apartament­o ainda guardava marcas na mesa da primeira reunião da equipe de transição, na noite anterior. Reeleito com 1,8 milhão de votos em São Paulo – o mais bem votado da história da Câmara –, o filho do presidente afirmou que vai lutar para tipificar como terrorismo os atos do Movimento dos Trabalhado­res SemTerra (MST) um dia depois de o futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, mostrar sua discordânc­ia sobre o tema. “Se for necessário prender 100 mil. Qual o problema?” Também quer tornar o comunismo crime. Defendeu uma idade mínima para a aposentado­ria diferente entre trabalhado­res braçais e de escritório e a aprovação do projeto Escola Sem Partido, além de propor uma Constituin­te exclusiva para a reforma política. Não descarta ser candidato a prefeito ou governador de São Paulo e almeja criar um Foro de São Paulo da direita. Eis sua entrevista.

Indicar Sérgio Moro para a Justiça não dá munição ao PT para dizer que Lula foi perseguido? Não vejo nenhuma perseguiçã­o ao PT. Ele condenou gente de todos os partidos. Não temos essa preocupaçã­o, pois eles sempre vão criticar.

O sr. disse que era preciso um presidente da Câmara com perfil de trator. O governo não quer negociar com a oposição? Negativo. A oposição é saudável. O que não é saudável é você tentar a todo custo derrubar um governo só para que os seus correligio­nários cheguem ao poder. Com essa oposição, no qual se enquadram, principalm­ente o PT, PCdoB e o PSOL, não existe espaço para dialogar. Como vou dialogar com o MST invadindo terras? Não tem como. Agora, com assentado de reforma agrária que quer produzir tem como conversar. Com os demais – PSDB, MDB, PP – não tem problema.

Essa negociação incluiria as eleições das presidênci­a do Senado e da Câmara? Sim.

Com a manutenção de Maia? Eu, pessoalmen­te, tenho a preferênci­a por outros.

Capitão Augusto (PR-SP)?

Dei uma entrevista e elogiei ele. Tem outros que eu gosto: o João Campos (PRB-GO) e o Alceu Moreira (MDB-RS). E tem o Giacobo (PR-PR).

O mesmo vale para o MDB no Senado? Renan é um nome?

O Renan é um pouco mais complicado. Ele segurou a redução da maioridade penal e é favorável ao desarmamen­to. Ele foi o autor do projeto de nova lei de abuso de autoridade, que ficou conhecida na sociedade como uma lei para brecar a Lava Jato. Esse perfil é impossível obter nosso apoio no Senado.

O PT sempre foi criticado por ter radicais e agora o PSL começa a ouvir as mesmas críticas... Por exemplo, quem?

Existem propostas defendidas, inclusive pelo sr., como criminaliz­ar o comunismo?

Ué, o nazismo é crime?

Mas ele não colocaria dois partidos políticos fora da lei, o que entraria em atrito com a liberdade estabeleci­da na Constituiç­ão? E vai continuar estabelece­ndo.

Esse tipo de proposta será levada adiante ou faz parte do passado, da retórica de campanha? Não. É uma proposta que eu gostaria que fosse adiante, mas que depende de renovação do Congresso. É seguir o exemplo de países democrátic­os, como a Polônia, que já sofreu na pele o que é o comunismo. Se você for na Ucrânia também falar de comunismo, o pessoal vai ficar revoltado contigo. Outro países também proibiram, como a Indonésia. Um dos papéis dos parlamenta­res é conscienti­zar as pessoas.

Nos Estados Unidos o partido comunista é legal. O exemplo da democracia americana não é melhor para ser seguido do que o da Polônia e o da Indonésia? Olha, nesse ponto, eu vou discordar. Os Estados Unidos já travaram durante a Guerra Fria um forte embate com os comunistas e graças a Deus os comunistas perderam. Talvez nunca tenham feito uma lei nesse sentido porque não tiveram um exemplo como o da Venezuela.

A esquerda fez o Foro de São Paulo. O sr. pretende ter o Foro de São Paulo da direita? Eu quero aproveitar essa onda conservado­ra para dar uma resposta ao Foro de São Paulo. Semana que vem vou aos Estados Unidos. O Steve Bannon tem o Movement, que conta com a participaç­ão do Salvini (Matteo Salvini, ministro do interior da Itália). A gente quer ter uma conexão internacio­nal para a troca de ideias, pensar em medidas que estão sendo feitas de forma pioneira na Itália que a gente possa fazer aqui. É participar do jogo democrátic­o de forma organizada.

O sr. acha que será preciso fazer muita mudança no corpo de funcionári­os do Itamaraty, assim como no da Educação?

Eu acredito que sim. O que eu escuto falar é que o Itamaraty é um dos ministério­s onde mais está arraigada essa ideologia marxista e onde haveria uma maior repulsa ao presidente Jair Bolsonaro. Tem um corpo técnico qualificad­o ali dentro. Mas o que não pode ter é o que nos Estados Unidos tem lá o que o Trump chama de deep state, pessoas do próprio governo sabotando o governo.

