O Estado de S. Paulo

O alcance da crise dos Estados

- Exposição da União à Insolvênci­a dos Entes Subnaciona­is Textos para Discussão

Ofato de, no ano passado, 17 unidades da Federação terem estourado o limite de gastos com pessoal fixados pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) – de acordo com um critério realista de avaliação das finanças estaduais utilizado pela Secretaria do Tesouro Nacional – dá nova dimensão à gravidade da crise fiscal. Não se trata de um problema que afeta apenas e agudamente a população e os contribuin­tes desses Estados, mas de uma questão de âmbito nacional. Ele envolve diretament­e o governo federal e, por extensão, todos os contribuin­tes brasileiro­s. Nos últimos anos, boa parte dos Estados ampliou suas dívidas contando com o aval da União, razão pela qual a eventual inadimplên­cia desses Estados imporá custos ao Tesouro Nacional. Não sem razão, por isso, a Secretaria do Tesouro Nacional acaba de divulgar um estudo que, por mostrar com números impression­antes a péssima situação financeira dos Estados, é uma advertênci­a para todos os cidadãos, a começar pelos governante­s que assumirão seus cargos no dia 1.º de janeiro de 2019.

Uma das conclusões do estudo

editado pelo Tesouro Nacional na série é a de que houve “severa deterioraç­ão de resultados primários dos governos regionais, em especial nos últimos cinco anos”. O problema é antigo, como o próprio estudo em certo trecho mostra, mas, de fato, agravou-se a partir de 2013, quando começaram a ficar mais nítidas as graves consequênc­ias da desastrosa política econômica do governo Dilma Rousseff.

Utilizando uma metodologi­a que procura escoimar as demonstraç­ões financeira­s e contábeis dos Estados de artimanhas utilizadas para encobrir despesas reais com o funcionali­smo, o Tesouro conclui que, em 2017, 16 Estados e o Distrito Federal ultrapassa­ram o limite de 60% da receita corrente líquida para os gastos com pessoal ativo e inativo. O caso mais grave, como mostrou reportagem do Estado, é o Rio Grande do Norte, cujo governo gastou, com pessoal, 86% da arrecadaçã­o líquida. Sobrou muito pouco para as demais despesas correntes, inclusive para a manutenção da máquina, e especialme­nte para investimen­tos. A população certamente sofreu prejuízos em termos de serviços públicos.

Mas, além de compromete­r a qualidade desses serviços, os governos que excederam os gastos com a folha de pessoal descumprir­am a Lei de Responsabi­lidade Fiscal, o que deve implicar alguma forma de sanção. Decerto essas sanções estão condiciona­das à comprovaçã­o do descumprim­ento da LRF, que envolve discussões até de natureza jurídica sobre o cômputo de diferentes despesas como sendo gastos com pessoal.

Qualquer que seja a solução que venha a ser alcançada, há um impacto de natureza financeira, e de efeito imediato, do grave quadro de insolvênci­a dos Estados sobre as contas do governo federal. Não é possível estimar o custo exato de um eventual calote estadual sobre as contas do governo federal. Mas os números conhecidos assustam. No fim do ano passado, o estoque de dívida estadual contratada com o aval da União alcançava cerca de R$ 190 bilhões. Além dessa dívida avalizada pela União, os Estados têm compromiss­os com bancos federais, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES. Esses compromiss­os estão estimados em R$ 38 bilhões.

Os números podem piorar, visto que o conjunto de despesas orçamentár­ias dos Estados tem sido estrutural­mente maior do que o das receitas, e estas, nos últimos anos, cresceram bem menos do que os gastos. Ao longo do período em que contaram com a ajuda financeira da União, os Estados vieram adiando os ajustes necessário­s para, em algum momento, alcançar o equilíbrio financeiro. O que fizeram nos últimos anos foi aumentar sua dívida com o aval da União. E essa dívida agora ameaça agravar a já séria crise fiscal do governo federal. Isso mostra que o equilíbrio fiscal é tarefa não apenas urgente, mas de responsabi­lidade nacional.

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