O Estado de S. Paulo

Especialis­tas dizem que meta é ‘otimista’

- Felipe Resk

Especialis­tas em segurança pública afirmam que a meta do ministro Dias Toffoli de reduzir o número de presos no Brasil é “muito otimista” e dificilmen­te será cumprida até 2020. Para eles, a eficiência dependerá do aprimorame­nto dos mutirões carcerário­s, além de investimen­tos como a compra de tornozelei­ras eletrônica­s, pouco provável diante da crise econômica.

Ex-diretora de políticas penitenciá­rias do Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen), Valdirene Daufemback lembra que mutirões foram feitos em gestões anteriores, mas só resultaram em solução pontuais. O grosso das decisões acabou emperrado na burocracia do Judiciário. “Se houver uma renovação, com mais participaç­ão direta dos juízes e processos informatiz­ados, então há chance de ser eficiente”, diz Valdirene.

A ex-diretora também cita pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), de 2016, que aponta que 40% dos presos provisório­s no País poderiam estar cumprindo medidas cautelares – ou seja, não precisaria­m estar em sistema fechado. “A meta é otimista, mas é possível se houver um esforço conjunto em relação a esses preso provisório­s.”

Penas alternativ­as. Rafael Alcadipani, professor da Escola de Administra­ção de Empresas de São Paulo (Eaesp), da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que a meta é “audaciosa e dificilmen­te será cumprida”.

Para ele, é preciso investir em penas alternativ­as. “Hoje, a possibilid­ade de execução de medidas cautelares é baixíssima no Brasil: falta até tornozelei­ra eletrônica. Cada preso deve cumprir uma pena adequada ao crime ou estaremos promovendo um perdão judicial”, diz.

De acordo com o especialis­ta da FGV, outra dificuldad­e seria política: “Na eleição, a população votou no inverso do desencarce­ramento”.

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