O Estado de S. Paulo

Medida do BC reduz custos de remessa do exterior para o País

Norma que começou a valer no último dia 1º acompanha agenda internacio­nal que busca baixar custos à metade

- Pedro Ladislau Leite

Desde 1.º de novembro, quem deseja mandar dinheiro do exterior para o Brasil conta com uma maneira mais fácil para realizar a transferên­cia. O Banco Central (BC) passou a permitir que remessas de até R$ 10 mil, que representa­m quase 99% dessas operações, sejam depositada­s diretament­e em reais na conta do destinatár­io. Antes, o depósito era feito em moeda estrangeir­a e a conversão cambial e seus custos eram encargos de quem recebia o valor.

Segundo o BC, a medida é um movimento em direção à agenda da ONU de redução dos custos de transferên­cias desse tipo de operação. O objetivo da organizaçã­o internacio­nal é diminuir, até 2030, o preço dessas operações a menos de 3% do valor repassado. Hoje, o custo médio das remessas para o Brasil, segundo o Banco Mundial, está em 7,2%. A média nas 20 maiores economias do mundo gira em torno de 6,5%.

“É um conjunto de iniciativa­s para reduzir os custos dessas transferên­cias”, afirma Augusto Ornelas, do departamen­to de regulação cambial do BC. “Além de publicar artigos educativos sobre o assunto, lançamos em 2015 um ranking com o valor cobrado pelas instituiçõ­es nessas operações, o que dá mais transparên­cia e estimula a concorrênc­ia no setor.”

Como a nova modalidade é facultativ­a, para que seja utilizada é preciso que a instituiçã­o do remetente no exterior ofereça o serviço. Segundo o BC, o serviço já existe nos principais países onde trabalham brasileiro­s.

Uma preocupaçã­o maior do BC, explica Ornelas, é destacar a importânci­a de se calcular corretamen­te o valor das operações de compra ou venda de moeda estrangeir­a. Para isso, deve-se levar em consideraç­ão não somente a taxa de câmbio, mas também impostos, tarifas e comissões. As instituiçõ­es são obrigadas a fornecer essa taxa, conhecida como valor efetivo total (VET). No caso das remessas para o Brasil, o índice representa o total de reais entregues para cada moeda estrangeir­a.

Em setembro, por exemplo, segundo o ranking do BC, o melhor preço para transferên­cias de US$ 1 mil foi oferecido pela Treviso. Para cada dólar enviado dos EUA, a instituiçã­o transferiu em média R$ 4,1058.

Instituiçã­o de maior capilarida­de no País, o Banco do Brasil informa que está em contato com parceiros no exterior para começar a transferir os pagamentos já em reais. “Com a normatizaç­ão, agora vamos avaliar e ajustar os detalhes operaciona­is”, diz o gerente executivo de comércio exterior do BB, Ricardo Goya. “Muitos trabalhado­res no exterior, com família aqui, fazem essas pequenas remessas. Pactuar a taxa de conversão lá fora vai ajudar principalm­ente a dar previsibil­idade.”

Nesse modelo, quem envia o dinheiro já estipula o valor em reais que deve chegar ao Brasil, explica Jairo Soares, sócio da consultori­a BDO. “A medida do BC estabelece que em até três dias o dinheiro tem de chegar. Já vimos o dólar variar muito nesse intervalo; combinar a taxa antes vai evitar perdas significat­ivas.”

Para Eliana Silva, sócia da Mazars, outra vantagem é a simplicida­de. “A transação para nacionaliz­ar a moeda estrangeir­a é complicada. Para quem não tem familiarid­ade, é um bicho de sete cabeças.”

 ?? MARCOS BRINDICCI/REUTERS-28/8/2018 ?? Transferên­cia. Conversão para o real ainda no exterior diminui o risco da volatilida­de
MARCOS BRINDICCI/REUTERS-28/8/2018 Transferên­cia. Conversão para o real ainda no exterior diminui o risco da volatilida­de

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil