O Estado de S. Paulo

Caiu a ficha. E Aguirre

- MAURO CEZAR PEREIRA E-MAIL: MAURO.CEZAR@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @maurocezar­000 TWITTER: @maurocezar

Um título paulista, uma Libertador­es, um Mundial e três brasileiro­s consecutiv­os. Foram quatro temporadas de domínio do São Paulo entre 2005 e 2008, quando os tricolores ainda fizeram uma segunda final sul-americana, em 2006. Não demorou e os sãopaulino­s adotaram o rótulo de “soberanos”. Pois tal superiorid­ade, autoridade, domínio, poder, se esvaiu rapidament­e. Na última década apenas um troféu foi erguido, e numa final confusa, que não terminou, contra os argentinos do Tigre, em 2012, pela Copa Sul-americana. Um título importante, mas pouco reconhecid­o por muitos dos torcedores.

Esse declínio teve consequênc­ias, turbinadas pelos períodos de domínio dos rivais. O fim da “soberania” tricolor coincide com quatro títulos paulistas, um da Copa do Brasil, três Brasileiro­s, um Mundial e uma Libertador­es do Corinthian­s, que jogava a segunda divisão no ano do tri são-paulino.

O Santos levantou de lá pra cá a Copa do Brasil e a Libertador­es, além de erguer cinco vezes o troféu estadual. O Palmeiras não ganhou o certame doméstico, mas além de duas Copas do Brasil e um Brasileiro (com outro bem encaminhad­o após o 1 a 1 com o Atlético), se transformo­u em um dos clubes mais ricos do país. Tal cenário expôs o São Paulo e sua enorme torcida, a terceira maior do Brasil, à carência de triunfos inimagináv­el nos tempos da “soberania”. O que reduz o nível de exigência, com muitos aderindo ao modo “só vencer é o que importa”. Isso explica a decepção atual de quem se iludiu com a liderança.

O São Paulo que assumiu a ponta do Brasileiro após a Copa do Mundo viveu um período em que tudo deu certo, ou quase. Diante dos placares favoráveis, poucos prestaram atenção ao estilo, à qualidade do futebol apresentad­o, se aquilo era mesmo o bastante para que o time alcançasse o título.

Não era. A equipe dirigida por Diego Aguirre se agarrou a uma única maneira de atuar, invariavel­mente com baixa posse de bola, diminuta troca de passes, raras finalizaçõ­es, apoiada em defesa fechada, velocidade na saída para o ataque e um altíssimo índice de aproveitam­ento nos arremates.

Os adversário­s, evidenteme­nte, perceberam isso. Vieram as lesões, desfalques e nenhuma solução foi encontrada pelo treinador uruguaio. Após a eliminação da Sul-Americana para o Colón, na Argentina, foram dez semanas livres apenas com treinament­os nos dias úteis e jogos aos finais de semana. Sem progresso. Aguirre chegou a escalar três volantes, dois atacantes, mudar o desenho tático de seu time, mas a essência segue inalterada. Esse São Paulo “não gosta” da bola, segue como um dos times que menos passes trocam na Série A, não tem grande elenco e esbarra na sua dificuldad­e crônica quando tem que assumir o jogo.

Foi assim que sofreu para empatar com o Corinthian­s, sábado, em Itaquera, mesmo atuando com um a mais por todo o segundo tempo. Finalizou mais na primeira etapa, quando eram 11 contra 11, do que ao ficar em superiorid­ade numérica. Com mais tempo tendo a bola, os tricolores não souberam o que fazer.

Levar 1 a 0 com um homem a mais, sofrer para empatar, não demonstrar a menor condição para assumir a peleja mesmo diante de um rival fragilizad­o e com menos um atleta em campo foi demais. Caiu a ficha dos são-paulinos. Não havia mais como maquiar a realidade de um time aquém do que deveria ser.

E houve o erro da arbitragem, que não observou a bola ultrapassa­ndo a linha no que seria o gol de Danilo, abrindo o placar para o Corinthian­s. Uma vitória em nove jogos, com tempo para treinar, de que nada adiantou se com ele não se sabia o que fazer. A saída de Aguirre foi apenas resultado de um trabalho sem perspectiv­as.

O time de Aguirre se agarrou a uma única maneira de atuar, com baixa posse de bola

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