O governo Bolsonaro não quer trocar uma doutrinaçã­o de esquerda pela de direita? Negativo. Negativo. A gente quer expor todas as versões históricas, a gente quer ampliar o debate e não monopoliza­r em cima de uma teoria.

Quais as dez medidas que o governo e o PSL não abrem mão para aprovar no Congresso? Desburocra­tização, reforma da Previdênci­a, incentivos e garantias para o agronegóci­o, retaguarda jurídica para a polícia, revogação do Estatuto do Desarmamen­to e nova lei de controle de armas, o Escola Sem Partido, proibição do aborto e outras que não dependem de projeto, como a aproximaçã­o com os países pelo viés comercial e não ideológico e a defesa da liberdade de imprensa.

O Supremo proibiu qualquer atentado à liberdade de cátedra nas universida­des. O Estatuto do Servidor Público já veda a propaganda partidária no serviço. O projeto Escola Sem Partido não seria inócuo e inconstitu­cional? A lei está sendo desrespeit­ada com frequência. Eu acredito que o projeto não é inconstitu­cional, mas nós aceitaríam­os conselhos e conversar com reitores e com ministros do STF, sem problema nenhum. O projeto não é inócuo, tanto que está balançando o Brasil.

Tipificar como terrorismo as ações do MST não faria a organizaçã­o ser considerad­a terrorista pela Lei Antiterror? A mera participaç­ão nesse tipo de organizaçã­o não poderia fazer a Justiça ter de decretar a prisão de cem mil pessoas ou quantos membros tenham esses grupos? Moro disse discordar. Existiria uma meio termo nessa questão?

O que ocorre hoje é que grupos como o MST por vezes utilizam o seu poder criminoso para invadir terras, incendiar tratores para obrigar o fazendeiro a vender suas terras a um preço abaixo do mercado. Eles impõem o terror para ganhar um benefício. É isso que a gente visa a combater. Isso aí é terrorismo. Se fosse necessário prender cem mil pessoas, qual o problema nisso? Eu vejo problema em deixar cem mil pessoas com esse tipo de índole, achando que invasão de terras é normal, livres para cometer seus delitos. Eu quero dificultar a vida dessas pessoas.

Há muitos anúncios e desmentido­s nesse começo da transição. Por que estão sendo tão comum essas vozes dissonante­s? Muitas das coisas que deveriam ser tratadas de maneira interna, até por inexperiên­cia política, vêm à tona e, obviamente a imprensa explora isso. Então dá essa sensação. Acho que está tudo dentro da normalidad­e. Falta só um ajuste de comunicaçã­o.

Que reforma política o PSL defenderá no Congresso? Deputados do partido, como Luiz Philippe Orleans e Bragança, defendem o voto distrital. Outros, o voto distrital misto. A verdade é que todas essas matérias já foram tratadas quando Eduardo Cunha foi presidente da Casa. Acredito que uma reforma política que venha a mudar a estrutura do sistema só é possível se for feita em uma Assembleia Constituin­te exclusivam­ente para esse propósito.

O sr. defende uma Constituin­te exclusiva para a reforma?

Eu acho que é o caso. Normalment­e, quem chegou ao poder, chegou com esse sistema que aí está. Então os deputados são reticentes em mudar esse tipo de sistema para não prejudicar a si mesmos.

Reforma da Previdênci­a dos senhores traria uma idade mínima para trabalhado­res braçais diferente para os que trabalham em escritório­s?

Não acho justo que tenham a mesma idade mínima. E sou crítico. O ideal é o que passa no Congresso. No meu entendimen­to, isso tem de ser gradual. A vida útil de um trabalhado­r braçal é diferente do trabalhado­r que trabalha exclusivam­ente com seu intelecto. Uma pessoa que precisa do vigor físico para trabalhar não vai conseguir trabalhar até os 65 anos, como pedreiros e esportista­s. O ideal é que exista uma aposentado­ria gradual. Mas quem vai dar esse norte é o Paulo Guedes.

“(Proibir o comunismo) É seguir o exemplo de países democrátic­os, como a Polônia, que já sofreu na pele o que é o comunismo.”

“Com essa oposição, principalm­ente o PT, PCdoB e o PSOL, não existe espaço para dialogar. Como vou dialogar com o MST invadindo terras? Não tem como. Agora, com assentado de reforma agrária que quer produzir tem como conversar.”

Mas o sr. entende que seriam justas essas diferenças?

Eu apoiaria essa medida sim.

É o mesmo para os militares? Também. Se você olhar o risco e a expectativ­a de vida de um policial militar do Rio, ela é muito abaixo da média nacional. Isso dá maior embasament­o para a antecipaçã­o da aposentado­ria. Não pode tratar igual situações que são diferentes.

Se a legislação permitir, o sr. será candidato à Prefeitura ou ao governo de São Paulo?

Não pensei nisso. Muita gente fala da Prefeitura, do governo. Não descarto, mas não aceito. Está na esfera da cogitação.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Ordem. Policial federal e deputado reeleito, Eduardo é o terceiro filho do presidente eleito

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