O Estado de S. Paulo

CNJ quer reduzir nº de presos em 40%

Sistema carcerário. Ministro Dias Toffoli, que assumiu presidênci­a do conselho em setembro, também vai estimular soluções alternativ­as, como uso da tornozelei­ra eletrônica; dados do órgão apontam que em agosto Brasil tinha 602,mil pessoas presas

- Rafael Moraes Moura BRASÍLIA

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Dias Toffoli, quer implementa­r uma série de ações para diminuir a população prisional em até 40% na sua gestão, que se encerra em setembro de 2020. Ao priorizar a questão carcerária, ele pretende fazer o cadastro biométrico de todos os detentos do País, retomar mutirões carcerário­s e fortalecer as audiências de custódia. Essa última medida entrou na mira do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) há dois anos, quando apresentou projeto para derrubá-la na Câmara.

“Nossa meta está baseada na decisão do STF que declarou o estado de coisas inconstitu­cional (quadro insuportáv­el e permanente de violação de direitos fundamenta­is a exigir intervençã­o do Poder Judiciário). Dando continuida­de e aprimorand­o políticas de gestões anteriores, no sentido de cumprir essa decisão, vamos reforçar as audiências de custódia e os mutirões carcerário­s, além de intensific­ar o processo eletrônico de execução penal. Tudo isso aplicado de modo sistematiz­ado, coordenado pelo CNJ, nos permite ambicionar o alcance da meta estipulada”, disse Toffoli ao Estado.

Segundo dados do Banco Nacional do Monitorame­nto de Prisões do CNJ, em agosto de 2018 havia 602.217 pessoas no cadastro nacional de presos – os números de São Paulo e do Rio Grande do Sul ainda não foram totalmente contabiliz­ados. O mais recente levantamen­to do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, estimava, em junho de 2016, que havia 726,7 mil detentos no Brasil.

Ao assumir o comando do STF em setembro, o ministro Dias Toffoli acumulou a presidênci­a do CNJ, órgão voltado para o aperfeiçoa­mento do Judiciário. Ele quer retomar os mutirões carcerário­s e combater a superpopul­ação nos presídios – uma das propostas é estimular juízes a adotarem soluções alternativ­as, como o uso de tornozelei­ra eletrônica. As metas de Toffoli foram traçadas assim que assumiu o comando do CNJ, em 13 de setembro, antes

de Jair Bolsonaro (PSL) ser eleito presidente da República.

Durante a campanha, Bolsonaro disse que “essa história de presídio cheio” é problema “de quem cometeu o crime”. O programa de governo do próximo presidente defende a redução da maioridade penal de 18 anos para 16 (depois ele falou em 17) e o fim da progressão de penas e das saídas temporária­s – duas propostas que encontram forte resistênci­a no STF.

Conselheir­os do CNJ ouvidos pelo Estado acreditam que

as “bravatas” de Bolsonaro ficaram para trás e elogiam o tom mais moderado do discurso do presidente eleito. Toffoli e Bolsonaro se reuniram na última quarta-feira na sede do STF, em encontro que serviu para “distension­ar o ambiente”, de acordo com integrante­s da Corte.

Controvérs­ia. Um dos pilares do plano de Toffoli para reduzir o total de detentos, as audiências de custódia são contestada­s pelo deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito, que apresentou em 2016 proposta na Câmara para anular resolução do CNJ que instituiu a medida. Essas audiências garantem a apresentaç­ão do preso a um juiz no prazo de 24 horas, nas prisões em flagrante. Nelas, o magistrado confere eventuais ocorrência­s de maus tratos e avalia se a prisão deve ou não ser mantida – Ministério Público e Defensoria Pública também são ouvidos.

“Mutirões carcerário­s e audiências de custódia já demonstrar­am que têm potencial, não para provocar descalabro na sociedade, mas simplesmen­te para melhor selecionar aqueles que devem permanecer afastados do convívio social”, afirmou o juiz auxiliar Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi, coordenado­r do Departamen­to de Monitorame­nto e Fiscalizaç­ão do Sistema Carcerário e do Sistema de Medidas Socioeduca­tivas do CNJ.

Ao encaminhar a proposta à Câmara, Eduardo Bolsonaro alegou que as audiências estabelece­m uma “inversão de valores e papéis”, em que agentes responsáve­is pelas prisões passam a ser investigad­os, enquanto bandidos “foram travestido­s de vítimas em potencial”. Lanfredi ressalta que as audiências de custódia não servem para colocar em liberdade estuprador­es ou assassinos, mas pessoas que eventualme­nte cometeram infrações de menor potencial ofensivo. Para o coordenado­r do CNJ, as audiências de custódia e os mutirões carcerário­s ajudam a evitar situações de injustiça.

Em 2017, disputas de facções em presídios levaram a massacres com mais de 120 mortos em Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte. Na semana passada, a Procurador­ia-Geral da República pediu intervençã­o federal no sistema prisional de Roraima, por riscos de colapso.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-8/11/2018 Expectativ­a. Presidente do STF, ministro Dias Toffoli planeja fazer cadastro biométrico de todos os detentos

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