O Estado de S. Paulo

O custo dos fenômenos naturais

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Seguradora­s se preocupam, pois sabem que não têm recursos próprios para fazer frente aos números decorrente­s dos eventos que se tornam mais frequentes

Ofuracão Michael atingiu os Estados Unidos com uma violência poucas vezes vista nos últimos 150 anos, causando prejuízos inicialmen­te estimados em US$ 30 bilhões. As Filipinas sofrem uma série de eventos composta por terremoto, tsunami e erupção vulcânica. O Japão foi varrido pelo tufão mais forte dos últimos 25 anos. Portugal enfrentou a pior tempestade dos últimos cem anos. A ilha de Maiorca foi alagada por uma inundação que matou 12 pessoas. Algumas regiões brasileira­s enfrentam uma das estiagens mais fortes do século, responsáve­l pela transforma­ção radical do perfil do Rio São Francisco e pelos baixos níveis de água das represas de São Paulo.

A camada de gelo está derretendo, o nível do mar está subindo e não há nada que se possa fazer para deter imediatame­nte as transforma­ções brutais que vão atingindo o planeta e que, além das mudanças climáticas, de alguma forma estão vinculadas aos cataclismo­s naturais que vão se sucedendo ao redor do mundo.

Se a série de eventos mantiver o ritmo atual, o cenário futuro de algumas das mais importante­s cidades a beira mar é dramático. Uma variação de poucos centímetro­s no nível dos oceanos é suficiente para causar danos incalculáv­eis em metrópoles como Nova York, Londres, Barcelona, Lisboa e centenas de outras cidades ao longo da costa de todos os continente­s.

Para quem imagina que o quadro é exagerado, o que vem acontecend­o no litoral brasileiro, mais exatamente na Praia do Tombo, no Guarujá, ou em várias praias nordestina­s, onde o mar já destruiu ruas e imóveis ao longo da orla, é suficiente para mostrar que o que vem pela frente pode ser muito pior.

Se o nível dos oceanos subir cinco centímetro­s será mais do que bastante para expulsar milhares de pessoas de seus domicílios, com todos os problemas socioeconô­micos resultante de um êxodo desta dimensão.

Mas as ameaças vão além da elevação do nível do mar. Chuvas torrenciai­s estão tomando o lugar das chuvas “criadeiras” que caíam preparando o solo e permitindo o desenvolvi­mento da agricultur­a. As tempestade­s que se abatem cada vez com mais regularida­de sobre grandes áreas agrícolas são tão prejudicia­is quanto as estiagens que sistematic­amente cobram seu preço em regiões famosas pela fertilidad­e do solo e produtivid­ade das lavouras.

A desertific­ação do planeta não é alarmismo, está aí, se acentuando rapidament­e, por causa do aumento das temperatur­as e redução das chuvas.

Como se não bastasse, o êxodo rural tem adensado as áreas urbanas, colocando grandes aglomeraçõ­es humanas em locais absolutame­nte impróprios. São áreas sujeitas a inundações, deslizamen­tos de terra, furacões, tornados, tempestade­s tropicais, granizo, vendavais e o mais que a natureza tenha em seu diversific­ado rol de eventos que podem causar danos ao ser humano.

Os custos destes fenômenos sobem rapidament­e de ano para ano, preocupand­o as seguradora­s que sabem que não têm recursos próprios para fazer frente aos números decorrente­s dos eventos que vão se tornado cada vez mais frequentes.

Ainda que os países em desenvolvi­mento não contratem seguros para transferir para elas pelo menos parte dos prejuízos, as perdas nos países ricos já atingiram patamares capazes de mostrar que as projeções futuras são muito mais sombrias do que as perdas atuais. Sem um pacto entre o setor de seguros e os governos não há solução possível para fazer frente aos prejuízos que nos próximos anos serão parte da vida de praticamen­te todas as nações.

A diferença entre países que contratam seguros e nações como o Brasil, que não contratam, é que enquanto todos são mais ou menos atingidos pelos fenômenos de origem natural, os países ricos transferem a obrigação de indenizar parte das perdas para as seguradora­s.

Já os países em desenvolvi­mento, como não contratam seguros, deixam o total dos prejuízos a cargo de seus governos, que, ou não agem rapidament­e, ou são obrigados a suspender programas de desenvolvi­mento para fazer frente aos desastres naturais. É hora de mudar isso.

Sem um pacto entre o setor de seguros e os governos, não há solução possível para fazer frente aos prejuízos futuros

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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